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GERÊNCIA DE TAQUIGRAFIA |
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NOTAS
TAQUIGRÁFICAS |
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Comissão: CPI da Mina Capão Xavier |
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Data: 23/6/2005 |
Hora: 10 horas Duração: 3 horas |
Folhas: 104 |
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Presidente: |
Dep. Márcio
Kangussu |
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Dep. Biel Rocha |
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Deputados: |
Dep. Antônio Júlio Dep. Dinis Pinheiro Dep. Domingos Sávio Dep. Irani Barbosa |
Dep. Fábio Avelar Dep. Adalclever
Lopes Dep. Jayro Lessa Dep. Lúcia Pacífico |
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Participantes: |
Prefeito Waldir
Salvador de Oliveira Sra. Valéria Caldas |
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OBS.: Notas taquigráficas sem revisão dos
oradores. |
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O Sr.
Presidente (Deputado Márcio Kangussu) - Há número regimental. Declaro aberta a 10ª
Reunião Ordinária da Comissão Parlamentar de Inquérito para, no Prazo de 120
Dias, Apurar a Regularidade dos Processos de Licenciamento Prévio, Instalação e
de Operação das Atividades da MBR no Estado de Minas Gerais, bem como do
Julgamento dos Recursos dos Autos de Infração Atribuídos Àquela Mineradora na
3ª Sessão Legislativa Ordinária da 15ª Legislatura. Solicito aos Deputados que
registrem presença nos postos de habilitação.
Com a palavra, o Deputado Dinis Pinheiro, para
proceder à leitura da ata da reunião anterior.
O Deputado
Domingos Sávio -
Solicito dispensa da leitura.
O Sr.
Presidente - Não
havendo quem se oponha ao requerimento do Deputado Domingos Sávio ou quem sobre
a ata queira se manifestar, dispenso a sua leitura, dou-a por aprovada e
solicito aos Deputados que a subscrevam.
Solicito ao nobre Deputado Antônio Júlio que
faça a leitura da correspondência.
O Deputado
Antônio Júlio - (-
Lê:) “Exmo. Sr. Deputado Márcio Kangussu, DD. Presidente da Comissão
Parlamentar de Inquérito da Mina Capão Xavier.
Pelo presente, comunico a V. Exa. que, por
motivos de força maior e totalmente alheios à minha vontade, não poderei comparecer
à reunião para a qual fui convidada.
Na certeza de que essa Comissão conduzirá os
trabalhos priorizando o bem-estar da coletividade, assim como a água como
recurso natural cujo acesso deve ser universalizado, coloco-me à inteira
disposição para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários durante os
trabalhos.
Atenciosamente, Marília Bourchardet.
Telefone: 02124960858. Contato atual.”
Era o que tinha a ser lido, Presidente.
O Sr.
Presidente - Obrigado,
Deputado Antônio Júlio.
Esta reunião tem a finalidade de ouvir o
depoimento dos seguintes convidados: Sr. Waldir Salvador de Oliveira,
Presidente da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais - Amig -; e
Sra. Valéria Caldas, técnica da Copasa.
É necessário que se esclareçam alguns pontos
referentes às comissões parlamentares de inquérito, conforme dispõem os arts.
58, § 3º, da Constituição da República, e 60, § 3º, da Constituição Estadual. A
CPI possui poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. Além
dessa legitimação constitucional, encontramos em artigos do Código Penal e,
notadamente, na Lei Federal nº 1.579, de 18/3/52, a regulamentação dos
trabalhos específicos desta comissão, bem como os deveres e responsabilidades a
que estão sujeitos os que nela depõem. Cumpre ressaltar o disposto no art. 4º,
inciso II, da citada lei: “Constitui crime: I - ...; II - fazer afirmações
falsas, negar ou calar a verdade como testemunha, perito, tradutor ou
intérprete, perante comissão parlamentar de inquérito. Pena, no art. 342 do
Código Penal: reclusão de um a três anos e multa”.
Para regularidade do processo desta CPI, informo
aos Deputados e às testemunhas que as perguntas e respostas devem ter o máximo
de objetividade possível e que um depoente não pode se dirigir diretamente a
outro depoente, a não ser por intermédio da Presidência.
O Sr. Waldir Salvador de Oliveira e a Sra.
Valéria Caldas, na qualidade de testemunhas, estão sob o compromisso de dizer a
verdade, nos termos da lei. Solicito a ambos que, antes de fazer seu pronunciamento
inicial, informem à Mesa a sua qualificação: nome, nacionalidade, estado civil,
profissão e endereço.
Passarei a palavra aos convidados, para suas
considerações iniciais. Posteriormente, serão feitos os questionamentos. Com a
palavra, o Sr. Waldir Salvador de Oliveira.
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Sr. Presidente, Srs. Deputados, meu nome é
Waldir Silva Salvador de Oliveira. Sou administrador de empresa, brasileiro,
solteiro, natural de Itabirito, na Alameda Walmer(?) Abreu Matos, no
84, Centro. Ocupo os cargos de Prefeito de Itabirito e de Presidente da Amig,
empossado há aproximadamente 30 dias.
Convidado por esta Comissão, que discute
questões relativas à Mina Capão Xavier, aqui estou para prestar esclarecimentos
em relação à Amig. Em primeiro lugar, quero dizer que a associação defende os
interesses dos municípios mineradores, apenas isso. Em várias oportunidades, os
municípios mineradores têm afinidades com os objetivos das minerações; em
outras, não. Como exemplo, posso citar a luta ferrenha que estamos travando nos
últimos 60 dias - tendo agora conseguido êxito - exatamente para tirar mais
dinheiro das mineradoras para os municípios. Estivemos com a Ministra Dilma
Roussef, como toda a imprensa noticiou, fazendo uma mudança na forma do cálculo
da CFEM, que vai trazer um acréscimo para os Municípios mineradores, para os
Estados mineradores e para o país, superior a 30%. Isso porque hoje é feita uma
dedução inadequada em relação ao cálculo da CFEM, que permite que as
mineradoras abatam do resultado o transporte interno das mineradoras. Mas, na
verdade, quando sancionada pelo Presidente Collor - à época eu era Prefeito e
também Diretor da Amig -, o que se colocou de forma muito clara em relação à
CFEM foi que as mineradoras tinham o direito de subtrair do valor que arrecadam
em seu faturamento líquido o custo de transporte. Esse custo de transporte é o
custo CIF, o custo FOB - o custo do transporte depois do minério colocado, por
exemplo, nos vagões, até o porto ou do porto até outros países, não do
transporte interno, como as mineradoras vêm fazendo. Atualmente, quando se tira
de uma pilha e joga na outra ou de uma lavra para jogar em um britador, todo
esse custo de transporte interno vem sendo abatido.
Estou dizendo isso para mostrar que a Amig não
tem - falando popularmente - “rabo preso” com qualquer mineradora, como acho
que nenhum Prefeito pode ter, por mais que as mineradoras sejam, como são,
parceiras dos Municípios e que invistam nas campanhas dos Prefeitos. É claro!
São empresas que precisam de bons Prefeitos, para que, com o Município bem
gerido, elas tenham retorno. Essa é a verdadeira parceria entre empresa e
Município: você gere bem e leva qualidade de vida ao cidadão, que vai produzir
bem dentro da empresa, que paga os impostos. Nada além disso.
Conheço bem o processo de Capão Xavier, porque
tenho algumas afinidades com a mineração, e não só agora como Presidente da
Amig. Sou filho de uma cidade mineradora; trabalhei como gerente em uma empresa
do grupo da Vale do Rio Doce e prestei serviço, como consultor, à Vale.
Conheço, na palma da mão, o projeto da Mina do Pico, que foi expandido, sendo
que o Pico de Itabirito foi tombado pelo meu governo, quando fui Prefeito, de
1989 a 1992. Fizemos primeiro um tombamento municipal, com base em um estudo
técnico da Universidade Federal de Outro Preto - UFOP -; depois, fizemos o
tombamento aqui na Assembléia, com os Deputados.
Quanto ao processo de Capão Xavier, conheço-o
ainda mais, porque trabalhei por quatro anos como gerente de projetos e
consultor de desenvolvimento econômico do Município de Nova Lima, e todo o
processo de licenciamento de Capão Xavier, por coincidência - e, posso dizer,
felizmente -, aconteceu no período em que eu era responsável pela condução do
processo de fomento do desenvolvimento econômico do Município de Nova Lima. É
um projeto importantíssimo! E estou falando como Presidente da Amig; como
razoável conhecedor de mineração, com minhas limitações; como ex-conselheiro,
por dois mandatos, da APA Sul, por onde o processo passou; como quem acompanhou
todas as fases do licenciamento - LP, LI e LO -; como quem acompanhou os
estudos feitos, como todos devem saber. Aliás os Deputados, por sua sabedoria,
conhecimento, inteligência e preparo, como se vê pelas pessoas que aqui vieram,
sabem que Capão Xavier deve ter sido o projeto de mineração mais debatido e
estudado do País. Ele levou 10 anos para amadurecer. Desde que entrou na Feam,
para obter LP, até a LO, foram dois anos de debates. Foram realizadas
audiências públicas com mais de mil pessoas no Jardim Canadá, em que se fizeram
todos os questionamentos possíveis e da qual participaram as ONGs ambientais.
Além disso, como é natural - em qualquer atividade econômica, de qualquer
segmento, há os que são apaixonados por ela e os que não gostam dela -,
recebemos, em Nova Lima, todas as agressões possíveis por parte de algumas ONGs
e de determinadas pessoas que achavam que poderiam usar o processo de Capão
Xavier como plataforma política pessoal, porque o discurso do meio ambiente, de
preservação da água e da natureza é o discurso da moda, aliás, como tem de ser.
É isso mesmo: tem de ser da moda, do momento e do futuro. Mas não se pode
exagerar.
O que gostaria de dizer é que, acompanhando
“pari passu” o processo, não temos nenhuma dúvida de que, hoje, o sistema de
gestão ambiental do Estado de Minas Gerais, feito pelo IEF, Igam e Feam, gerido
pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, tem muito rigor. Estou falando com
segurança, porque, no ano passado, fui convidado pelo DNPM, no Ministério das
Minas e Energia, para debater algumas posições em relação aos licenciamentos
ambientais e à mineração no Brasil, e desconheço um sistema de gestão ambiental
mais “cricri”, mais chato, no bom sentido, mais detalhista do que o sistema de gestão
ambiental em Minas Gerais. Aqui, para alguém conseguir licenciamento, tem de
passar por uma “via crucis” insuportável. Quando sou convocado ou chamado a
comparecer à Feam, ao Igam e ao IEF, costumo dizer que, para fazer um
empreendimento em Minas Gerais, o empreendedor tem de ter peito, fôlego, estudo
e bom senso; se não for assim, ele não agüenta, porque é sabatinado, “de cabo a
rabo”, pelo sistema de gestão ambiental mineiro.
Em relação a Capão Xavier, eles cansaram de
achar que poderia haver um prejuízo, por exemplo, no Manancial de Fechos - e a
meu lado está uma doutora, que vai falar pela Copasa. Assim, a MBR foi obrigada
a assinar um contrato, um acordo ou um convênio - não sei qual é o nome - com a
Prefeitura de Belo Horizonte e com a própria Copasa, pelo qual, se viesse a
haver qualquer perda com relação à vazão de água no Manancial de Fechos, ela
teria de indenizar a Copasa não com o preço de água industrial, água bruta, mas
de água tratada. Particularmente, achei que isso era uma loucura, porque a
diferença entre o preço de água bruta e de água tratada, para um consumo como o
da vazão de Fechos, é enorme, e acho que isso só demonstra a segurança que a
MBR tinha, na época, para implantar um empreendimento como esse. Buscaram as
melhores consultorias do mundo inteiro. Um consultor espanhol, escolhido em
parceria com a Copasa, falou a partir da sua experiência como professor da
Universidade de Madri e conhecedor de sistema ambiental e hidrologia em mais de
60 países do mundo. E ele não teria coragem de colocar o nome dele em uma coisa
como essa... Lembro-me de que, à época, nas comissões da Feam, do Igam e do IEF
e outras do sistema mineiro de gestão ambiental, quiseram argumentar que ele
não tinha Crea. Ora, como um sujeito que atua no exterior, em todo o mundo, vai
ter Crea registrado no Estado de Minas Gerais? Isso é até falta de bom senso.
Se temos carteira de motorista no Brasil, isso não significa que a teremos na
América do Norte, na Europa, na Ásia ou seja onde for.
Também gostaria de dizer que a mineração é um
segmento econômico essencial ao desenvolvimento dos municípios mineradores e do
Estado de Minas Gerais. No ano passado, em Minas Gerais, com as mineradoras que
aqui estão, foram, de CFEM, aproximadamente R$100.000.000,00. Dessa quantia, de
acordo com os dados que fiz questão de pegar na Amig, R$65.000.000,00 foram
para os Municípios; R$22.000.000,00 ou quase R$23.000.000,00, para o Estado; e
o restinho para a Federação. Neste ano, a CFEM vai aumentar em mais de 60%. No
mês que vem, por exemplo, os Municípios mineradores começam a ter um acréscimo
na CFEM que vai quase dobrar o valor da arrecadação, por causa do preço do
minério no mercado mundial - o que aconteceu na Ásia e na Europa fez com que o
minério praticamente dobrasse de valor. Então, isso é essencial.
Também quero dizer que, na Amig, a segurança que
temos é que nós precisamos... Estou falando “nós”, de forma abrangente, mas não
gostaria de fugir do foco dos senhores e, se necessário, os senhores me
corrijam, por favor. Mas a nossa decisão na Amig não é brigar com as
mineradoras, mas com o que fazem: se fazem certo, estamos do lado delas; se
fazem errado, estamos radicalmente contra. E o que temos visto na Amig é que as
mineradoras de grande porte têm poder de investimento e investem em gestão
ambiental e nos licenciamentos. O que tem acontecido no Estado, é que,
principalmente as pequenas mineradoras e as que não são de minério de ferro -
como as de areia, as de pedra ardósia, as de granito, as de quartzito e as
bauxita -, essas, sim, vêm dando um prejuízo enorme ao Estado, porque atuam na
clandestinidade e não investem em gestão ambiental. Se os Deputados algum dia
puderem - aliás, essa é uma ajuda que a Amig pede aos senhores, com a
autoridade que têm -, gostaríamos que fizessem algum tipo de CPI para ver o que
está acontecendo hoje com relação à pedra ardósia, à areia, ao granito, ao
quartzito e à bauxita. Teremos de trabalhar por dois anos para tentar consertar
isso. Trabalham na clandestinidade, sem licenciamento ambiental, sem gerar
R$1,00 de tributo para qualquer Município desses. Na Amig, temos de 15 a 20
Municípios que podemos considerar ricos em relação à mineração, principalmente
os de minério de ferro. Mas temos outros 270 paupérrimos, que não recebem quase
nada, sendo que têm mineração todo dia, na cara do Prefeito, mas é operada na
clandestinidade e sem licenciamento ambiental. O DNPM, hoje, não dá conta de
fiscalizar. Aliás, na terça-feira vou a Brasília fechar uma parceira da Amig,
do DNPM e da Receita Estadual, a Fazenda do Estado, para apertar a fiscalização
das mineradoras, para não lhes dar colher de chá. Não sei se os senhores sabem,
mas o DNPM tem, hoje, um único fiscal para fiscalizar mais de 280 cidades
mineradoras do Estado de Minas Gerais. Ou seja, é completamente impossível. A
gente finge que faz fiscalização.
E, embora vocês achem que não, são exatamente as
pequenas que às vezes não tiram nota fiscal. Alguns caminhões vêm dessas
cidades aqui de perto, carregados de ardósia ou de outras coisas, de madrugada,
para não vender nota para os materiais de construção de Belo Horizonte. Coisa
que a mineração de ferro não tem condição de fazer, porque é tudo exportado,
com pauta de exportação. Então, a preocupação da Amig é cada vez mais reforçar
o licenciamento ambiental e a fiscalização em cima das pequenas mineradoras.
Em relação às grandes mineradoras, o que temos
feito, repito, é brigar contra o que estão fazendo de errado e apoiar o que
fazem de certo. Temos pedido que invistam cada vez mais em programas de educação
ambiental, em programas sociais e culturais. Como sempre digo aos colegas
Prefeitos na Amig, que as mineradoras têm obrigação de fazer mineração de
qualidade, ambientalmente correta, socialmente justa e financeiramente
equilibrada. Hoje os Municípios e o Estado recebem pouco comparado ao que elas
podem pagar. Minério nunca deu tanto dinheiro como agora. Por isso, estamos em
Brasília brigando para que o cálculo da CFEM seja feito de maneira
diferenciada. Acreditamos que tanto a MBR quanto a Samitre, a Samarco, a
Ferteco e o Grupo Vale do Rio Doce, que toma conta de tudo isso, têm feito
mineração de qualidade, e, volto a falar, no caso de Capão Xavier, da Mina do
Pico e da Mina de Águas Claras, os licenciamentos ambientais não devem visar
somente o momento, mas, principalmente, o futuro. Na hora em que ocorrer a
exaustão mineral, o que pode acontecer, e não tenho dúvidas disso... Hoje as
mineradoras conseguem aproveitar o que, antigamente, era subproduto da
mineração, como (?) fits, (?) fits, minério ruim e refino. Agora misturam isso,
fazem planta de concentração, e o mundo nunca foi tão comprador de minério, ou
seja, compram e vendem tudo. Pode ser que, com o aproveitamento dos minérios de
baixa qualidade, as minas durem muitos anos; mas pode ser também que, daqui a
60 anos, não haja mais minério. O que faremos? Por isso, os licenciamentos
ambientais - e é isso o que fazem a Feam e o sistema de gestão ambiental
mineiro - devem levar em conta momentos pré-exploração, exploração e
pós-exploração.
Por exemplo, Nova Lima é uma cidade extremamente
abençoada. Um lugar que era um buraco, Mina de Águas Claras, será transformado,
se fizerem tudo certo com licenciamento ambiental e tudo mais, em uma nova
Savassi, com prédios para a implantação de grandes empresas. Isso é o que
chamamos de segunda safra do minério, do emprego definitivo, daquele que não se
acaba. Em Capão Xavier, será a mesma coisa. Tiram o rejeito, cobrem o buraco da
antiga Mutuca e, daqui a pouco, na hora em que essa cava estiver coberta, no
local poderá ser implantada uma nova atividade econômica geradora de emprego e
renda, que nunca mais acabará.
Por isso, acompanhamos “pari passu” Capão
Xavier, e falo isso como Presidente da Amig e ex-Gerente Consultor da
Prefeitura de Nova Lima. Não temos dúvida alguma de que um projeto tão
debatido, tão fiscalizado, tão pesquisado e tão combatido foi feito de maneira
correta, coerente e inteligente. Na Amig, não temos o menor interesse de
apadrinhar qualquer tipo de mineradora que realize qualquer tipo de atividade
mal feita, clandestina, ecologicamente errada, socialmente injusta e o pior,
ainda passando a perna nos Municípios, economicamente. Falo com as mineradoras:
haverá momentos em que estaremos sentados no mesmo lado do balcão e outros em
que estaremos longe do balcão, cobrando delas o que acharmos que deve ser
cobrado para os Municípios mineradores.
Deixo aqui a palavra da Amig de conhecimento do
projeto, de saber que ele está, na nossa opinião, ambiental e socialmente
correto e que não teremos problemas quanto à água. Existe até uma possibilidade
- e todos sabem disso, inclusive os senhores, que, às vezes, têm muito mais
conhecimento que eu, pois debatem o assunto com a autoridade de Deputados e com
o conhecimento da CPI... Não se faz, por exemplo, mineração sem rebaixar o
lençol freático. Isso é bobagem. Como faremos mineração subterrânea? A não ser
que seja mina aflorada, mas a subterrânea, sem rebaixar o lençol freático, é
impossível. A água que hoje é rebaixada aqui, no dia em que não houver mais
mineração, continuará a aflorar e formará um lago, como ocorreu em Águas
Claras, tornando-se uma grande reserva técnica de água para Belo Horizonte. Se
hoje ela é rebaixada e retirada, pode ser também bombeada para outro lado.
Em Capão Xavier, fizeram um acordo com a Copasa.
Para manter o equilíbrio de água junto à empresa, Capão Xavier será obrigada a,
sem qualquer tipo de contaminação da água, fazer um complemento para
estabilizar o nível de água de Fechos, e tudo isso será explicado aqui por uma
pessoa que entende do assunto muito mais que eu, a Dra. Valéria. Falo apenas
sobre o que conheço e acompanhei do projeto. Então, fiquem seguros, Deputados,
de que a Amig apóia o projeto, Capão Xavier e a MBR por termos segurança de
tratar-se de uma mineradora séria. Essa é a opinião da Amig, e coloco-me à
disposição dos senhores para o que for necessário.
O Sr.
Presidente - Obrigado,
Sr. Waldir Salvador.
Com a palavra, a Sra. Valéria Caldas, para suas
considerações iniciais.
O Deputado
Irani Barbosa - Pela
ordem, Sr. Presidente.
O Sr.
Presidente - Deputado
Irani Barbosa, pela ordem ou questão de ordem?
O Deputado
Irani Barbosa - Sr.
Presidente...
O Sr.
Presidente - Pela
ordem, a Dra. Valéria está convidada a depor.
O Deputado
Irani Barbosa - Questão
de ordem, Sr. Presidente.
O Sr.
Presidente - Com
a palavra, o Deputado Irani Barbosa, para questão de ordem.
O Deputado
Irani Barbosa - Por
questão de ordem, desejo aproveitar a explanação feita pelo Prefeito de
Itabirito, um grande conhecedor da área mineradora, ex-assessor da Prefeitura
de Nova Lima e um homem que trabalhou com o nosso amigo Vítor Penido, a quem
respeito. Desejo apenas fazer uma complementação a respeito do que ele disse,
para que o assunto fosse explicado aos senhores, pois terei de me ausentar por
um instante.
O Sr.
Presidente - Será
só uma consideração.
O Deputado
Irani Barbosa - Por
questão de liberalidade de V. Exa.
O Sr.
Presidente - Pois
não, Deputado.
O Deputado
Irani Barbosa - Prefeito
Waldir, gostaria de fazer algumas considerações. Você era o responsável técnico
das minerações na época do desastre da Mineração Rio Verde. Naquele momento,
confesso que, pela minha ignorância quanto à mineração, fui pego de surpreso.
Parece-me que o desastre ocorreu em uma barragem de rejeitos. Salvo melhor
juízo, a barragem de rejeitos não era, na realidade, uma barragem de rejeitos,
mas uma cava de mineração extinta. Quando você diz que a cava da Mutuca está
sendo recomposta pelo rejeito da Mina Capão Xavier - e sempre menciono aqui a
cava da mineração de Águas Claras -, desejo apenas uma complementação da sua
explicação, porque teremos outro provável desastre com a cava da Mutuca, onde
será colocado material estéril instável. Também teremos dentro da cava de Águas
Claras um lago, e não existe nenhum outro no Brasil com a sua profundidade.
Será umedecido todo o maciço da Serra do Curral, e, portanto, poderemos ter um
desastre ambiental de proporções incalculáveis, que levará a cidade onde você,
durante um bom tempo, ganhou a vida auxiliando a população e realizando um trabalho
público. Estamos diante de um dos maiores desastres ambientais prováveis de
ocorrer em um futuro muito próximo. Então, desejo saber se isso é mineração
responsável ou conluio de Prefeituras, a fim de conseguir vantagens momentâneas
não só para o erário municipal, como também para a política momentânea, nesses
tempos difíceis por que passamos. Era isso o que gostaria de dizer e deixo
também, Sr. Presidente, um requerimento em que solicito cópia do Conselho da
APA-Sul quanto à mineração Capão Xavier e do Conselho do Parque do Rola-Moça
quanto a Capão Xavier e cópia da ata da audiência pública realizada no Jardim
Canadá sobre a permissão de mineração no Jardim Canadá. Era só isso.
O Sr.
Presidente -
Obrigado, Deputado Irani Barbosa.
Sr. Waldir Salvador, o senhor poderá se
manifestar sobre as colocações do Deputado Irani Barbosa logo após as palavras
da Sra. Valéria Caldas e do relator.
Com a palavra, a Sra. Valéria Caldas.
A Sra.
Valéria Caldas Barbosa - Bom dia, Deputados, sou brasileira, residente em Belo
Horizonte, na rua Prof. Arduíno Bolivar, 150 - apto 01, Bairro Santo Antônio.
Sou geóloga formada pela UFMG, trabalho há 15 anos na Copasa e participei,
desde o início, da discussão técnica do projeto da mina Capão Xavier, dos
estudos que avaliaram os impactos ambientais das atividades minerárias nos
mananciais da Copasa. Estou à disposição para maiores informações.
O Sr.
Presidente - Com
a palavra, o Deputado Domingos Sávio, relator, para seus questionamentos.
O Deputado
Domingos Sávio -
Sr. Waldir, antes de iniciar meus questionamentos, até para que haja uma
seqüência no andamento da reunião, quero deixá-lo à vontade para fazer uma
complementação à fala do Deputado que me antecedeu. Ele fez, ao mesmo tempo,
considerações e perguntas. Todas as informações que pudermos ter para o
andamento da Comissão serão bem aceitas.
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Quero dizer ao Deputado que recebemos esse tipo
de pergunta com muito prazer. Se na nossa família existem bons e maus, imaginem
na política. É claro que toda atividade econômica tem relação com o poder
público, só que as relações não podem ser espúrias e debaixo dos panos.
Queremos uma relação com o setor econômico muito clara e aberta. O setor
econômico é que faz com que tenhamos condições de estar aqui, agora. É a
economia que paga o poder público.
O caso da mineração Rio Verde, onde aconteceu
aquele desastre ecológico grave, apesar de não ser o foco, irá ajudar-nos a
ilustrar o segmento mineral. Há uma preocupação, como disse o Deputado, com o preenchimento
da cava da Mutuca e com o preenchimento, com água, da antiga cava da MBR, que
hoje está preenchendo um lago que pode ser usado com reserva técnica ou até de
forma contemplativa para o empreendimento que ali será levantado. Com relação
ao desastre ecológico na mineração Rio Verde, talvez por uma falta de
fiscalização eficiente, porque quem pode fiscalizar o meio ambiente é a
Secretaria de Estado do Meio Ambiente, por intermédio da Feam, esse desastre
tenha ocorrido. Quando é feita uma barragem como aquela, que tem alteamento, é
preciso ter aparelho para fazer o acompanhamento. Acredito que o desastre não
pode ser atribuído apenas à fatalidade, talvez um acompanhamento mais preciso
conseguisse evitar que acontecesse. Mas não podemos colocar a mineração como a
grande vilã e os donos como responsáveis, até porque e mineração Rio Verde é
muito pequena, e os donos são sócios operadores que trabalham na mineração e
poderiam ter sido mortos naquele acidente. Eles não são como os sócios da MBR
que vêm aqui apenas pegar resultados. Foi um desastre que poderia ter sido
melhor acompanhado, mas temos que usar esses exemplos para que as coisas não
continuem acontecendo.
Com relação à cava de Águas Claras, para
conseguir umedecer o maciço que existe na divisa da Serra do Curral e trazer
algum problema para Belo Horizonte ou Nova Lima, será mais fácil acontecer
algum outro tipo de enchente em Belo Horizonte. Não sou hidrólogo nem geólogo,
mas aprendi e escutei de quem sabe mais do que eu que é impossível algum tipo
de desastre ecológico ali. Com relação à Mutuca, acontece a mesma coisa. A
mineradora fará daquilo o que quiser, principalmente com o metro quadrado, que
custará uma fortuna daqui a um tempo, porque a RMBH está quase toda
comprometida com empreendimentos imobiliários. Faço questão de dizer que
empreendimentos imobiliários causam muito mais desastres ambientais do que
mineração, porque o foco do problema ambiental é a cava. Um loteamento malfeito
traz muito mais problema social do que qualquer mineração. A Mutuca está sendo
preenchida com o rejeito que virá de Capão Xavier, sem nenhum risco e com visão
de futuro, para não ser transformada em outra área nobre, já que está próxima à
região Sul de Belo Horizonte.
Tem toda
a razão o Deputado Irani Barbosa. É preciso ter essa preocupação. As
Prefeituras não podem fazer conluio com as minerações. Na política, somos
apenas gerentes temporários do Município. É preciso haver uma relação
respeitosa entre o Poder Executivo e o empreendedor. Falarei, com muito respeito,
mas ai de nós se não fossem as mineradoras: estaríamos quebrados, falidos, de
pires na mão, pedindo ao Estado para mandar ambulância e cesta-básica. Quem
sustenta as cidades mineradoras, economicamente falando, são as mineradoras.
Cabe aos Prefeitos pegar os recursos que vêm da mineração e diversificar a
atividade econômica do Município para cada vez dependermos menos da mineração,
como no caso de Nova Lima, onde a mineração já não é mais a principal atividade
econômica. Em Nova Lima, há condomínios, prestação de serviços e pequenas
empresas de atividades turísticas que superam a mineração. O “royalty”, que é a
compensação financeira de exploração mineral que vai para os Municípios, foi
instituído pelos Deputados Federais para que os Prefeitos diversifiquem as
atividades econômicas de suas cidades para, no futuro, não virarem
cidades-fantasmas, como aconteceu com Nova Era, quando acabou a mina de
Piçarrão. Não temos conluios, temos respeito pelas mineradoras, temos com elas
a relação que deve existir entre o poder público e as atividades econômicas. Se
algum dia tivermos que comprovar essa relação em uma CPI instalada para essa
finalidade, acharei ótimo. Estamos prontos para mostrar a vocês o que elas
significam para os nossos Municípios. As mineradoras têm um efeito muito grande
na cadeia produtiva dos Municípios. Em Itabirito, temos três ou quatro empresas
prestadoras de serviço, e cada uma delas tem de 300 a 400 empregados, gerando
empregos indiretos para as mineradoras. Não existe conluio, mas uma relação
verdadeira e clara. Se existe alguma relação inadequada por baixo dos panos,
infelizmente não podemos responder por isso. Boa e má índoles existem em todo
lugar, faz parte do ser humano. A nossa relação é clara e transparente. Sabemos
que, em certas horas, precisamos estar contra as mineradoras, mas não podemos
desprezar o segmento que faz os maiores investimentos no Estado de Minas
Gerais. As mineradoras participam do Senai, do Cefet. Metade do território de
Nova Lima pertence a duas mineradoras: MBR e Morro Velho. Essas mineradoras têm
47% do território de Nova Lima e mineraram apenas 2%. Ficaram preservados 45%.
Não tenho dúvida de que, se Nova Lima não tivesse a MBR e a Morro Velho, a
população, ao invés de 70 mil, seria de 300 a 400 mil habitantes de baixa
renda, por invasão. Elas preservaram e estão dando uma destinação mais nobre às
suas terras.
Estou à disposição para qualquer pergunta. Essas
perguntas não nos inibem, e os Deputados estão aqui para isso.
O Sr.
Presidente - Com
a palavra, pela ordem, o Deputado Antônio Júlio.
O Deputado
Antônio Júlio -
Sr. Presidente, o discurso do Prefeito de Itabirito não é o objetivo da CPI.
Ele está defendendo uma mineração que nós também defendemos. O que estamos
discutindo não é a questão econômica. Não estamos dizendo que, se a MBR
construir uma praça, ela pode acabar com a água de Belo Horizonte. Estamos
querendo discutir o não-cumprimento da Lei nº 10.793. Não estamos preocupados
com a mineração de Itabirito ou de Brumadinho. Não é essa a discussão da Comissão.
Estamos levantando suspeitas de que houve facilitação do licenciamento da Mina
Capão Xavier. Todos os indícios levam a isso. Quando o Prefeito disse que uma
empresa espanhola não precisa de Crea, sabemos disso desde o início. De acordo
com a MBR, foi feito estudo de impacto ambiental na Espanha. Fomos lá
verificar. Gostaria que discutíssemos o assunto a que nos propusemos. Não somos
contra a mineração. Somos contra o licenciamento da Mina Capão Xavier.
O Deputado
Domingos Sávio -
Deputado Antônio Júlio, estou surpreso com sua colocação. Quero ponderar aqui,
Sr. Presidente, que me surpreende o depoimento que o senhor deu à TV
Assembléia, fazendo alusões de como poderia ser o relatório desta Comissão.
Isso nos deixa perplexos. O Frei esteve presente e falou por mais de uma hora.
Em um dado momento, quando o Presidente indagou se ele poderia agilizar, V.
Exa. e os demais Deputados concordaram; e eu, como relator, de maneira
paciente, ponderei que ele deveria falar tudo que soubesse sobre o assunto. O
Frei, além de fazer considerações sobre a mina, brindou-nos com reflexões de
ordem espiritual. Fez suas considerações de ordem pessoal, a contestação e o
protesto. V. Exa. entendeu que ele deveria falar mais. Quando recebemos um
Prefeito, Presidente de uma entidade que trabalha com a mineração em Minas
Gerais, homem com uma história de 20 anos ou mais dedicados à atividade
pública, com moral ilibada, respeitado não só pelos munícipes que o elegeram,
mas também pelos mineiros que o elegeram Presidente de uma entidade importante
de Minas, que nos dá informações sobre aquela mina e faz correlação com outras
que V. Exa. e o Deputado Irani Barbosa trouxeram ao debate, V. Exa. diz que ele
estaria fugindo do assunto ou fazendo defesa das mineradoras.
Sr. Presidente, quero aproveitar para perguntar
se o Deputado Antônio Júlio entende que este relator só será insuspeito se
fizer um relatório que atenda à sua vontade como Deputado estadual.
O Deputado
Antônio Júlio -
Esta CPI é uma CPI chapa branca.
O Sr. Presidente - Deputado Antônio
Júlio, a palavra está com o relator. V. Exa. terá tempo necessário para
rebatê-lo, no momento apropriado para isso.
O Deputado
Domingos Sávio - Sr.
Presidente, ele não admite, mas pode fazer suspeição sobre os outros.
O Deputado
Antônio Júlio - Procure
saber o que eu disse, antes de dizer qualquer coisa.
O Deputado
Domingos Sávio - Ele
pode afirmar que a CPI é chapa branca, e que, dependendo do relatório, ficará
comprovada a suspeição, se o relatório não atender ao que ele sente, ao que
pensa e ao que quer acusar. Fica muito claro que alguns, ao invés de fazerem
uma análise imparcial, de aprofundarem-se sobre uma discussão séria que envolve
questões ambientais, sociais, econômicas e legais, que devem ser analisadas com
sobriedade, tranqüilidade e imparcialidade, querem que a condução se dê da
seguinte forma: eu sou contra, meu partido é contra, já nos manifestamos
publicamente, e, se o relatório não for dessa forma, estará sob suspeição.
Não aceito esse tipo de posicionamento. Desde o
primeiro momento, coloquei toda minha vida, não só meu comportamento como
Deputado, de maneira absolutamente aberta. Defendi isso na tribuna por outras
razões, até porque o Brasil vive um momento que tem de ser passado a limpo.
Reitero que, como relator desta Comissão, minha vida pública e pessoal está
absolutamente aberta. Meu sigilo bancário está à disposição desde quando meu
pai me emancipou, aos 16 anos de idade, para ter um pequeno negócio em
sociedade com um irmão mais velho. Da mesma forma, coloco à disposição meu
sigilo fiscal, telefônico e patrimonial, porque entendo que devo ser insuspeito
para ser relator de uma CPI, e também para exercer a vida pública.
A CPI é coisa séria. Não queremos que Minas, em
momento algum, transforme CPI em pizza, nem, como já disse na reunião passada,
em fogueira de inquisição. Não queremos, de maneira alguma, que Minas caia
perante a opinião pública nacional, como vimos em alguns noticiários envolvendo
Assembléias de outros Estados, onde dizem existir uma indústria de CPIs para
criar dificuldades e depois vender facilidades, com composições previamente
estabelecidas. Não aceito isso. Só aceitei relatar essa matéria porque entendo
que o assunto é sério, merece ser analisado e tratado com imparcialidade.
Portanto, Sr. Presidente, quero passar às
perguntas ao nosso depoente, e o farei com tranqüilidade, da mesma forma que o
fiz quando vieram aqui pessoas para acusar e dizer que são contra, e que foram
ouvidas durante o tempo necessário. É um desserviço à CPI dizermos que o Prefeito
está divagando. O Prefeito falou apenas sobre mineração e exploração de
indústrias ligadas à mineração, e, no meu entendimento, foi muito feliz ao
dizer que ele, como homem público, relaciona-se com as mineradoras de forma
transparente, aberta e com o conhecimento do povo. É assim que esperamos que as
coisas sejam conduzidas.
O Sr.
Presidente - Quero
dizer aos Deputados Domingos Sávio e Antônio Júlio, que levantaram a questão de
ordem sobre o depoimento do nosso convidado, Sr. Waldir, que vou ler mais uma
vez o requerimento que deu origem a esta CPI.
(- Lê:) “Os Deputados que este subscrevem, na
forma regimental do art. 112 do Regimento Interno da Assembléia Legislativa,
considerando que os procedimentos de licenciamento para exploração de atividade
minerária no Estado de Minas Gerais têm sido objeto de intenso debate entre a
população, a sociedade organizada, os poderes constituídos pelo mandado
popular...”
Acredito, Deputados Antônio Júlio e Domingos
Sávio, que esse parágrafo dá autoridade para as palavras do Sr. Waldir. Além
disso, houve debates feitos pela comunidade. É importante ouvirmos os segmentos
das cidades mineradoras sobre esta CPI, o relator e todos nós, para depois
emitirmos um conceito mais verdadeiro sobre as atividades da MBR e Capão Xavier.
Assim saberemos se está correto ou não, se devemos propor alguma modificação,
algum acordo ou até mesmo melhorar a legislação estadual. Portanto as palavras
do nosso convidado são pertinentes ao assunto.
Com a palavra, pela ordem, o Deputado Fábio Avelar.
O Deputado
Fábio Avelar - Fui
o autor do requerimento, aprovado por todos os membros desta Comissão, para
trazer o nosso convidado, o Prefeito Waldir, que compartilhou sua experiência.
Acho interessante ouvirmos o depoimento de um Prefeito que tem essa atividade,
que atuou nessa área no Município de Nova Lima e que representa mais de 300
Municípios mineradores. Não achamos que esse depoimento fugiu do objetivo desta
CPI, pelo contrário, o Prefeito está contribuindo muito com nosso trabalho.
Quero fazer coro com as palavras do Deputado
Domingos Sávio. Seria interessante falarmos sobre a questão regimental da CPI.
É bastante constrangedor não só para os Deputados presentes, mas até mesmo para
quem nos assiste pela TV Assembléia, ouvir afirmações como a do Deputado
Antônio Júlio, colocando em suspeição as pessoas que vêm aqui livremente. Não
sou membro desta CPI, mas tenho acompanhado seus trabalhos porque conheço o
assunto profundamente. Acho que é muito deselegante o Deputado colocar nossa
participação sob suspeita. Isso é grave. Na última reunião, o Deputado Adalclever Lopes disse, sem conhecer o
relatório que seria apresentado, que o relator apresentaria outro relatório.
Constantemente ouvimos a acusação de que essa CPI é chapa branca. Acho que o
Presidente tem de tomar uma atitude mais séria. Aqui não há nenhum palhaço.
Queremos fazer um trabalho sério e defender nossa posição, que tem de ser
respeitada. Não estamos aqui para concordar com as pessoas que são contrárias
ao nosso posicionamento. O parlamento é para isso, temos de ter o ponto e o
contraponto. Esses fatos devem ser esclarecidos. Temos um mandato a zelar e não
podemos ficar escutando insinuações de membros desta CPI, que não deveriam ser
permitidas. Muito obrigado.
O Sr.
Presidente - Com
a palavra, pela ordem, o Deputado Antônio Júlio.
O Deputado
Antônio Júlio - Quero
dizer ao Deputado Fábio Avelar que não estamos insinuando, mas chegamos até a
afirmar. Foi a primeira vez que, na instalação de uma CPI, quando foi designado
o relator e o Presidente, tivemos aqui mais de 23 Deputados presentes, numa
pressão terrível. Sou considerado oposição na CPI. Não estou preocupado com a
composição. Jamais levantei suspeição contra qualquer convidado. Estou
levantando uma questão. O Presidente tomou a decisão, e vamos ouvi-lo. Quando
ele foi convidado, eu até disse que ele não acrescentaria nada ao nosso
procedimento. O que mais me espanta é que, quando levantamos alguma questão,
parece que a carapuça serve em alguns Deputados, como, por exemplo, o Deputado
Fábio Avelar. Ele diz que desejamos que o relatório fique do jeito que
queremos, mas desde o início eu disse que não. Quero que tudo seja apurado.
Estamos recebendo uma pressão terrível da Vale do Rio Doce, da MBR e do
governo. É mentira? Não sai uma linha na imprensa porque o governo não deixa.
Até agora não falamos de ninguém, não levantamos suspeição sobre nenhuma
pessoa, mas não admitiremos que essa pressão continue. E nem querem prorrogar a
CPI. Eu disse ao Presidente que, se o prazo não for prorrogado, a CPI termina
sem relatório final. Não é isso que está acontecendo, Sr. Domingos Sávio e Sr.
Presidente? Queremos apurar, ouvir todas as pessoas. Se o relatório concluir,
com os documentos que temos em mãos, que não houve negligência por parte da
Feam, do Copom, dos órgãos ambientais ou de quem quer que seja, vamos
concordar. Não queremos relatório do nosso jeito. Estou nessa luta sozinho. Sou
considerado oposição nesta Comissão. Esta Comissão tem todo o monitoramento do
governo. Não vou desmentir isso. Se quiserem tomar alguma providência de acordo
com o Regimento, podem tomar. Não estou pedindo desculpas e não vou pedir. Esta
Comissão está sendo monitorada. Por isso falei que, se houver suspeição, alguém
de fora fará o relatório. Confio nos Deputados até a apresentação do relatório.
Quando deixamos de ser Presidente ou relator - como nos permite o Regimento,
como autores da CPI -, não questionamos. Para mim, foi até melhor, pois me dá
oportunidade de questionar. Se eu estivesse presidindo, com certeza o meu
comportamento seria mais polido, porque eu teria de administrar os conflitos
que estão acontecendo e que acontecerão até o final.
Esse é o problema, Deputado Fábio Avelar. Não
estou levantando suspeição. Tenho um grande defeito ou uma grande virtude, não
sei o que é: não rodeio para falar. Falo o que tenho de falar. Estamos
mencionando essa suspeição, e a pressão da base do governo - já que o PMDB é
considerado oposição nesta Comissão - é muito grande, todos estão vendo. Nem
precisa ficar falando ou discutindo. Ou, às vezes, nós falamos, e a carapuça
serve em alguém que se sente preocupado em defender a CPI, em defender quem
quer que seja, defender não sei mais o quê, e a pessoa fica nervosa. Não estou
nervoso, mas não retiro uma palavra do que disse, quero deixar isso bem claro.
O Presidente tomou uma decisão, e temos de ouvir mesmo. Mas, se ele puder, por
conhecer bem a questão da Mina Capão Xavier, seria interessante. Se não
puder... Essas relações que ele está fazendo são importantes, mas o nosso objetivo
maior é saber se a Lei nº 10.793 foi cumprida ou não.
O Deputado
Dinis Pinheiro - Pela
ordem, Sr. Presidente.
O Sr.
Presidente - Deputado
Antônio Júlio, V. Exa. disse que esta CPI é monitorada pelo Poder Executivo. V.
Exa., que tem um passado brilhante nesta Casa, até passando pela Presidência,
sabe que está cometendo uma injustiça. Ao fazer essas afirmações, sem nenhum
indício, sem nenhuma prova, V. Exa. ofende até mesmo os parlamentares que fazem
parte desta Comissão, seus colegas detentores de um mandato popular,
independentes nos seus votos, nas suas ações, como V. Exa. é. Portanto, além de
inoportunas, as ponderações de V. Exa. são injustas com todos os membros da
CPI, seus colegas de Comissão, que têm procurado trabalhar com equilíbrio, com
bom senso, com liberalidade, ouvindo todos, a fim de que, como eu disse,
possamos, ao final, emitir um conceito verdadeiro sobre a causa que motivou a
criação desta CPI. Logo, de forma veemente, manifesto o meu protesto quanto às
afirmações de V. Exa. Com a palavra, o Deputado Dinis Pinheiro.
O Deputado
Dinis Pinheiro - Sr.
Presidente, devemos realizar aqui, constantemente e de forma incessante, o
exercício da paciência. É bom para a Casa, para a Assembléia, para os mineiros.
Na semana passada, com muito equilíbrio e paciência, tivemos oportunidade de
ouvir o testemunho do Frei Gilvander, que proferiu uma aula maravilhosa, uma
aula espiritual, religiosa. Como cristão, ouvi-o atentamente e tenho certeza
absoluta de que serviu enormemente como mais um aprendizado na nossa modesta
vida.
Naquela oportunidade, constatei também, Sr.
Presidente, que, se por um lado, foi enriquecedor, por outro, ele não trouxe
nenhum ponto, nenhum acréscimo, nenhum erro, nenhum vício, nenhuma ilegalidade
que pudesse ser analisada por esta Comissão e que pudesse até mesmo eliminar
algumas das dúvidas que ensejaram a instalação desta CPI. E o ouvimos com muita
atenção.
Por outro lado, observo hoje o Prefeito de
Itabirito, Sr. Waldir, fazer uma explanação correta, sensata, inteligente. Falou
das dificuldades dos órgãos ambientais em realizar algumas fiscalizações,
principalmente em relação às pequenas empresas. Relatou a geração de empregos e
a questão relevante da atividade minerária na economia do nosso Estado e na
destinação de recursos expressivos para os Municípios e para Minas Gerais. Na
semana passada, alguns parlamentares até menosprezaram a importância do recurso
financeiro que as mineradoras concedem aos Municípios e ao Estado. Ele falou
ainda do debate intenso que foi realizado e da demora, de aproximadamente dez
anos, do licenciamento, com estudos, análises,
reflexões. Então, preliminarmente, foi uma explanação preciosa, que
serve de embasamento para que esta Comissão possa subtrair suas dúvidas e fazer
questionamentos. Ouvimos com atenção. Lamento, Sr. Presidente, porque respeito
profundamente todos os Deputados desta Casa. Tenho apreço especial pelo
Deputado Antônio Júlio, por sua trajetória, sua vivência, seus ensinamentos e
sua história de vida, mas seus destemperos momentâneos não engrandecem esta
Casa nem trazem qualquer preciosidade que nos ajude na solução dos problemas do
licenciamento da Mina Capão Xavier. Em alguns momentos, afirmou que recebe
pressões, não sei se por parte do governo ou de outros setores. O Deputado Antônio
Júlio poderia ser mais claro em suas afirmações, mencionando quem o está
pressionando. Referiu-se a chapas brancas. Não sei o que significam as
expressões chapa branca, chapa vermelha ou chapa preta.
Deixo bem claro para todos os mineiros que este
Deputado - tenho certeza absoluta que os demais Deputados desta CPI – não
recebeu pressões do governo nem de qualquer atividade minerária. Acredito e
confio na seriedade e probidade desses Deputados. Continuo acreditando e
confiando na seriedade do Deputado Antônio Júlio. Suplico-lhe que se distancie
desses destemperos e desequilíbrios, que, certamente, não contribuirão para o
bom andamento dos trabalhos desta Comissão.
O Deputado
Adalclever Lopes – Sr. Presidente, peço a
palavra pelo art. 164, porque fui citado pelo Deputado Fábio Avelar.
O Sr.
Presidente –
Com a palavra, o Deputado Adalclever Lopes.
O Deputado
Adalclever Lopes – Sr. Presidente, nobre
Deputado Fábio Avelar, a quem tanto admiro. No final da reunião passada,
afirmei que o PMDB coletaria e apresentaria
todos os dados. Não tenho dúvidas de que os irá apresentar. Temos certeza de
que a lei foi descumprida. O Sr. Waldir disse claramente que não tem jeito de
minerar sem rebaixar, o que descumpre a Lei nº 10.793. O Sr. Waldir foi o
primeiro a procurar-me, na minha sala, tentando convencer-me. Ele e o
ex-Prefeito Vítor Penido. Fui procurado também pelo representante da Vale do
Rio Doce. Disse-lhe que, oficiosamente, não o receberia, mas, oficialmente, por
intermédio do Presidente desta Casa, faria isso. Cumpriremos nosso papel.
Com todo respeito, Sr. Waldir, o senhor disse
que considera natural estar, em alguns momentos, de um lado do balcão, e, em
outros momentos, do outro lado. Por isso, o Brasil precisa de uma reforma
política. Apoiamos tal reforma, porque a relação entre empresa e políticos está
incestuosa. Isso precisa ser modificado. A Mineração Rio Verde, a Mineração
Serras do Oeste e várias outras financiaram mais de 30% de sua campanha. Para
que isso acabe, necessitamos de financiamento público de campanhas e outras
reformas políticas. Somente assim ficaremos isentos. Apesar de legal, essa
prática é imoral. Por isso, defendemos essas reformas.
O PMDB cumprirá seu papel, apresentará esses
dados. Não podemos deixar que aconteça o que ocorreu na cidade do Prefeito
Waldir. O Pico do Itabirito foi deixado daquele jeito. Não permitiremos. É isso
que o nosso partido defende. Em momento algum, abriremos mão daquilo que
acreditamos. Muito obrigado.
O Sr.
Presidente – Deputado
Fábio Avelar, peço-lhe um pouco de paciência em prol do bom andamento dos
nossos trabalhos.
O Deputado
Fábio Avelar – São
apenas 30 segundos, Sr. Presidente.
O Sr.
Presidente – Passaremos
à fase dos debates.
O Deputado
Fábio Avelar – Sr.
Presidente, imploro-lhe, são apenas 30 segundos.
O Sr.
Presidente – O
assunto é relevante?
O Deputado
Fábio Avelar – Sim,
porque não podemos deixar que os telespectadores fiquem em dúvida. O Deputado Adalclever Lopes disse que apresentará
dados. Talvez eu esteja enganado - poderemos recorrer às notas taquigráficas -,
mas entendi que S. Exa. iria apresentar um relatório em contraponto ao
relatório do nosso relator. Foi o que entendi. Esclareço que esse foi o sentido
do meu questionamento, ou seja, o fato de sempre colocar em dúvida o nosso
trabalho.
Concordo com o Deputado Dinis Pinheiro que o
Deputado Antônio Júlio deve ser mais claro, informando a esta CPI quem o está
pressionando. Como converso muito com o Deputado Antônio Júlio, percebi sua
mudança radical. Era totalmente contra a CPI, mas, hoje, é seu ardoroso
defensor. Lembro-me muito bem, quando esta Comissão foi instalada, que
conversávamos muito, porque ele enfrentou uma grande dificuldade para conseguir
as assinaturas necessárias à implantação desta CPI. Naquela oportunidade, eu já
era contra essa instalação, porque conhecia profundamente o processo e
manifestava publicamente a minha opinião. O Deputado Antônio Júlio, em
conversas, dizia-nos que a CPI havia sido instalada porque não havíamos tido
diálogo. Procuramos esclarecer os fatos. Não podemos admitir insinuações como
“parece a carapuça”. Qual é essa carapuça? Queremos exercer o nosso papel.
Devemos ser respeitados. O relatório será votado. Essas insinuações são
altamente desagradáveis nesta CPI, porque desejamos esclarecer os fatos.
Os Deputados Antônio Júlio e Adalclever Lopes alegam constantemente -
batendo sempre nessa tecla - que a Lei nº 10.793 não foi respeitada. Como tive
a oportunidade de dizer – tenho conhecimento disso –, essa lei não foi
desrespeitada. Então, existem o ponto e o contraponto. Precisamos discutir mais
profundamente esses dois lados. Deixo claro, Sr. Presidente, que, apesar de
participar desta CPI, não sou obrigado a concordar com tudo o que dizem os
Deputados Antônio Júlio e Adalclever Lopes.
Procurarei manter a minha posição.
O Deputado
Antônio Júlio –
Pela ordem, Sr. Presidente.
O Sr.
Presidente – Para
o bom desenvolvimento dos nossos trabalhos, concederemos a palavra ao Deputado
Antônio Júlio e à Deputada Lúcia Pacífico. Logo após, passaremos aos
questionamentos. Peço a compreensão dos nobres Deputados, para que possamos dar
andamento aos nossos trabalhos, que, dessa forma, serão realmente proveitosos.
Após esgotarmos essas questões de ordem, passaremos, imediatamente, aos
questionamentos. Durante os debates, os Deputados poderão fazer quaisquer tipos
de observações que julgarem pertinentes.
Com a palavra, o Deputado Antônio Júlio.
O Deputado
Antônio Júlio –
Sr. Presidente, apenas desejo esclarecer ao Deputado Fábio Avelar que eu era
contra a CPI. Em alguns casos, ainda continuo contra. Estamos percebendo que
ela tem porta de entrada, mas não tem porta de saída. Estão chegando muitas
denúncias e documentos que comprovam algumas irregularidades. Não mudei meu
posicionamento. Na época da instalação desta CPI, disse que houve, por parte da
MBR, imposição de forças. Quiseram amedrontar-me. Procuraram o Deputado Adalclever Lopes. Não aceitamos esse tipo
de comportamento. Participo com toda convicção desta CPI, porque acompanhei o
processo desde o início, ou seja, desde a visita que fizemos à Mina Capão
Xavier. Essa emoção é a responsável pela minha luta não contra as mineradoras,
mas contra a exploração desenfreada e totalmente ilegal da Mina Capão Xavier.
Não se trata de questão pessoal, mas de coração, por gostar do povo de Belo
Horizonte. O que estão fazendo nessa mina é um crime. A mineração, com todo
respeito por essa atividade econômica tão importante para o Estado, da forma
como está sendo conduzida não apenas em Minas, mas em todo o Brasil, representa
um saque aos nossos recursos minerais. Esse é o meu posicionamento sobre esta
CPI, sem nenhum constrangimento para a minha vida e minha passagem por esta
Casa.
O Sr.
Presidente – Concederei,
por 30 segundos, a palavra ao Deputado Adalclever
Lopes, para que faça um esclarecimento.
O Deputado
Adalclever Lopes – Sr. Presidente, é
regimental o voto em separado e apresentaremos um relatório do PMDB. Afirmo
que, pelo andar da carruagem, estamos vendo o que irá acontecer. Para o
Ministério Público, claramente, a lei foi descumprida. Muito obrigado.
O Sr.
Presidente – Com
a palavra, a Deputada Lúcia Pacífico. Logo após, passaremos aos
questionamentos. A palavra somente será concedida aos Deputados para que façam
seus questionamentos.
A Deputada
Lúcia Pacífico – Senti-me
um tanto ofendida quando o nobre Deputado Antônio Júlio disse que estamos sendo
pressionados. O nosso objetivo é a apuração das irregularidades de qualquer
tipo. Não estamos sendo pressionados pelo governo nem pelas empresas.
Solicitei, por meio de um requerimento, que ouvíssemos um representante da Vale
do Rio Doce. Todos conhecem a nossa vida. Não estamos aqui para fazer o jogo do
governo nem o das empresas. Todos conhecem a minha trajetória de vida, sou a
Deputada mais velha da Assembléia. Queremos sim – tenho certeza de que esse é o
pensamento de todos – apurar irregularidades. Muito obrigada.
O Sr.
Presidente – Com
a palavra, o Deputado Domingos Sávio, para seus questionamentos.
O Deputado
Domingos Sávio – Sr.
Presidente, Srs. Deputados, darei seqüência às minhas indagações ao Sr. Waldir
Salvador, Prefeito de Itabirito e Presidente da Amig.
Prefeito, conforme suas palavras, o senhor
acompanhou todo o processo de liberação dos licenciamentos da Mina Capão
Xavier, porque, coincidentemente, serviu na Prefeitura de Nova Lima, cidade
onde está situado o empreendimento. Informou-nos sobre uma audiência pública
que teve a participação de mais de mil pessoas. Como surgiram algumas dúvidas e
contradições em depoimentos prestados a esta CPI, solicitamos-lhe que nos
relate alguns fatos. Lembra-se dessa audiência? Foi divulgada em Nova Lima?
Houve liberdade de manifestação? Os assuntos foram esclarecidos? Como o senhor
resumiria o desfecho dessa audiência? Desejamos avaliá-la para saber se
contribuiu para o esclarecimento da população, de lideranças, de
ambientalistas, enfim, da sociedade de Nova Lima, onde está situado o
empreendimento. Essa audiência foi realizada em Nova Lima? Em síntese, qual é
sua avaliação, do ponto de vista da participação popular e dos resultados
obtidos?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira – Quando solicitaram à Prefeitura de Nova Lima que
sugerisse locais para a realização da audiência pública, sugerimos,
imediatamente, o Teatro Municipal, por uma questão de conforto, porque é muito
grande, possuindo 700 lugares. Na mesma hora, questionaram, dizendo que só
aceitariam se a audiência pública fosse realizada no local da exploração. A MBR
alugou uma tenda, usou a administração regional da Prefeitura de Nova Lima,
colocou ônibus à disposição e faixas por todo o bairro. A Amda e os jornais
foram previamente avisados.
Realizada no Bairro Jardim Canadá, essa
audiência pública foi iniciada às 19 horas e encerrada à 1 hora da manhã do dia
seguinte. Mais de mil pessoas tiveram a oportunidade de debater. Todos os tipos
de segmentos foram representados: ambientalistas, funcionários da empresa,
moradores do Bairro Jardim Canadá, condomínios vizinhos, empresários do setor
de mineração, prestadores de serviços, políticos e toda a comissão técnica da
Feam.
Conforme nossa avaliação, a audiência pública
foi amplamente divulgada e realizada no local escolhido pela população. Nada
mais legítimo.
Pensamos no conforto das pessoas, mas não
imaginávamos que a audiência teria mais de 700 participantes, que era, naquela
época, o total de lugares do Teatro Municipal. Hoje foi modificado, comportando
um número diferente de pessoas.
A população quis que fosse realizada no local do
empreendimento. A audiência foi feita lá, com grande divulgação, com ônibus à
disposição. Todo o Bairro Jardim Canadá e os condomínios vizinhos foram
convidados. A avaliação que posso fazer, hoje, como Presidente da Amig, e como gerente de projetos da Prefeitura de
Nova Lima, à época, é que a audiência foi disciplinada, eficaz, aberta,
democrática, equilibrada e muito bem gerenciada pela Feam. Somente não se
manifestou nem chegou a algum tipo de conclusão quem não quis participar.
O Deputado
Domingos Sávio – O
Codema municipal participou?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira – Participou, claro, com seu Presidente.
O Deputado
Domingos Sávio – Houve
algum posicionamento do Codema municipal a favor ou contra?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira – A favor da implantação do empreendimento,
acatando as normas implementadas e cobradas pela Feam, Igam e IEF.
O Deputado
Domingos Sávio – O
senhor disse, como Prefeito de uma cidade mineradora e homem experiente nessa
área, que o sistema ambiental mineiro é exigente. Afirmou que o empreendimento
Capão Xavier talvez tenha sido um dos mais completos, mais exigidos, enfim, um
dos mais debatidos. Chegou a dizer que o nível de exigência foi bastante amplo.
Em função de conhecer vários outros empreendimentos, considera que esse está
num nível de exigência acima da média, em comparação com o que é exigido de
outras mineradoras, em termos de cuidados ambientais?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira – Tecnicamente, está no mesmo nível de outras
mineradoras, mas, socialmente, politicamente e publicamente, se posso assim me
expressar, nunca vi tantas exigências. Desde 1993, a MBR planejava explorar
Capão Xavier. Sempre que manifestava esse interesse - pelo sururu que causava,
como o Deputado Antônio Júlio disse, em função de sua proximidade com a Capital
-, era questionadíssima. Isso obrigou a companhia, durante dez anos, a aprofundar
todos os estudos para, quando fosse feito o licenciamento, ter segurança do que
faria, senão acarretaria problemas, pela complexidade que é fazer uma mineração
a poucos minutos da Capital, embora isso não seja nenhuma novidade em Itabira,
porque há mineração no centro da cidade.
Então, foi um licenciamento que teve a mesma
exigência técnica de avaliação, de fiscalização de qualquer outra mineração
desse porte e, além disso, publicamente, democraticamente, politicamente, nunca
vi, nesses 20 anos que acompanho atividade mineradora, como empregado de
mineradora ou como prestador de serviço, nada tão debatido.
Aproveito para complementar a pergunta de V.
Exa., também respondendo ao Exmo. Deputado Antônio Júlio, que há um equívoco
quando falam que o espanhol consultor é quem fez o EIA-Rima. O EIA-Rima foi
feito pela Ecolab de Belo Horizonte. O consultor foi chamado para complementar.
Apenas um ganho na informação. O EIA-Rima feito pela Ecolab foi imediatamente
protocolado no Ministério Público, logo que o licenciamento foi implantado. Não
foi feito pelo espanhol. Ele foi um consultor.
O Deputado
Domingos Sávio
- Ainda de acordo com essa linha, já que o senhor tocou nesse assunto, o senhor
pode nos ajudar a caminhar para uma posição mais clara sobre um ponto que tem
apresentado contradições.
Os representantes do PMDB manifestaram suas
posições. De modo especial, o Deputado Antônio Júlio, que hoje, em alguns
momentos, chegou a parodiar, dizendo que a empresa não deveria chamar Frasa, e
sim Farsa, com intenção clara de desclassificar a condição da empresa ao usar
essa palavra.
Por outro lado, este relator teve conhecimento
por meio do “curriculum” - parece que foi o Deputado Fábio Avelar que me
entregou o “curriculum” desse profissional espanhol, embora já tenha feito
pedido para que tenhamos informações oficiais - de que empresa é essa e quem
são os profissionais. O “curriculum” de que tomei conhecimento apresenta uma
pessoa com ampla experiência internacional em entidades ambientais mundiais e
nas maiores universidades que tratam da questão ambiental no mundo. Portanto,
pareceu-me, se confirmada a veracidade daqueles dados, tratar-se, de fato, de
um profissional altamente qualificado.
O senhor chegou a fazer menção também. Gostaria
de saber se o senhor conhece, teve algum tipo de contato ou tem alguma
informação sobre a qualificação desse profissional que emitiu esse parecer. Se
é de fato um profissional que reúne qualificação apropriada para o assunto.
Enfim, quais outras informações o senhor teria
sobre isso? O assunto está um pouco contraditório, embora já estejam claras,
não só para os membros da CPI mas também para quem a está acompanhando, as
posições bem definidas, desde o início, do próprio Deputado Antônio Júlio e do
PMDB, coisa que respeitamos profundamente. Mas já que existe um contraditório
nisso, o relator gostaria de ter mais informações.
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Trata-se de um professor da Universidade de
Madri, que se chama Rafael Rúbio. Não o conheço pessoalmente. Já vi seu
“curriculum”, que foi amplamente debatido, inclusive nos órgãos de
licenciamento ambiental. A Copasa concordou, porque queria opinar sobre quem
deveria ser o consultor. Afinal de contas, ela poderia ser a segunda mais
atingida. Se houvesse algum problema de água, nós, cidadãos, é que pagaríamos
por isso, inclusive eu, que tenho residência em Belo Horizonte. Jamais
aprovaria uma coisa dessa. Mas a imagem da Copasa seria talvez a mais atingida,
por ter concordado com uma coisa como essa.
Então, colocou-se o dedo técnico da Copasa, para
exigir um consultor desse nível, que tem, se não me engano, artigo sobre
hidrologia e sobre esse assunto publicado em quase 60 países do mundo. Ele foi
escolhido em parceria com a Copasa, pago pelo licenciador, sem que o
licenciador pudesse dizer que não concordava com ele, porque a Copasa exigiu
que assim fosse.
E volto a repetir que ele só veio enriquecer o
processo. Ele não é o RT do projeto. Quem assinou o RT foi a Ecolab. Ele veio
dar opinião. E acredito, prezado Presidente, senhores Deputados, que uma pessoa
com uma conduta ilibada e conhecida tecnicamente em quase 60 países do mundo
não viria ao Estado de Minas Gerais - mesmo porque uma pessoa dessa não precisa
de dinheiro mais nessa idade e nesse nível - para empobrecer seu “curriculum”
com um parecer chulo, negativo, parcial. Para nós, trata-se de uma pessoa
séria, ilibada, correta, respeitada mundialmente, e que foi trazida a Minas
Gerais inclusive por exigência também da Copasa.
O Deputado
Domingos Sávio -
Tenho uma pergunta dirigida ao Prefeito. Aproveitamos sua presença aqui como
homem público, Presidente de uma entidade. Espero que esteja esgotado esse
debate de parcialidade política na condução dos trabalhos da CPI. Na questão
que envolve o licenciamento, as contradições foram colocadas. Há quem afirme
que existe parcialidade política. Eu, particularmente, já dei meu testemunho
pessoal, até porque não conheço.
A única oportunidade em que estive no
empreendimento foi em companhia dos membros da Comissão; acho que todos os que
estão aqui. A única vez, durante esses trabalhos, que tive a oportunidade de
estar com alguém que trabalha na empresa, foi com o consultor da área de meio
ambiente. Havia mais umas duas ou três pessoas acompanhando a comitiva. Jamais
me encontrei, não conheço, não tenho nenhum relacionamento com ninguém que
trabalha na empresa. Tive a oportunidade de ver, em uma audiência pública aqui,
um cidadão que na época representava a MBR. Foi a única vez em que estive com
ele, parece-me que no ano passado.
A dúvida foi lançada aqui. Gostaria de lhe fazer
uma pergunta mais de cunho político. É muito importante, até por sua condição
de estar aqui com o testemunho. Se houver qualquer coisa nesse campo, o senhor
nos ajude.
No meu entendimento, fica fácil verificar que
não parece muito provável a questão de ingerência política, de chapa dessa ou
daquela cor, porque até nas ações públicas e em todo o processo existe
questionamento envolvendo a autoridade do Município de Belo Horizonte, no caso
a Prefeitura, dirigida pelo PT. A ação dirige-se também a entidades do Governo
do Estado, hoje dirigido pelo PSDB, partido com posturas nacionalmente
conhecidas, bastante antagônicas em alguns momentos, do ponto de vista do
posicionamento com relação ao exercício do poder, às vezes até com alguma
identidade em certa questão pontual. Mas no exercício do poder municipal são
adversários; no exercício do poder estadual são adversários. Em que pese haver
isso, paira essa dúvida.
Minha pergunta, de forma objetiva, é a seguinte:
o senhor, que trabalha em Nova Lima, como homem público, teve conhecimento de
alguma interferência de natureza política, ou conhece alguém, de qualquer
nível, municipal, estadual ou federal, que fez alguma interferência para que
esse processo tivesse a licença ou as licenças - porque são três etapas:
prévia, de instalação e de operação - concedidas ou negadas? A ingerência
política esteve presente em algum momento? O senhor conhece algo que possa
contribuir com esta CPI, que possa dar testemunho, que possa materializar esse
tipo de insinuação ou acusação de que há interferência política para proteger
ou para prejudicar quem quer que seja em um processo como esse?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Jamais. Tanto pela Prefeitura de Nova Lima
quanto pelo governo do Estado. Na Prefeitura de Nova Lima, fica até muito
fácil, se quiser essa comprovação. O Prefeito Vítor Penido teve um
empreendimento implantado em seu mandato, e, diga-se de passagem, não colheu
R$0,01 de imposto sobre isso, porque a Cefem é recolhida 60 dias depois. Pelo
atraso, quem vai recolher não é o Prefeito Vítor, é o Município de Nova Lima,
hoje gerenciado pelo Prefeito Carlinhos, do PT. Ele pode até ser convidado a
vir a esta CPI para dizer se hoje, com todos os dados do Município que tem na
mão, há alguma coisa que prove que o ex-Prefeito fez algum tipo de ingerência
política. Vai desmascarar qualquer tipo de insinuação como essa.
O governo do Estado, desde que participo da
Secretaria de Estado do Meio Ambiente, passou por três Secretários: o
ex-Ministro Paulino Cícero, o ex-Secretário Celso Castilho e o atual Secretário
José Carlos de Carvalho. Não sei quais são os partidos deles, não sei quais as
razões, mas todos tiveram uma conduta completamente ilibada. Foram processados
por algumas ONGs, como foi o caso do ex-Secretário Celso Castilho e do
ex-Ministro Paulino Cícero, e, com uma conduta seríssima, responderam a tudo.
Então, se houve alguma pressão, a pressão foi
clara, essa que está acontecendo aqui, verdadeira. Aqueles que acreditam no
empreendimento pedindo que ele fosse apoiado. Aqueles que não acreditam,
pedindo que fosse questionado. Mas desconheço qualquer tipo de ingerência que
não tenha sido clara, transparente, verdadeira, olho no olho, que fizesse com
que o Município de Nova Lima ou o governo do Estado de Minas Gerais tivesse
qualquer conduta que facilitasse qualquer erro.
Gostaria de aproveitar a pergunta de V. Exa.
para dizer que, se em algum momento, tecnicamente, não politicamente, for
comprovado qualquer prejuízo que a MBR tenha dado ao Município de Nova Lima, a
Amig endossa qualquer coisa contra.
Estou aqui respondendo em nome de trezentos
colegas Prefeitos e da entidade por que fui eleito. Se comprovado for, não
politicamente, mas tecnicamente, que há algum prejuízo, a Amig será a primeira
a levantar a bandeira do lado dos Deputados e falar com a MBR: “Conserte o que
está errado”. Não é fechar a operação, porque sabemos de sua importância, é
consertar o possível erro que possa existir. Mas enquanto tivermos a
consciência de que não há, a Amig é a favor daquilo que acha que está correto.
E ela tem certeza de que o licenciamento foi completamente técnico e correto.
O Deputado
Domingos Sávio -
Ainda nessa linha, Prefeito, esse procedimento demorou vários anos, mas o
senhor disse ter acompanhado: licença prévia, licença de operação, licença de
instalação; autoridades, Estado e Município, não. Hoje, a Assembléia
Legislativa, por dever de ofício, por dever regimental, trata da matéria aqui
nesta Comissão e procura fazê-lo da forma mais transparente possível. Antes que
isso ocorresse, durante o processo de licenciamento, durante a audiência
pública, durante esse período, algum Deputado esteve presente? A minha pergunta
vai na direção da questão política que foi colocada, na medida em que ficou conflituoso.
Isso se deu de forma relevante? Há alguma interferência, alguma questão?
Deputado ou partido político? Ou isso não ocorreu? Está ocorrendo legitimamente
agora, na medida em que a Assembléia é instada, por qualquer de seus membros ou
pela população. É legítimo que investigue. Antes não teria nenhuma ilegalidade,
no meu entendimento, mas é bom que saibamos e que tudo fique bem transparente.
O senhor tem conhecimento de alguma participação?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Não.
O Deputado
Domingos Sávio -
Houve presença de Deputados nessa audiência pública?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Não. Nós estivemos na audiência pública. Não
estivemos nas reuniões da Câmara de Mineração da Feam.
O Deputado
Domingos Sávio -
Nunca houve a presença de nenhum Deputado?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Não.
O Deputado
Domingos Sávio
- De nenhum partido político? Nenhuma intervenção nem a favor nem contra?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Não, definitivamente.
O Deputado
Domingos Sávio -
Transcorreu como debate técnico?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Participei de todas, cumprindo o meu papel de
empregado do Município de Nova Lima, que deveria defender, como defendi, porque
era correto para o Município, mas não me lembro da presença de nenhum Deputado
em nenhuma das audiências públicas e nem nas reuniões das Câmaras Minerais da
Feam.
O Deputado
Domingos Sávio -
Obrigado. Quero fazer uma indagação agora sobre o setor minerário. De certa
forma, o senhor trouxe uma denúncia, e a CPI, no meu entendimento, tem como
objetivo, de forma mais específica, essa situação da Mina Capão Xavier. Acho
que precisamos esclarecer melhor qualquer assunto que possa despertar o
interesse público. O senhor disse que várias outras atividades minerárias
ocorrem no Estado com prejuízo para os Municípios, com prejuízo para os cofres
públicos e com prejuízo para a área ambiental. O senhor citou várias situações,
como pedra ardósia, granito, areia, quartzito e assim por diante. Seria
interessante que nos detalhasse um pouco mais sobre isso, e se há também alguma
ação concreta.
Aqui na Assembléia não tenho visto nenhuma
manifestação contundente de preocupação em reparar esses danos ambientais, em
reparar esses danos de ordem legal que estão infringindo a lei. Mas,
naturalmente, na medida em que o senhor traz essas questões, passaremos a
refletir sobre essa situação. O senhor teria algo mais a acrescentar? Existe
alguma ação movida pela própria entidade que o senhor preside? O que, de fato,
está ocorrendo em Minas Gerais com prejuízo para os cofres públicos e para a
área ambiental envolvendo outras explorações? E mais. Além do caso sobre o qual
nos temos debruçado, que é a Mina Capão Xavier, o senhor falou que, em seu
entendimento, o setor de mineração é o que está mais legalizado. Mas há algo
mais que o senhor queira acrescentar para esta CPI?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Eu só...
O Deputado
Irani Barbosa -
Questão de ordem, Sr. Presidente.
O Sr.
Presidente (Deputado Biel Rocha) - Pois não.
O Deputado
Irani Barbosa -
Sr. Presidente, esta CPI foi formatada para investigar a Mina Capão Xavier e as
atividades da MBR dentro do Estado. Acho que, fora isso, não cabe a nenhum dos
Deputados trazer assuntos que não são inerentes a esta CPI, uma vez que estamos
apurando especificamente a Mina Capão Xavier e todas as atividades da MBR no
Estado de Minas Gerais.
O Sr.
Presidente (Deputado Biel Rocha) - Correto, Deputado Irani Barbosa. Mas o Dr.
Waldir, Prefeito e Presidente da Associação dos Municípios Mineradores de Minas
Gerais - Amig, em suas considerações iniciais, como membro e Presidente da
Associação, Prefeito e cidadão de uma cidade minerária, trouxe-nos algumas
informações, que, mesmo não sendo pertinentes a esta Comissão, são muito
sérias. Que isso não seja levado em conta no relatório, já que a matéria não é
pertinente. Solicitaria que o Prefeito fizesse uma breve exposição... (- É
interrompido.)
O Deputado
Irani Barbosa - Apenas
por uma questão de ordem, Sr. Presidente, depois do pronunciamento do Sr. Waldir,
gostaria de ser ouvido como testemunha a respeito da degradação ambiental no
Município de Nova Lima.
O Sr.
Presidente - O
senhor terá toda a oportunidade, Deputado. Com a palavra, o Prefeito Waldir.
O Deputado
Adalclever Lopes - Questão de ordem, Sr.
Presidente.
O Sr.
Presidente - Com
a palavra, o Deputado Adalclever Lopes.
O Deputado
Adalclever Lopes - Queria aproveitar para
apresentar uma sugestão. Como V. Exa. é da Comissão de Meio Ambiente,
poderíamos depois aprovar um requerimento na Comissão de Meio Ambiente para
escutar o Prefeito Waldir com relação a essas denúncias. Assim podemos dar
prosseguimento aos trabalhos desta CPI. Muito obrigado.
O Sr.
Presidente - Dr.
Waldir, já que o relator solicitou essas informações, peço ao senhor que seja
breve, para darmos prosseguimento a esta reunião.
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - De forma bem sucinta. Representamos
aproximadamente 300 Municípios. Uma minoria deles, menos de 10%, tem atividade
de minério de ferro significativa; e todos os outros reúnem pequenas
mineradoras, como disse no início. Ninguém pediu que falasse apenas de Capão
Xavier. Disse o que sabia sobre Capão e a MBR. Não considero que desfoquei em
nada, porque foram essas as considerações iniciais. Assim pediram que eu
fizesse. Tenho de dizer o que são considerações iniciais.
Areia, quartzito, granito, pedra ardósia,
bauxita e outros minerais do Estado são vendidos, às vezes, de maneira
clandestina, sem tributação, sem qualquer plano de recuperação ambiental. Pior,
deixam o passivo ambiental, que não será recuperado por ninguém, para os
Municípios e os Estados. Como se acha um pequeno produtor de areia? Não estou
dizendo que temos de puni-lo, mas, talvez, tenhamos de ajudá-lo a fazer de
maneira correta. Na nossa opinião, não temos de fechar qualquer atividade
econômica importante para o Estado, mas fazer com que seja feita de maneira
correta.
Existe uma falha enorme em relação à
fiscalização ambiental e à fiscalização tributária. O Presidente da Comissão
perguntou se há alguma ação da Amig nesse sentido. No dia 29 de junho,
estaremos reunidos com o setor de água mineral e de areia. No dia 29 de
junho(?), discutiremos ardósia, brita, granito, mármore e pedras; no dia 13,
ferro alumínio e manganês, e, no dia 17, as demais pedras preciosas do Estado.
Ou seja, a Amig cuida dos interesses de todos os Municípios. O maior desafio
que temos atualmente é fazer com que os Municípios menores, que nada recebem em
relação à CFEM ou a qualquer outra receita tributária e que têm seu meio
ambiente explorado inadequadamente, passem a freqüentar mais a Amig.
Em relação a minério de ferro, achamos que
fazemos uma fiscalização eficaz. Falta-nos fazê-la no resto dos Municípios que
possuem atividades minerárias.
O Deputado
Domingos Sávio - Apenas
uma última consideração, Prefeito. Quantos Municípios participam da Amig e
quantos Municípios exploram minério de ferro?
Sr. Presidente, estamos investigando a questão
da MBR. No entendimento deste relator, não há condição de se conduzir o
trabalho de uma CPI que tem como objetivo defender o interesse do povo mineiro,
o interesse das questões ambientais, e que, indiscutivelmente, tem repercussões
ou ligações diretas com as questões também econômicas e sociais. A minha
preocupação, quando me refiro a Municípios mineradores e à medida que devemos
ter uma posição em relação às questões que envolvem a Mina Capão Xavier, é que
devemos fazer na legalidade, de acordo com os princípios do meio ambiente. Em
momento algum, podemos ignorar que, no Estado Democrático de Direito, tudo o
que se exige para um tem que ser exigido para os outros. Há um pacto, portanto,
em todos os procedimentos. Quer dizer, passa a ser uma prática.
O senhor afirmou, em um dado momento, que os
Municípios mineradores, pelo menos a grande maioria deles, dependem
essencialmente da atividade minerária, ou seja, essa atividade acaba sendo a
principal fonte de arrecadação dos Municípios. Gostaria apenas que o senhor
fizesse uma consideração final a respeito de quantos Municípios estão
envolvidos, de forma direta, na atividade minerária, e do impacto econômico e
social dessa atividade. Temos a clareza da tese, do sonho, de dizer o seguinte:
“Se polui, não é permitido funcionar”. Às vezes, então, o desastre pode ser
maior. Se polui, tomam-se atitudes, medidas, por meio de condicionantes, de
cuidados ambientais, para que se possa fazer a exploração, preservar o meio
ambiente e assegurar as condições econômicas e sociais que aquele tipo de
exploração pode oferecer aos Municípios. Quantos Municípios? Qual a importância
econômica e social disso?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Representamos aproximadamente 300 Municípios.
Estão filiados à Amig mais de 50, porque os outros não têm sequer condição
financeira de pagar a mensalidade da Associação. Ignoramos esse tipo de coisa e
defendemos o interesse de todos.
O Deputado
Domingos Sávio - Trezentos
e cinqüenta?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Aproximadamente 300; 50 são filiados e pagam
mensalidade para a Amig funcionar, proporcionalmente à sua arrecadação. Os
outros não têm condição financeira sequer de pagar. Ignoramos isso e achamos
até que temos a obrigação de enxergar o que é bom para todos. Há Municípios
muito pequenos. Para os Municípios mineradores de minério de ferro - citarei
rapidamente alguns: Itabirito, Nova Lima, Ouro Preto, Mariana, Congonhas,
Itatiaiuçu, Santa Bárbara, Barão de Cocais -, a atividade mineradora de minério
de ferro, em arrecadação direta ou indireta - quer dizer, CFEM, ICMS ou ISS dos
prestadores de serviços que prestam serviços às mineradoras -, varia de 30 a
50% da arrecadação desses Municípios, ou seja, é altamente significativa. Isso
não é motivo para Prefeito nenhum achar que está com a vida resolvida. Até
achamos que todos os dias devem sofrer um surto de inquietação e procurar novos
segmentos, para, um dia, não ficarem de “pires na mão”, com as cidades
fechadas.
Hoje aproximadamente 50 Municípios pagam
mensalidade. Desses 50, aproximadamente 25 são cidades mineradoras de minério
de ferro, com cerca de 35 a 50% de sua receita focada nessa atividade.
O senhor disse que são as minhas considerações
finais.
O Deputado
Domingos Sávio - Não,
apenas para este relator.
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Desculpe-me.
O Deputado
Domingos Sávio - Sr.
Presidente, gostaria de fazer rapidamente algumas indagações à Dra. Valéria
Caldas, técnica da Copasa, que foi muito sucinta. Dra. Valéria, tivemos
informações - esta a razão do convite feito à senhora - de que a senhora
acompanhou o empreendimento da MBR no âmbito da APA Sul. A senhora, como
geóloga, poderia nos explicar melhor o que é a APA Sul e como se deu esse
acompanhamento, do ponto de vista profissional? Como se deu esse
acompanhamento? Até que ponto a Copasa acompanhou, tomou conhecimento,
verificou, sobretudo no que diz respeito ao produto essencial administrado pela
Copasa, a água? Qual foi o acompanhamento? Gostaria que a senhora nos desse uma
visão um pouco mais ampla de como se deram essas atividades. Como funcionária
da Copasa, o que mais a senhora sabe em relação às providências ou aos cuidados
que a empresa tomou para se informar sobre o empreendimento ou até para
estabelecer algum tipo de exigência ou de cuidados preventivos?
A Sra.
Valéria Caldas - Desde
o final da década de 80, a MBR procurou a Copasa para apresentar um plano de
aproveitamento econômico na jazida de Capão Xavier. Desde aquela época, já
existia a preocupação técnica, dos técnicos da Copasa, com o impacto dessa
atividade nos mananciais utilizados pela empresa. Mas ainda não existiam
estudos que pudessem comprovar que a atividade poderia causar algum impacto nos
mananciais da Copasa. Houve inúmeras discussões, até que a MBR apresentou à
Copasa um plano para realizar tais estudos e um relatório parcial sobre a
interferência da atividade nos mananciais. A Copasa não aceitou esse relatório.
Achou-o inconsistente. Passado algum tempo, a empresa solicitou uma sondagem
geológica no Mutuca, onde estaria localizada parte da Mina Capão Xavier.
Deixe-me verificar a data dessa solicitação. Em 1992, a MBR solicitou à Copasa
autorização para execução de sondagem geológica na área do Mutuca. Também em
1992, o Prof. Rafael Fernandes Rúbio esteve aqui em um congresso de águas
subterrâneas. Fui inscrita em um curso sobre desaguamento de mina. Após
conhecermos o Prof. Rúbio, levamo-lo à Copasa para participar de uma vistoria
técnica ao local e mostramos-lhe a nossa preocupação em relação ao futuro: caso
ocorresse ou fosse desenvolvida atividade minerária naquele local, o que
poderia causar aos mananciais da Copasa? Nessa discussão, o Prof. Rúbio nos
disse que podem realmente haver impactos ambientais em relação aos recursos
hídricos. Com experiência internacional, falou-nos sobre a possibilidade de
ocorrência de impactos, e que a questão deveria ser melhor estudada, corroborando
com a tese dos técnicos da Copasa de que deveria haver um estudo hidrogeológico
profundo, de modo a se avaliar o fluxo das águas subterrâneas e o que poderia
ser causado aos mananciais da Copasa pelo rebaixamento do lençol de uma
atividade minerária.
Em 1993, a Copasa assinou um termo de
compromisso com a MBR, cujo objeto foi a sondagem geológica na área do Mutuca.
Essa sondagem seria acompanhada de estudos, e a Copasa indicava o Prof. Rafael
Fernandes Rúbio para desenvolvê-los e ser o consultor nas discussões técnicas
com a MBR. Em 1993, foi assinado esse termo de compromisso, dizendo que seriam
realizadas as pesquisas geológicas, mas também um estudo ambiental que
identificasse todos os impactos. Começamos a estudar. Ocorreram diversas
reuniões técnicas na Copasa com o Prof. Rafael. Houve várias tentativas de
entendimento do problema.
Em 1998, chegamos a uma conclusão sobre os
impactos. A Copasa tinha interesse em saber quais mananciais seriam afetados e
qual a ordem de grandeza da vazão a ser afetada em cada um desses mananciais.
Sempre trabalhamos com a idéia de que, para a empresa e para os mananciais, não
poderia haver prejuízo nem da quantidade nem da qualidade da água. O professor
apresentou o relatório conclusivo. Avaliamos. A empresa estabeleceu um termo de
compromisso em que, caso viesse a ocorrer atividade minerária - isso foi em
1998 -, todos os impactos deveriam ser mitigados e deveria haver uma reposição
preventiva de água pelo impacto causado aos mananciais da Copasa.
Mesmo antes dos estudos ambientais, a Copasa
estava preocupada com essa questão. O Prof. Rafael Rúbio nos mostrou que os
impactos ocorreriam e haveria medidas compensatórias, mitigadoras desses
impactos.
Os estudos se iniciaram em 1993. No período de
1993 a 1998, foram realizados estudos muito complexos. No Brasil, nunca
ocorreram estudos dessa magnitude sobre rebaixamento de lençol freático de uma
atividade minerária. Para os técnicos da Copasa e para a própria MBR foi uma
oportunidade de verdadeiro aprendizado, de aperfeiçoamento técnico e de contato
muito profícuo com o Prof. Rafael Fernandes Rúbio. Criou-se uma rede de
monitoramento para se saber a condição dos mananciais, antes de haver
rebaixamento do lençol. A partir daí, a MBR se comprometeu a apresentar
relatórios à Copasa de monitoramento da qualidade e da quantidade de água. A
empresa vem apresentando esses relatórios, mostrando a situação da vazão e da
qualidade da água dos mananciais e do aqüífero, antes mesmo de ocorrer
interferência no lençol freático.
O Deputado
Domingos Sávio - Dra.
Valéria, depois desse trabalho com o Prof. Rafael Rúbio, tivemos notícia de
estudo envolvendo, inclusive, um consultor externo, de natureza espanhola. A
senhora também teve algum conhecimento em relação a essa consultoria? É a do
próprio Rúbio?
A Sra. Valéria Caldas - Não, na verdade...
deixe-me conferir a data em relação à Prefeitura de Belo Horizonte. Em
1999, a Prefeitura de Belo Horizonte
solicitou à Copasa os estudos realizados pelo Prof. Rafael Rúbio, porque
gostaria de fazer uma avaliação sobre o que foi concluído sobre todo o estudo
hidrogeológico. A Prefeitura contratou técnicos para avaliar esse estudo do
Prof. Rafael Rúbio. A Copasa cedeu todos os dados, e todos os relatórios foram
enviados à Prefeitura que fez a análise desses documentos. Não temos
conhecimento, não nos foi enviada oficialmente essa análise do documento do
estudo hidrogeológico realizado pelo Prof. Rúbio, pela Frasa.
O Deputado
Domingos Sávio -
Minha pergunta é se outro professor - porque o Prof. Rafael Rúbio é de
nacionalidade brasileira...
A Sra. Valéria Caldas - Não, ele é de Madri.
O Deputado
Domingos Sávio -
Ah, esse é que é o espanhol. A senhora chegou a conhecê-lo?
A Sra. Valéria Caldas - Sim, participei de
várias discussões técnicas com ele.
O Deputado
Domingos Sávio -
Ele esteve aqui, portanto, fazendo os estudos. Mais ou menos na mesma linha do
que perguntei ao Prefeito, pois as posições continuam um pouco contraditórias,
insisto para que a senhora aprofunde um pouco mais, emitindo o seu conceito
como geóloga, como profissional. A senhora pôde verificar, pela convivência,
pela experiência que teve e por informações curriculares, tratar-se de um
profissional qualificado, experiente, ou há alguma dúvida sobre isso?
A Sra. Valéria Caldas - Todo o nosso contato
técnico com o Prof. Rúbio mostrou que era uma pessoa altamente qualificada.
Foi, inclusive, Presidente da Associação Internacional para Desabamento de
Mina. Tivemos a oportunidade de participar de um congresso em Nottingham, na
Inglaterra, sobre esse assunto. Ele proferiu a aula magna. Ele era um dos
Presidentes dessa associação. Acredito que ele tenha grande experiência, pois
trabalhou em várias empresas no mundo inteiro, onde há preocupação sobre o
impacto na questão da água, do rebaixamento do nível da água e dos mananciais.
Isso ocorre em vários países do mundo que, de acordo com sua legislação, exigem
das atividades minerárias a reposição e a mitigação dos impactos.
O Deputado
Domingos Sávio -
Concluindo, o Prof. Rafael Rúbio é o representante da Frasa?
A Sra. Valéria Caldas - Sim.
O Deputado
Domingos Sávio -
Em síntese, ouvi da senhora que ele mostrou que os impactos poderiam ser
corrigidos ou atenuados com medidas mitigadoras, medidas essas exigidas pela
Copasa em acordo estabelecido com a MBR.
A Sra. Valéria Caldas - Sim, e é isso que
também comprovamos em viagem a diversas empresas mineradoras na Europa. Vimos
que lá a condição geológica é diferente, a exploração é outra, mas que medidas
mitigatórias são realizadas.
O Deputado
Domingos Sávio -
Ainda sobre a situação geológica do maciço onde está situada a mina - até
porque isso foi levantado - e aproveitando sua presença como geóloga, além da
questão da água, levando-se em conta os riscos de catástrofe e os cuidados que
se deve ter, observando a permeabilidade de todo o maciço, se houver problemas,
poderão ocorrer impactos em Belo Horizonte ou nas imediações de Nova Lima?
A senhora, como geóloga, verifica se há algo
nesse processo que não esteja sendo devidamente cuidado, ou se há algum indicativo
de que haja ali uma situação de risco? Já foi dito aqui sobre o risco que
existe quando se aciona uma máquina, ou até um veículo. As pessoas estão se
expondo ao risco? Esse risco está sendo calculado, controlado, ou existe alguma
situação, do ponto de vista geológico, que não está sendo considerada?
O que a senhora poderia acrescentar para nós, do
ponto de vista geológico, sobre os efeitos da retirada do minério, de se fazer
uma cava, e sobre o impacto disso, levando-se em conta a permeabilidade do solo?
Pode haver uma situação de desastre, como foi citado no caso da Mineração Rio
Verde, e de repente aquilo tudo desmoronar e haver uma situação trágica não
prevista? Embora, naturalmente, a senhora, como profissional da Copasa, tenha
tratado mais da questão da água, pode nos ajudar nisso?
A Sra. Valéria Caldas - A questão de Águas
Claras, onde está sendo formado o lago, antiga Mina de Águas Claras, eu não
acompanhei, porque não diz respeito à Copasa. Não acompanhei o enchimento do
lago. Temos conhecimento por palestras e debates. Mas existem riscos que devem
ser avaliados. Não tenho conhecimento se foram avaliados os riscos geológicos e
geotécnicos em Águas Claras. Acredito que a empresa deve ter avaliado toda a
parte técnica do lago.
No caso de Capão Xavier, não haverá deposição
nem de material estéril nem de rejeito na região. Não haverá deposição de
material estéril nem de rejeito na bacia hidrográfica dos mananciais que a
Copasa utiliza. Todo esse rejeito será levado para a Mina do Mutuca, onde será depositado
de forma adequada, com todo o controle, porque é uma situação de risco. As
barragens devem ser bem controladas, e o rejeito depositado adequadamente, com
muito controle, com muito rigor e muita segurança, para que não ocorra nenhum
tipo de acidente.
O Deputado
Domingos Sávio -
Aproveitamos a oportunidade de tratar com a senhora, que é da Copasa e é
geóloga, algo que é objeto também de controvérsia. Hoje mesmo vimos essa
controvérsia ser manifestada: por um lado, um Deputado entende que há desrespeito
da Lei nº 10.793, se não me falha a memória; por outro lado, outro Deputado
entende que não houve desrespeito, ou seja, há uma controvérsia e temos
procurado aprofundar na reflexão sobre isso.
Em linhas gerais, essa lei lista uma série de
atividades, não apenas a mineração, mas loteamentos, indústrias, projetos
agropecuários, ou agropastoris, observando se o uso de determinados produtos
podem impactar as águas. Ela lista situações e, sobre a mineração, diz que fica
proibida em bacias de onde provêm mananciais para consumo humano, e onde
comprometa as águas, não mantendo a qualidade mínima da água. Aí existe algo
que entra no campo da semântica e da hermenêutica das leis. Os advogados é que
são os doutores - em especial, os juízes - em fazer a análise da hermenêutica,
da interpretação, do entendimento mais objetivo de um termo como esse:
qualidade mínima da água.
De maneira objetiva, nós, como cidadãos, como
quem quer beber água, queremos saber se a água, no final das contas, poderá ser
consumida, sem prejuízo para a saúde. Nossa preocupação é com o manancial para
consumo humano. Entendo que qualidade mínima é que ela, no mínimo, atenda às
exigências das organizações mundiais de saúde, dos princípios técnicos, para
consumo humano.
A Copasa hoje atende a uma enormidade de
Municípios mineiros. Temos de ser mais profundos e a senhora, como geóloga,
pode nos falar mais sobre a bacia. Aí há outro problema de hermenêutica: dizem
que reunidas as Bacias do São Francisco, do Rio das Velhas e do Rio Grande
abrangem quase 100% do território mineiro, e em todos esses três rios há
captação de água para consumo humano.
A Sra. Valéria Caldas - Sim.
O Deputado
Domingos Sávio -
Então, inevitavelmente, a bacia chegará ao consumo humano. Provavelmente 100%
das mineradoras do quadrilátero ferrífero participam de alguma bacia
hidrográfica. Como geóloga, pode dizeisso é verdade?
A Sra. Valéria Caldas - Sim.
O Deputado
Domingos Sávio -
A mineração de Itatiaiuçu tem uma bacia, possivelmente Serra Azul.
A Sra. Valéria Caldas - Bacia do Rio Manso,
Serra Azul.
O Deputado
Domingos Sávio -
Serra Azul, um dos maiores mananciais que abastece Belo Horizonte. A mineração
está lá na bacia do Serra Azul. Quero, como cidadão, como relator, saber o
seguinte: o cidadão de Belo Horizonte, que consumirá a água, precisa ter
garantia das qualidades mínimas dessa água para o seu consumo. A Mina de Capão
Xavier está funcionando e ali existe um manancial. Feitas as medidas
mitigadoras estabelecidas e as medidas condicionantes, a qualidade mínima para o
consumo humano, ou seja, para alguém beber dessa água, ficará comprometida? A
senhora, como geóloga e como profissional da Copasa, pode nos dizer se as
pessoas sofrerão risco de saúde em função disso? Quer dizer, está-se aprovando
um projeto para operar a retirada de minério de ferro, uma extração; em função
disso, há algum indicativo que a senhora possa nos trazer de que a qualidade
dessa água para o consumo humano esteja comprometida? Claro que, mesmo que não
houvesse a mina, pelo que me consta, toda a água tem de ser tratada. Não é
isso? A água é captada e passa por um tratamento, não é isso?
A Sra. Valéria Caldas - Sim.
O Deputado
Domingos Sávio -
Pretendemos verificar se esse tratamento deixará essa água em condições
adequadas para o consumo humano, ou se ela chegará ao tratamento em condições
de ser tratada. Porque há água que não tem jeito nem de tratar para consumo
humano. Há água que não presta para ser tratada para consumo humano. Já está
comprometida.
Minha pergunta, de forma objetiva - porque essa
é uma das grandes dúvidas desta CPI -, é: o manancial que está ligado à
exploração da Mina de Capão Xavier estará comprometido de tal forma que essa
água não possa ser tratada e bebida por um ser humano? Há algo que a senhora
possa nos dizer a respeito disso? Mais ainda, a senhora pode nos afirmar se
essa água poderá ser consumida por seres humanos? Pode nos afirmar, pelos
conhecimentos e pela experiência que tem, se essa água poderá ser tratada e
consumida em Belo Horizonte, como vem sendo consumida a água do Serra Azul, que
vem de uma bacia onde uma mineradora está operando? É essa a minha pergunta.
A Sra. Valéria Caldas - Os estudos mostraram
que não haverá impacto na qualidade da água, porque o minério de ferro é
inerte. A circulação de água não traz elementos que alteram a qualidade dessa
água. A água retirada no rebaixamento tem ótima qualidade, tem padrão de
qualidade. No termo de compromisso assinado entre Copasa e MBR, em 1998,
prevemos a qualidade da água que a MBR deveria fornecer à Copasa. Mesmo se
ocorresse algum problema que não tenha sido identificado pelos técnicos, a MBR
se comprometeu a repor a água na qualidade exigida pela Copasa. Nossa
experiência mostra que o minério de ferro é inerte. É diferente de um minério
como o carvão, que é acompanhado de sulfetos. Na hora do beneficiamento desse
minério, ocorre formação de águas ácidas. No caso do minério de ferro, não
ocorre esse tipo de processo químico e hidroquímico. Não haverá possibilidade
de... (- Inaudível.) se ocorrer alguma contaminação durante a operação da mina.
Mas isso também é pouco provável de ocorrer, porque há um poço para
desaguamento, revestido. São tomados todos os cuidados para que não ocorra essa
contaminação. Mas, se houver, a empresa deverá repor em qualidade. Nossa grande
preocupação é com a quantidade. No momento, todos os técnicos acompanharam e
estavam preocupados sobre o quanto de vazão a empresa poderia perder nessas
captações ao Sul de Belo Horizonte, que abastecem a região Sul de Belo
Horizonte. Ficou demonstrado que haverá impacto na vazão e que esta poderá ser
reposta com a vazão retirada no rebaixamento.
O Deputado
Domingos Sávio -
Por fim, a senhora mencionou que está há 15 anos na Copasa, passou por várias
administrações, por vários Governos nessa empresa pública, e é uma profissional
que acompanhou esse processo. Farei uma última pergunta.
De acordo com o que foi dito, de maneira
controversa, peço que a senhora nos informe se em algum momento, especialmente
nessa fase final da conclusão - a senhora nos relatou que os estudos começaram
no final da década de 80, que veio autoridade internacional e chegou-se a um
acordo para exigir medidas mitigadoras e, mais do que isso, medidas
compensadoras -, houve ou há alguma pressão política de quem quer que seja
sobre a senhora, como profissional de carreira, ou sobre alguém que conhece
para que a Copasa concordasse ou facilitasse a liberação dessas licenças. O
assunto foi tratado tecnicamente, os técnicos puderam fazer suas reflexões,
suas exigências ou se sobrepôs à análise técnica alguma pressão política de
alguma autoridade ou de quem quer que seja? A senhora tem conhecimento sobre
isso?
A Sra.
Valéria Caldas - Não
ocorreu nenhuma pressão. Tivemos todas as condições para discutir, para
conversar com o consultor e para realizar os estudos da melhor forma possível.
Em 1995, ainda havia um questionamento da Copasa se o manancial dos Fechos
seria o mais impactado em relação à vazão do rebaixamento do lençol freático.
Mas não se sabia qual era o tamanho desse impacto, sabia-se que o manancial dos
Fechos seria o mais afetado. Em uma reunião na Copasa nessa época, falamos que
sabíamos que o manancial dos Fechos seria afetado. Como os técnicos queriam
saber o quanto o manancial seria afetado, traçamos um plano de ação com o Prof.
Rafael Rúbio para termos uma idéia de quanto seria esse impacto. No final de
1997, ele concluiu o restante dos estudos. Durante todos esses anos a Copasa
foi muito rigorosa, foram feitas inúmeras discussões técnicas e, em nenhum
momento, houve solicitação para que os estudos fossem interrompidos ou que
fossem conclusivos. Enquanto os técnicos da Copasa não se deram por satisfeitos
com o resultado, os estudos não terminaram. Na verdade, os estudos fazem uma
previsão do que poderá acontecer antes que ocorra o rebaixamento. Quando
começar o rebaixamento do lençol, você terá que acompanhar e monitorar isso bem
de perto para ver se o que está ocorrendo é igual ao que foi previsto e tomar
todas as medidas necessárias para ajustar as condições previstas inicialmente.
O Deputado
Domingos Sávio - De
antemão agradeço à Dra. Valéria Caldas; ao Deputado Antônio Júlio, que propôs o
requerimento convidando a Dra. Valéria - acho que ela trouxe informações
extremamente esclarecedoras -; ao Prefeito Waldir Salvador de Oliveira; e ao
Deputado Fábio Avelar, autor do requerimento. Este relator sente-se
contemplado, Sr. Presidente.
O Deputado
Irani Barbosa - Pela
ordem, Sr. Presidente.
O Sr.
Presidente - Estamos
na fase de questionamentos.
O Deputado
Irani Barbosa - Numa
questão de ordem que fiz sobre uma denúncia do Prefeito de Itabirito a respeito
de minerações de areia, de ardósia, etc., solicitei ao Presidente que
antecedeu V. Exa. o espaço como
testemunha para denunciar impactos ambientais que estão acontecendo não só no
Município de Nova Lima, mas também em outros Municípios. Gostaria desse espaço
que me foi garantido.
O Sr.
Presidente - V.
Exa. terá esse espaço logo após a fase dos questionamentos.
O Deputado
Irani Barbosa - Sr.
Presidente, foi-me garantido espaço pelo Presidente anterior logo após as
denúncias do Prefeito Waldir. Quero saber se V. Exa. está anulando as decisões
do Presidente anterior e deixará passar a fase em que estamos com todos os
questionamentos para fazer.
O Sr.
Presidente - De
forma alguma, estou anulando as decisões do Presidente anterior.
O Deputado
Irani Barbosa - Então,
gostaria que V. Exa. me desse esta oportunidade, até porque o Presidente que o
antecedeu foi condescendente. Pedi a questão de ordem, porque não era momento
de o Prefeito Waldir fazer as denúncias que fez aqui.
O Sr.
Presidente - Neste
momento, estamos na fase de questionamento. A contribuição de V. Exa. será de
grande valia, mas agora faremos os questionamentos. Com a palavra, o Deputado
Antônio Júlio.
O Deputado
Irani Barbosa - Deputado
Antônio Júlio, conceda-me um aparte
para ajudá-lo a elucidar os seus questionamentos?
O Sr.
Presidente - Informo
ao Deputado Antônio Júlio, que seria desnecessário fazê-lo, mas nessa fase de
questionamento não há aparte.
O Deputado
Irani Barbosa - A
gente vai-se acostumando com a forma ditatorial que temos visto na Comissão
Parlamentar de Inquérito.
O Sr.
Presidente - Deputado
Antônio Júlio, por favor, faça os seus questionamentos.
O Deputado
Antônio Júlio - Dra. Valéria, em algum momento o Sr. Rúbio
chegou a dizer que se fosse Diretor de departamento de licenciamento de algum
órgão ambiental não liberaria o licenciamento de Capão Xavier, pois isso
afetaria os mananciais?
A Sra.
Valéria Caldas - Não,
ele não afirmou isso. Em 1995, quando fazíamos os estudos, ele disse que ainda
não tinha resultados conclusivos. Continuamos os estudos do projeto, mas em
nenhum momento ele afirmou isso.
O Deputado
Antônio Júlio - A senhora tem conhecimento de quem indicou
esse contrato da Copasa com a Frasa?
A Sra. Valéria
Caldas - Na
verdade, quando começou a discussão do projeto Capão Xavier, foi criado um
grupo técnico e um grupo gerencial dentro da empresa que realizava diversas
reuniões com a MBR. Numa dessas reuniões, foi colocado pela Copasa que
gostaríamos que o Prof. Rúbio fizesse os estudos previstos no I Termo de
Compromisso assinado com a empresa.
O Deputado
Antônio Júlio - Quantas vezes ele veio a Minas Gerais cuidar
desse assunto e não para fazer palestras?
A Sra.
Valéria Caldas - Como
foram inúmeras reuniões de 1993 até 1997, não posso precisar.
O Deputado
Antônio Júlio - Na correspondência da MBR ela informa e
afirma com documentos que esses estudos teriam sido elaborados lá, na Espanha,
apenas com os dados fornecidos pela Copasa. Isso é real ou houve um equívoco da
MBR?
Ela afirma o seguinte: “Assim, em junho de 1993,
a MBR contratou a Frasa Ingenieros Consultores mediante contrato de consultoria
técnica, Documento nº 02 em anexo, para a realização de estudos sobre dados
hidrológicos da área de influência da então futura Mina Capão Xavier, a serem
elaborados na Espanha a partir do recebimento de dados coletados em campo pela
MBR e pela Copasa, advindos das sondagens geológicas previstas no termo firmado
com a Copasa. Tal contrato tem prazo de duração de 22 dias.” O Sr. Rúbio veio
aqui ou a Copasa e a MBR enviaram as informações para ele lá, na Espanha, como
afirma o documento da MBR?
A Sra.
Valéria Caldas - Na
verdade, foram as duas coisas. Ele veio aqui com dois técnicos que fazem parte
da sua equipe técnica. Tudo era um estudo. Ele estabeleceu a rede de
monitoramento, qual deveria ser a metodologia do estudo, quais os dados a
Copasa e a MBR deveriam fornecer para que chegasse aos resultados do seu
estudo. Depois que foi estabelecida essa rede de monitoramento - o que deveria
ser monitorado e quais os dados deveriam ser enviados à Frasa - os dados foram
sendo enviados à Frasa e ele os estudava. Ele não fez, necessariamente, visita
a campo e não teria, necessariamente, de estar aqui o tempo todo para realizar
esse estudo.
O Deputado
Antônio Júlio - Não
havia ou não há no Brasil, especialmente em Minas Gerais, empresa ou
engenheiros dessa área capacitados para fazer esse estudo. Tinha de haver esse
monitoramento? Ele não poderia apresentar nenhum estudo que tivesse validade no
Brasil, porque as leis brasileiras são bastante claras nesse sentido, o estudo
tem de estar registrado e, se for traduzido, tem de haver tradutor oficial.
Nada disso aconteceu. No Brasil, não havia ninguém para acompanhar esse estudo?
Quando eu e os Deputados Adalclever e Leonardo visitamos essa empresa lá, na Espanha - na
verdade, ela funciona numa casa, não há uma estrutura grande -, conversamos com
a pessoa que nos acompanhava e ela nos disse que hoje os engenheiros mais
qualificados e mais requisitados na Europa são os brasileiros. Por que a Copasa
optou por indicar uma pessoa fora do nosso País?
A Sra.
Valéria Caldas - Na
verdade, naquela época não havia no Brasil técnicos com experiência em
desaguamento de mina. Atualmente, há. Naquela época não havia, porque a
empresa, as minerações, entendiam que o importante era retirar aquela água do
rebaixamento e também não tinham conhecimento dos impactos que poderiam causar
em nascentes, em mananciais superficiais. Não havia alguém com experiência no
Brasil que participasse desde a previsão de um estudo dessa magnitude. Em
algumas empresas de mineração, quando a água para a mineração virava um
problema - a água de mineração é um problema, porque ela tem de ser rebaixada
para extrair-se o minério - a Copasa contratava algum consultor, alguém que a
orientasse como retirá-la para que ela pudesse minerar, mas não se avaliava
qual impacto seria causado ao manancial com a sua retirada. Depois que o Prof.
Rúbio veio ao Brasil para participar desses congressos e visitar essa área,
sentimos que ele tinha capacidade. Além de avaliar como a água deveria ser
retirada para que pudesse ocorrer a mineração, ele estava preocupado com as
questões ambientais, ou seja, quais os impactos poderiam ser causados nos
mananciais e nas nascentes. Naquela época, acreditamos que era uma pessoa
qualificada e, o nosso conhecimento aqui, no Brasil, não nos permitiu
identificar uma empresa, um consultor com as qualidades do Prof. Rúbio.
O Deputado
Antônio Júlio - A
senhora tem conhecimento de que no processo - aliás, que envolveu a Prefeitura
no início - os estudos contratados pela Prefeitura são totalmente divergentes
da Frasa e, mesmo assim, foi dado o licenciamento?
A Sra.
Valéria Caldas - Os
estudos da Prefeitura não foram enviados oficialmente à Copasa. A Copasa
entregou à Prefeitura todos os estudos do Prof. Rafael realizados pela Frasa. A
Copasa não foi informada oficialmente. Tenho conhecimento, mas “en passant”,
por conversas com técnicos. Mas não tive acesso a esse documento que pudesse
analisar e ler.
O Deputado
Antônio Júlio - Não
sei se a pergunta que farei agora é para a senhora. Se não for, peço desculpas.
O trabalho contratado pela Prefeitura de Belo Horizonte à Copasa - acho que a
Prefeitura de Belo Horizonte é que pode sofrer as conseqüências dos problemas
hidrológicos -, não teve importância para a Copasa?
A Sra.
Valéria Caldas - De
forma alguma. Na medida em que a Frasa forneceu os dados à Prefeitura, a Copasa
solicitou à Prefeitura que enviasse esses estudos assim que tivesse os
resultados conclusivos. Mas não foram enviados.
O Deputado
Antônio Júlio - Não foram enviados porque a Prefeitura não
quis ou porque a Copasa não cobrou?
A Sra.
Valéria Caldas - A
Copasa chegou a cobrar uma vez os estudos da Prefeitura.
O Deputado
Antônio Júlio - Saindo
um pouco da Mina Capão Xavier, a senhora tem conhecimento do que está sendo
considerado como invasão da MBR na Estação Ecológica de Fechos, e quais as
providências que foram tomadas pela Copasa e pelos órgãos ambientais?
A Sra.
Valéria Caldas - Aproximadamente
no dia 18 de fevereiro deste ano, técnicos da Copasa que trabalham na Estação
Ecológica de Fechos me convocaram para fazer uma vistoria técnica no local,
onde, segundo eles, estava ocorrendo um loteamento. Fui até lá e verifiquei que
não se tratava de loteamento mas da abertura de uma estrada, de uma praça de
sondagem. Na mesma hora, comuniquei a MBR e perguntei se estavam fazendo
sondagem geológica próxima à região do manancial da Copasa. Confirmaram que sim
e, imediatamente, informei que avisaria à gerência do Parque do Rola-Moça o
fato ocorrido.
Isso foi numa sexta-feira. Na segunda-feira
seguinte, o gerente do parque, com um Cabo da Polícia Ambiental, compareceu ao
local e foi constatada a área que sofreu intervenção. Na parte da tarde, não
compareci, mas foi lavrado um auto de infração pela Polícia Ambiental. Essa foi
a providência da Copasa: acionar o órgão ambiental competente.
O Deputado
Antônio Júlio -
E o que aconteceu a partir daí?
A Sra.
Valéria Caldas -
Minhas informações referem-se ao Parque do Rola-Moça, que cobrou a recuperação
da área, que foi embargada. A empresa deverá recuperar a área e colocar a
cerca, porque na região não há cerca de divisa da estação ecológica.
O Deputado
Antônio Júlio -
A MBR continua fazendo essa prospeção na área?
A Sra.
Valéria Caldas -
Não, a área foi embargada e deverá ser recuperada de acordo com a exigência
ambiental do IEF.
O Deputado
Antônio Júlio -
A senhora não se lembra com quem conversou na MBR?
A Sra.
Valéria Caldas -
Eu comuniquei o ocorrido ao Gerente de Meio Ambiente da MBR, Sr. Leandro
Amorim.
O Deputado
Antônio Júlio -
Mas quem assumiu a multa foi um tal de Sr. Eduardo. A senhora o conhece?
A Sra.
Valéria Caldas -
Sim, Carlos Eduardo. Comuniquei-me com a MBR na sexta-feira, depois da vistoria
que fiz no local, e, na segunda-feira, quem lá compareceu foi o Sr. Carlos
Eduardo.
O Deputado
Antônio Júlio -
A abertura - não vou falar invasão, porque é uma palavra dura demais - dessa
estrada pela MBR foi executada na sexta-feira ou o pessoal da vigilância só viu
a sua execução na sexta-feira?
A Sra.
Valéria Caldas - Acredito
que foi vista na sexta-feira, mas já havia sido realizada, porque já não havia
máquina nem pessoas trabalhando no local. Então, a intervenção na área já havia
sido realizada.
O Deputado
Antônio Júlio -
E quais providências deveriam ser tomadas pelos órgãos ambientais nesse caso?
A Sra.
Valéria Caldas - O
que foi feito: lavrou-se um auto de infração, mas, com relação ao IEF, não
tenho informações sobre o procedimento.
O Deputado
Antônio Júlio -
A Copasa acompanha o desenrolar do processo ou sai da sua alçada?
A Sra.
Valéria Caldas - A
Copasa acompanha na medida em que faz a denúncia e quer a recuperação das
intervenções na área de propriedade sob sua responsabilidade, uma vez que tais
intervenções podem causar alterações na qualidade e na quantidade de água dos
mananciais.
O Deputado
Antônio Júlio -
Estou fazendo essas perguntas de datas, Sr. Presidente e senhor relator, por
causa de algumas coincidências. Acho que isso é importante para o nosso
trabalho de finalização.
O trabalho da Frasa foi feito antes de 2003, e
justamente na mudança de governo o processo andou rapidamente. O licenciamento
foi liberado muito rápido, apesar de já estar sendo discutido desde 1992,
quando os Prefeitos de Belo Horizonte Célio de Castro e Patrus Ananias não o
autorizaram. O Procurador achou que engoliríamos o que disse aqui sobre a
questão jurídica: que a Prefeitura não depende de autorização legislativa para
liberar a servidão. Então, desde o começo, as coisas não estavam funcionando,
mas, de uma hora para outra, tudo pôde, incluindo o parecer do Procurador da
Prefeitura, que era contrário até 2003 e, depois, mudou de idéia, porque achou
que estava equivocado. São essas coincidências que estamos levantando. Por que
houve essa facilitação?
Quero perguntar à Dra. Valéria, como geóloga,
moradora e cidadã de Belo Horizonte - não vou dizer certeza porque ela diz que
estudos são previsíveis e ninguém tem certeza do que acontecerá, e entendo bem
isso -, se pensa que haverá ou não impactos.
Fiquei muito triste com uma doutora da Feam que
veio aqui e disse que a lei não proíbe, exploração em mananciais de águas mas
proíbe sim. A lei é muito clara, mas cabe interpretação: desde que não haja
comprometimento da qualidade da água. Então, como geóloga, moradora, cidadã, e
como estamos aqui hoje - em alguns momentos, saímos da condição de parlamentar
-, a senhora pensa que haverá comprometimento da qualidade das águas do
manancial de Capão Xavier?
A Sra.
Valéria Caldas - Como
já expliquei, quanto à questão da qualidade, estamos tranqüilos. O que mais nos
preocupa é a quantidade. Poderá ocorrer reposição, e deverá ser feita. Mas
como?
A Copasa não permitirá o início do rebaixamento
se todas as estruturas de reposição das águas não estiverem prontas. Ela tem
conversado com a MBR para não haver nenhum prejuízo quanto à quantidade. Não
podemos ficar sem abastecer a população de Belo Horizonte. Portanto, com
relação à qualidade não, mas, com relação à quantidade, os estudos foram feitos
para determinar os impactos.
Muitas vezes ouvi discussões técnicas sobre a
minimização desses impactos. A minha posição como geóloga é que qualquer
atividade humana causa impactos no meio ambiente. Não há como uma atividade
desenvolver-se sem causar impactos ambientais, umas menos, outras mais, mas
existem formas técnicas de minimizá-los. Agora é preciso que os órgãos
ambientais, os órgãos fiscalizadores e a própria Copasa trabalhem acompanhando
o empreendimento. Tudo que for previsto no estudo de impacto ambiental tem que
ser monitorado e muito bem avaliado, para que não haja prejuízos. Acredito que,
se todos os órgãos ambientais e a Copasa acompanharem o processo com seriedade,
como fizeram até agora, conseguirão verificar como os impactos estão ocorrendo
e como deverá ser feita a sua reposição.
O Deputado
Antônio Júlio -
A senhora acompanhou todo esse processo, e, pelas informações e documentos que
temos, nenhuma empresa contratada como consultora afirmou que não haverá
impactos no manancial de água. Todas elas disseram que poderá ou deverá haver;
se isso acontecer, poderá buscar-se tal situação mitigadora. Então, a senhora
não acha que é muito risco não ter pelo menos 80% de certeza do que acontecerá?
Pelos documentos que chegaram a esta Comissão, nem a Frasa nem a Copasa nem a
Prefeitura, que está muito divergente em relação a esses estudos, afirmaram que
não haverá impactos na qualidade das águas.
Como a senhora vê isso? Por que nenhuma empresa
fez essa afirmação? Se elas foram contratadas, deveriam dar um parecer. A
senhora não acha que, com isso, estão prevendo alguma catástrofe à frente para
dizer depois que avisaram que não sabiam, porque não havia estudos? A senhora
não acha que está caminhando para essa situação?
A Sra.
Valéria Caldas -
Com relação à qualidade?
O Deputado
Antônio Júlio -
É, porque nenhuma das empresas consultadas ou os consultores contratados pela
MBR ou pela Copasa afirmou que não haverá impacto. Como estamos afirmando que
pensamos que haverá, há aqueles que pensam o contrário. Mas os estudos
apresentados nos documentos afirmam que não haverá esse impacto na qualidade
das águas. Aliás, não afirmam, dizem que poderá ocorrer e, se ocorrer, pode-se
buscar água não sei de onde.
Faço outra pergunta para complementar: a senhora
conhece a CPI contra a MBR de 1975? Com certeza, não.
A Sra.
Valéria Caldas -
Não.
O Deputado
Antônio Júlio -
Eu gostaria de avisá-la que tudo isso que estamos discutindo agora já foi
discutido em 1975, época em que a MBR também assumiu alguns compromissos com
Belo Horizonte, mas não os cumpriu. Isso foi há 30 anos. Vou enviar para a
senhora as notas dessa CPI, até mesmo para conhecimento histórico das
atividades no entorno de Belo Horizonte.
Mas a pergunta que faço à senhora é a seguinte:
já que não houve afirmação de que não haverá impacto. Isso está claro, sempre
dizem deverá ou poderá. Qual é o posicionamento da senhora frente a essa falta
de afirmação positiva daqueles que foram consultados pela Copasa para fazer o
estudo geológico da Mina Capão Xavier?
A Sra.
Valéria Caldas -
Conhecimento técnico nasce também de observação de atividades que estão
acontecendo. E as atividades que ocorrem no Quadrilátero Ferrífero mostram que
a água que sai do rebaixamento do manancial do lençol freático possui ótima
qualidade. Então, a partir disso e pela análise hidroquímica, percebemos que o
minério de ferro é inerte e que, se todos os cuidados forem tomados, não haverá
problema de qualidade. Por isso na questão de qualidade penso que não teremos
problemas. Vejo que a informação técnica parte muito da observação do que já
vem ocorrendo, da experiência de trabalhos que vêm sendo desenvolvidos. E todos
esses locais mostram que não há comprometimento da qualidade.
Agora, como disse, a empresa terá que tomar
todos os cuidados para que não haja contaminação da água durante a extração,
durante o processo de lavra.
O Deputado
Antônio Júlio -
E quanto à formação do lago? Qual é a previsão da Copasa relativamente à
qualidade da água? Chegou-nos um estudo hidro... - não me lembro do nome - que
diz que, na cava que será reserva, já que falam de reserva, a água não terá
qualidade, porque sofrerá transformação. A Copasa levou isso em consideração?
A Sra.
Valéria Caldas -
Quanto à qualidade da água do lago, também ocorreram diversas discussões
técnicas na Copasa. Por ser um lago de grande profundidade, preocupamo-nos com
a sua qualidade. Para que esse lago não tenha suas águas comprometidas com
relação à qualidade, não deve haver atividade econômica. Então, no termo de
compromisso assinado com a MBR em 1998, prevendo que não poderia haver
contaminação da água do lago por qualquer atividade econômica que ali fosse
desenvolvida, pensamos que essa área poderia ser transformada e doada ao Parque
Estadual do Rola-Moça, como forma de impedir que qualquer atividade econômica
seja instalada ao redor do lago, para que não haja contaminação das suas águas.
O Deputado
Antônio Júlio -
Então, a senhora acha que o lago que será formado também não terá a mesma
qualidade da água de hoje, cuja classificação é especial, como estamos
aprendendo aqui? A água do lago a ser formado não será de classe especial,
inclusive de acordo com os estudos que já foram aqui apresentados - não sei se
pela Copasa ou pela Feam. Quais serão as conseqüências para a população de Belo
Horizonte?
A Sra.
Valéria Caldas - Não
tendo atividade econômica, o lago... O que pode trazer uma contaminação para o
lago? Esgotos domésticos ou alguma atividade agrícola que use fertilizantes
poderiam propiciar a formação de matéria orgânica no lago e desenvolver algas
que inviabilizariam a utilização das águas desse lago. No caso, se a área não
tiver nenhuma utilização e for anexada ao Parque do Rola-Moça, não haverá esse
tipo de problema.
O que contribui para a deterioração das águas de
um lago é principalmente o aporte de fósforo. Então é importante ressaltar que,
nesse lago, nenhuma atividade econômica deverá ser desenvolvida ao seu redor
para que não haja risco de contaminação das suas águas.
O Deputado
Antônio Júlio -
A senhora foi nomeada pela APA-SUL para vistoriar aquele acidente ambiental
ocorrido na Mina de Tamanduá pela MBR, por extravasamento de grota fria. Na
opinião da senhora, qual foi a responsabilidade da MBR naquele acidente?
A Sra.
Valéria Caldas -
Esse acidente ocorreu em 2000 ou 2001.
O Deputado
Antônio Júlio -
Houve danos ambientais significativos? A empresa foi autuada?
A Sra.
Valéria Caldas - Posso
contar a história porque participei da vistoria técnica. Parece-me que isso
aconteceu em 2001. A população de Macacos convocou a Copasa para verificar uma
descida de lama que ocorreu no povoado de São Sebastião das Águas Claras. Eles
não sabiam o que estava ocorrendo, de onde estava descendo aquele material. Em
nossa estação de tratamento do Rio das Velhas, estávamos também sentindo um
aumento da turbidez da água. Fomos a campo para verificar o que estava
acontecendo na bacia do Ribeirão Macacos. Chegamos ao Córrego Grota Fria e
verificamos que houve um extravasamento na barragem. Pilhas que estavam localizadas
na montante, com muita chuva, deslizaram-se, havendo vazamento de sedimentos
pelo vertedouro. Correram sedimentos e houve inundações até Macacos, no povoado
de São Sebastião das Águas Claras. Foi um acidente ambiental e a empresa foi
autuada. Ela teve de fazer toda a limpeza da região afetada. Pelo que sei e
acompanhei, ela fez toda a recuperação afetada de São Sebastião das Águas
Claras.
O Deputado
Antônio Júlio - Houve
um auto de infração. A senhora sabe se houve seqüência?
A Sra.
Valéria Caldas - Quando
identificamos o fato ocorrido, comunicamos à Gerência de Meio Ambiente da
Empresa o que havíamos constatado. Ele foi também comunicado à Fundação
Estadual do Meio Ambiente. A empresa disse-nos que já estava mostrando à
fundação como ocorreu o acidente.
O Deputado
Antônio Júlio - Vou
fazer uma pergunta ao Prefeito Waldir Salvador de Oliveira. Sr. Prefeito, o
senhor disse que, quando houve as audiências públicas, não havia Deputados.
Realmente, não havia, porque não fazíamos parte do processo. O senhor tem
conhecimento de que, logo após a licença prévia, houve uma visita de Deputados
à MBR?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Não
tenho.
O Deputado
Antônio Júlio - O
senhor estava lá no dia 2/3/2004?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Não estava.
O Deputado
Antônio Júlio - Estou fazendo a pergunta porque o senhor deu
muita ênfase ao fato de não haver Deputados presentes. A partir do dia 3 de
março, estávamos engajados no processo.
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - O senhor pediu, no início dos trabalhos, que não
fugíssemos do assunto. Estou fazendo o que V. Exa. pediu. O que me foi
perguntado é se, nas audiências públicas e nas audiências da Câmara de
Mineração, onde foram previstos e acompanhados os licenciamentos, havia
Deputados. Respondi ao que me foi perguntado.
O Deputado
Antônio Júlio - Houve
audiência pública para tratar desse assunto?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Não sei.
O Deputado
Antônio Júlio - O
senhor sabe que o Dr. Joaquim,
assessor, impediu a realização da audiência pública em Belo Horizonte?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - O senhor está afirmando, mas não sei se ele
impediu.
O Deputado
Antônio Júlio - Como membro da Apa Sul, não sabe disso?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Sou membro da Apa Sul e dou satisfação de tudo
que acontece na Apa Sul. Não vou cair em contradição, sou bem cônscio do que
estou falando. Além do mais, não sei de nenhum impedimento. Em qualquer
empreendimento minerador, a audiência pública é aberta, é feita no local, e dela
pode participar quem quiser, os Municípios limítrofes a Belo Horizonte,
inclusive. Nada diferente disso.
O Deputado
Antônio Júlio - Essa
pergunta atende ao que estamos querendo. Houve uma influência do Dr. Joaquim,
impedindo a realização da audiência pública.
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Acho que essa pergunta é pertinente ao Dr.
Joaquim.
O Deputado
Antônio Júlio - O
senhor me permite fazer as perguntas? Não é dessa forma que o senhor vai-me
constranger. O senhor está como testemunha, fez aqui um juramento. Gostaria
que esperasse que eu fizesse as
perguntas.
O senhor estava presente naquela audiência
realizada aqui na Assembléia?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Estava.
O Deputado
Antônio Júlio - Aquilo
representou no processo o quê?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Mais uma fase de elucidação do processo,
esclarecendo a comunidade presente, os licenciadores, a empresa, os Deputados.
Isso fez com que a imprensa tomasse conhecimento da complexidade do projeto.
Acho que só ajudou a elucidar o processo, nada mais.
O Deputado
Antônio Júlio - Por
que, na sua opinião, vieram tantas pessoas que não tinham nada a ver com o
processo vaiar aqueles que eram contra ou que se estavam posicionando contra
esse licenciamento? Por que aquela pressão, se o processo era tão claro, como
bem disse a MBR?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Vaias, pressões e aplausos são pertinentes ao
ser humano. Bem e mal há em qualquer lugar. Estava, num sábado à tarde em Belo
Horizonte, quando vi uma passeata na Av. Nossa Sra. do Carmo contra o Capão
Xavier. Se o senhor inquirisse cada um deles, 5% não sabiam o que estavam
fazendo ali. Não posso responder a sua pergunta, pois não posso responder pelo
comportamento pessoal das pessoas. A Assembléia é Casa do Povo. Quem quiser
fazer pressão, tem todo o direito. É legítimo. Temos de saber suportar,
entender, apoiar, participar, ouvir e chegar à conclusão adequada.
O Deputado
Antônio Júlio - Estou
fazendo essa pergunta porque é bastante pertinente pelo que ouvimos. Foi uma
das audiências piores que fizemos até hoje. Já enfrentamos a ditadura, mas
tivemos de sair escondidos, com medo do que aconteceria naquela audiência. Foi
uma coisa totalmente preparada. A agressão não foi física porque temos um pouco
de tranqüilidade. Mas queria dizer aos que nos estão ouvindo sobre as
importâncias e as coincidências que esse processo começou em 1993. Falo da
pressão e da forma como estão sendo conduzidos os trabalhos. Acho que as datas
são importantes para que não fique nenhuma dúvida, Deputado Domingos Sávio.
Entramos com o pedido da CPI em 19/10/2004. Conseguimos que fosse feita uma
leitura dos... (- Inaudível.) ...no dia 10/3/2005. Concorda? A leitura do
requerimento, em 10/3/2004. No dia 19/10/2004, foi protocolado o documento. No
dia 3 de maio, foi lido e instalada agora. As datas são importantes. A licença
prévia foi autorizada em março de 2003 e a instalação em dezembro de 2003. As
datas são mais coincidentes com o caso da invasão da MBR, da utilização na
sexta-feira. A licença de operação foi em 2004. Demoramos um ano, obstruindo os
trabalhos, para que a CPI fosse instalada. Houve muita luta. Estou falando isso
para mostrar a pressão para que esta CPI fosse montada. Informamos àqueles que
nos estão ouvindo, que vamos colocar no “site” da Assembléia, a CPI de 1975.
Ela está-se repetindo no Estado de Minas Gerais. A MBR faz um monte de
compromissos e não cumpre nenhum. Se houver problema na água, sabem o dia que
ela vai cumprir os compromissos com a Copasa? Nunca. Ela nunca cumpriu os
compromissos com a população de Minas Gerais. Uma empresa que é multada e tenta
escapar das multas de outras formas, não por procedimentos legais, não é
confiável. Esse é nosso posicionamento.
Ficaram caracterizadas as dúvidas que estamos levantando, e o pior, as
coincidências. É nisso que vamos chegar lá na frente para que o nosso relator
possa ter capacidade e tranqüilidade para fazer o relatório final, mostrando as
coincidências nesse licenciamento específico da Mina Capão Xavier.
O Sr.
Presidente - Indago
aos Deputados se há algum questionamento a ser feito.
Pela ordem, o Deputado Irani Barbosa.
O Deputado
Irani Barbosa - Vou
utilizar o tempo que me concedeu, pois me parece que V. Exa. se retrata nesta
CPI como aqueles coronéis do Vale do Jequitinhonha. Não quero crer nisso, mas,
às vezes, passa-me a impressão de que é do tempo em que o Vale do Jequitinhonha
era comandado por coronéis. Desde o primeiro momento, fui alijado desta CPI.
Não sei o porquê, pois não sou tão intempestivo e criador de casos assim.
O Sr.
Presidente - Deputado
Irani Barbosa, sou tão democrata que me permito ouvir até os impropérios de V.
Exa.
O Deputado
Irani Barbosa - Não
disse nenhum impropério a respeito de V. Exa. Pelo contrário, admiro-o como
homem capaz e inteligente.
O Sr.
Presidente - Gostaria
que V. Exa., até pelo adiantado da hora e para que a CPI cumpra seu objetivo,
pela lucidez que lhe é peculiar e pelo compromisso que tem com o povo de Minas
Gerais, ativesse-se às questões da CPI, fazendo as indagações que achar
necessárias.
O Deputado
Irani Barbosa - Não
entendo por que V. Exa. fala do adiantado da hora, pois queria fazer meu
questionamento bem mais cedo. Talvez, elucidássemos alguma coisa a mais.
O Sr.
Presidente - Questão
de ordem e disciplina.
O Deputado
Irani Barbosa - Isso.
Prendo-me, em primeiro lugar, às denúncias que gostaria de fazer à CPI. Como
houve liberalidade para denunciar outros crimes ambientais que ocorrem em nosso
Estado, gostaria de dizer que a questão do lago de Águas Claras é séria. Aprovamos
nesta CPI uma visita ao lago, mas foi engavetada porque fomos praticamente
tapeados. Não digo isso de V. Exa., mas pelo contexto fomos tapeados com uma
visita à Mina de Capão Xavier. Nem
desci do ônibus porque vi parlamentares embasbacados com o funcionamento de uma
escavadeira de porte médio, da marca Líber, se não me engano. Estávamos dentro
do ônibus, confortavelmente instalados, cobertos por uma neblina. Não se via
mais de 10m ao redor. Todos se deram por satisfeitos. Quando houve solicitação
da minha visita ao lago de Águas Claras e à Mineração do Capão Xavier, a
situação complicou-se. Entendemos os interesses que norteiam alguns técnicos e
políticos interessados no assunto, mas vou insistir na visita ao lago de Águas
Claras.
Venho denunciar que, quanto ao lago de Águas
Claras, não temos um laudo geológico para garantir que ele não desmorone, tanto
para o lado de Nova Lima quanto para o lado de Belo Horizonte. A desastres
ambientais dessa monta, assistimos, via de regra, quase todos os meses na televisão,
na Itália, na Colômbia, nos Estados Unidos, no Peru. Maciços inteiros descem
por vales, causando desastres monstruosos. Citei aqui o caso claríssimo da
barragem de rejeitos da Mineração Rio Verde, que não era uma barragem de
rejeitos, mas uma cava extinta utilizada para colocação de material inerte das
mineradoras. Ela desmoronou. Isso pode não ser importante, mas matou cinco
pessoas. Mas isso também não tem importância para alguns técnicos e para as
pessoas que se dizem responsáveis. Pessoas que vistoriaram o local sabiam
daquele desastre, sabiam que aquilo era iminente. Denuncio, aqui, Sr.
Presidente, que há muita falta de investigação.
Quero que esta Comissão faça uma visita ao lago
de Águas Claras e que, imparcialmente, contrate um geólogo também imparcial e
engenheiros civis competentes em formação de barragens para nos dizer o risco
que corremos, tanto para o lado de Nova Lima, quanto para o lado de Belo
Horizonte. O umedecimento do maciço da Serra do Curral pode vir a causar um
desastre de proporções incalculáveis para a população.
O Município de Nova Lima sempre se manteve
silente com relação à mineração. A mineração é mais importante que o homem,
tanto é que a silicose ceifou centenas de vidas naquela cidade, sempre com a
omissão do poder público. O Município acalentou a Anglogold, premiando-a
freqüentemente por assassinar pessoas, sem buscar proteção para o cidadão que
ganhou e perdeu sua vida dentro dos túneis e das galerias da Mina do Morro
Velho.
Surpreende-nos, Sr. Presidente, não termos
ouvido falar em nenhuma recuperação ambiental e em nenhum monitoramento das
águas hoje depositadas nas galerias da Mina do Morro Velho. Ouvimos, nesta
Comissão, que aquele material não é minério de ferro, mas outro que produz
algas tóxicas. Isso está comprovado, porque os rejeitos da Mina do Morro Velho
produzem arsênico e as algas são utilizadas para produzir o cianureto.
Pode acontecer em Nova Lima o mesmo que
aconteceu em Vazante. Não sei se a senhora tem conhecimento do que vem
acontecendo em Vazante, de onde a mineração da Votorantim retira minério para
produzir alumínio. De vez em quando, aparece uma cratera enorme no chão, porque
a terra desce para dentro da mina.
Aliás, cabe dizer que a Comissão de Meio
Ambiente desta Casa está no meio, mas no ambiente parece que não está. Está
meio alienada. No meio, tenho certeza de que está.
Deixo registrada, nesta oportunidade, a denúncia
do que ocorre em Vazante e um alerta para o que pode ocorrer em Nova Lima.
Podem aparecer crateras, porque os estrumes foram ali deixados sem nenhuma
manutenção, sem nenhuma prevenção de acidente e ameaçam contaminar o manancial
de captação de água do Rio das Velhos, que está a montante do sistema de
bombeamento.
Farei perguntas à Dra. Valéria, como exercício
democrático nesta Casa, que tantos têm interesse em impedir. Mas, como sempre
ganhei minha vida na insistência, a desistência não faz parte daquilo de que
gosto.
Dra. Valéria, peço-lhe que me responda as
perguntas, uma a uma. Primeira: qual é o seu grau de conhecimento em espanhol?
A Sra.
Valéria Caldas -
Em leitura técnica.
O Deputado
Irani Barbosa
- É tradutora juramentada?
A Sra.
Valéria Caldas - Não.
O Deputado
Irani Barbosa
- Se não tem conhecimento em tradução oficial, em que se baseou para dar seu
parecer sobre um laudo feito em língua espanhola? Vale lembrar que a senhora
está sob juramento nesta CPI.
A Sra.
Valéria Caldas -
O relatório da Frasa foi estudado não só por mim na Copasa. Quando alguma
palavra não tinha identidade com o português, recorríamos ao dicionário de
tradução técnica do espanhol.
O idioma espanhol tem similaridade com o
português. Então, não tivemos dificuldade em entender o conteúdo técnico do que
estava escrito no relatório. Em nenhum momento, tivemos dificuldade de
entendimento técnico do relatório.
O Deputado
Irani Barbosa
- Tem mesmo muita similaridade. “Cucaracho”, por exemplo...
A Sra.
Valéria Caldas -
Mas, no caso, essa não é uma palavra técnica. Pode sê-lo para um biólogo.
O Deputado
Irani Barbosa
- Então, a senhora se posicionou tecnicamente. A senhora deu certificação de
...(- É interrompido.)
A Sra.
Valéria Caldas -
Não foi exigido da empresa um relatório dos técnicos.
O Deputado
Irani Barbosa
- E, como técnica, a senhora não se sentiu constrangida de não dar um parecer
conclusivo sobre os questionamentos?
A Sra.
Valéria Caldas -
Essa é uma discussão entre os técnicos da empresa. Foi criado um grupo de
trabalho ... (- É interrompida.)
O Deputado
Irani Barbosa
- Repito a pergunta: como é que a senhora prestou a esta Comissão um depoimento
tecnicamente conclusivo, se não é técnica em tradução de espanhol nem tem um
laudo juramentado da tradução do relatório?
A Sra.
Valéria Caldas -
Como já respondi, foi criado um grupo de trabalho na Copasa para analisar os
estudos. As discussões eram técnicas.
O Deputado
Irani Barbosa
- Os senhores assinaram um termo de responsabilidade com base na tradução, com
base na análise desse laudo?
A Sra.
Valéria Caldas -
Isso não ocorreu.
O Deputado
Irani Barbosa
- Quer dizer que, se amanhã acontecer um desastre qualquer, nenhum dos técnicos
assinou termo de responsabilidade?
A Sra.
Valéria Caldas -
Quando se contrata um consultor, a responsabilidade pela elaboração do trabalho
é do consultor.
O Deputado
Irani Barbosa
- Não perguntei isso. A tradução do trabalho é do consultor. Perguntei se há um
laudo, com tradução juramentada, ou se alguém da Copasa é responsável pela
leitura e pela confirmação do laudo dado pelo Sr. Rafael.
A Sra.
Valéria Caldas -
Não.
O Deputado
Irani Barbosa
- Então, não temos um laudo; temos uma mentira que foi usada como laudo no
processo.
O Sr.
Presidente - Deputado
Irani Barbosa, recorro à sua elegância...
O Deputado
Irani Barbosa -
Estamos tratando de algo que pode criar um desastre ambiental em Belo
Horizonte, e não há tradução juramentada do documento oficial, que é necessário
em todo processo técnico ou jurídico.
Está aqui uma técnica, com todo respeito, que
deve ter formação acadêmica em geologia e em outras coisas mais, mas que não
assina um documento em co-responsabilidade por um laudo feito em espanhol por
um gajo qualquer, e que não tem tradução juramentada.
Portanto, Sr. Presidente, esse laudo não vale
absolutamente coisa nenhuma. Gostaria que V. Exa. respeitasse o meu ponto de
vista.
O Sr.
Presidente -
O ponto de vista de V. Exa. sempre foi respeitado. Meu apelo é quanto ao
excesso verbal.
O Deputado
Irani Barbosa
- V. Exa. citaria onde me excedi verbalmente?
O Sr.
Presidente -
V. Exa. disse que estamos diante de uma mentira.
O Deputado
Irani Barbosa
- O laudo é uma mentira. Se não tem tradução juramentada, se não tem um técnico
assinando e corroborando sua validade no Brasil, o laudo é uma farsa, é uma
mentira. Pediria a V. Exa. que me respeitasse. Gostaria, então, que V. Exa.
afirmasse que o laudo é real, que é verdade, que traduz a realidade.
O Sr.
Presidente -
É assinado por profissionais que merecem o respeito desta Casa.
O Deputado
Irani Barbosa
- Sr. Presidente, o diploma de um médico formado nos Estados Unidos não vale
aqui. É uma farsa o laudo de um gajo da Espanha, que sequer tem equipe de
trabalho; um laudo que, como disse a testemunha, foi traduzido com consultas ao
dicionário por pessoas que não conhecem a língua e não são tradutoras
juramentadas.
O Deputado
Domingos Sávio - Pela
ordem, Sr. Presidente.
O Deputado
Irani Barbosa
- Eu estou com a palavra. O pedido de aparte deveria ter sido dirigido a mim.
O Sr.
Presidente -
Deputado Irani Barbosa, durante os questionamentos, não há aparte. Peço a V.
Exa. que prossiga com as perguntas. Logo a seguir, passarei a palavra ao
relator.
O Deputado
Irani Barbosa
- Com todo respeito, espero que a Dra. Valéria não leve a mal o nosso ímpeto.
Não tenho formação acadêmica, não sou tão educado quanto os demais. Aliás,
pessoas educadas fazem, por exemplo, como José Dirceu e como outros que levam à
população a farsa da fala macia, sem impetuosidade, mas que, por baixo da mesa,
roubam, saqueiam o país e fazem tudo o mais que estamos vendo por aí. Por outro
lado, testemunhamos também um homem simples, como o Lula, em seus arroubos,
dizer que é o mais honesto, o mais honrado, o mais tudo. É isso que, às vezes,
acontece com quem tem pouca formação acadêmica.
Respeito V. Exa. também, mas gostaria de fazer
parte dessa coisa a que chamamos CPI.
A senhora me disse que não há nenhum risco de
contaminação do lago a ser criado na Mina Capão Xavier, desde que ...
A Sra.
Valéria Caldas -
Eu não disse... (- É interrompida.)
O Deputado
Irani Barbosa
- Espere, por favor. Não colocarei a senhora em fria, de forma nenhuma. Mas são
palavras ditas pela senhora. Creio ter ainda uma memória, senão muito, pelo
menos bem privilegiada.
A senhora disse que não há risco de contaminação
do lago a ser formado em Capão Xavier, desde que não haja ali outro
empreendimento seqüencial, sobretudo de natureza urbanística ou industrial, que
possa poluir o lago.
Como a senhora me explica a omissão da Copasa no
lago de Águas Claras, que está sendo formado?
Aliás, Sr. Presidente, apresentei um
requerimento, que gostaria que o senhor depois respondesse, solicitando
informação sobre que equipamentos o Corpo de Bombeiros tem para fazer resgate
num lago de 240m de profundidade e sobre o nível de contaminação daquelas
águas. Há um projeto de construção habitacional ao lado de um lago de 240m de
profundidade.
Dra. Valéria, a Copasa está alheia a tudo isso?
A Copasa não se interessa pelo manancial do Rio das Velhas? A senhora tem
conhecimento de possível avaliação das águas dos túneis da Mina de Morro Velho,
da Anglogold? Ou a Copasa tem compromisso também com a Anglogold, tal qual
parece ter com a MBR?
Gostaria que a senhora me respondesse se existe
análise das águas depositadas nos túneis da mineração de Morro Velho e se a
Copasa está usando o mesmo procedimento de acautelamento com o lago a ser
formado em Águas Claras.
A Sra.
Valéria Caldas -
A antiga mineração de Águas Claras, que hoje está-se transformando em lago,
está a jusante da captação de Bela Fama. Temos grande preocupação, sim, com as
atividades que estão a montante e que podem comprometer a qualidade da água que
captamos para o abastecimento público.
É claro que participamos do Comitê do Rio das
Velhas. A Copasa tem conhecimento de todas as discussões realizadas por aquele
comitê. Mas, o empreendimento de Águas Claras não está a montante de nenhuma
das captações que abastecem Belo Horizonte.
O Deputado
Irani Barbosa
- Então, dane-se? A Copasa nem usou ele(?) para fazer o monitoramento de tudo
que pode ocorrer?
A Sra.
Valéria Caldas -
Não é “dane-se”. Não é dessa forma. Analisamos. É lógico que o lago fornecerá
instrumentos e dados para o que venha ocorrer com o futuro lago de Capão
Xavier. Como o lago de Águas Claras será o primeiro lago formado no Brasil a
partir de uma mineração de ferro exaurida, tudo o que lhes acontecer subsidiará
os estudos para o lago de Capão Xavier.
Se não houver aporte de matéria orgânica, se não
houver algo que possa favorecer o crescimento de algas e a deteriorização da
qualidade da água, provavelmente a água do lago em Águas Claras será de boa
qualidade. O risco, é claro, sempre existe. Depende da forma como for
utilizado.
O Deputado
Irani Barbosa
- Como técnica com formação em geologia, a senhora poderia afirmar que o maciço
da Serra do Curral não será afetado pela umidade que pode causar a
desestabilização no maciço, tanto para o lado de lá, quanto para o de cá, tal o
volume de água que será depositado naquela cratera?
A Sra.
Valéria Caldas -
Não sou especializada em geotecnia, tampouco tenho conhecimento dos estudos que
estão sendo realizados pela empresa sobre a questão geotécnica da estabilidade
do lago e da Serra do Curral. Como na Medicina, na geologia também há diversas
especialidades.
O Sr.
Presidente -
Mas, a senhora, como conhecedora do assunto, pode afirmar que não há risco?
A Sra.
Valéria Caldas -
Não sei, porque não sei que estudos a empresa desenvolveu no local.
O Sr.
Presidente -
Com a palavra, o relator, Deputado Domingos Sávio.
O Deputado
Domingos Sávio -
Sr. Presidente, quero apenas justificar que terei de me ausentar. Peço que,
depois, as notas taquigráficas sejam disponibilizadas, para que eu tome
conhecimento do restante da reunião.
O Sr.
Presidente -
Com a palavra, o Deputado Irani Barbosa, para dirigir perguntas ao Prefeito de
Itabirito.
O Deputado
Irani Barbosa
- Dr. Waldir, Prefeito de Itabirito, popularmente conhecido por Juninho,
poderia, por favor, dizer qual é a sua formação acadêmica?
O Prefeito
Waldir Salvador de Oliveira - Administrador de Empresa.
O Deputado
Irani Barbosa - Então,
Sr. Presidente, nada tenho a lhe perguntar, porque minhas questões são sobre
geologia. Muito obrigado.
O Sr.
Presidente -
Informo aos membros da Comissão que aproveitaremos o quórum para votar alguns
requerimentos.
Com a
palavra, o Deputado Adalclever Lopes,
para a apresentação de requerimento.
O Deputado
Adalclever Lopes - Sr. Presidente,
apresentamos requerimento para que seja convidado o Dr. Leandro Quadros Amorim
para prestar esclarecimentos sobre a prospecção da Estação Ecológica de Fechos,
conforme declaração da Sra. Valéria Caldas, em depoimento a esta CPI.
O Sr.
Presidente - Com
sua permissão, Deputado Adalclever Lopes,
votaremos este requerimento com o da Deputada Lúcia Pacífico, que também
entende que seja convidado o Sr. Leandro Quadros Amorim, Gerente de Meio
Ambiente da MBR, para prestar esclarecimentos a esta Comissão. Em votação, o
requerimento dos Deputados Adalclever Lopes
e Lúcia Pacífico. Os Deputados que o aprovam permaneçam como se encontram. (-
Pausa.) Aprovado.
Com a palavra, o Deputado Domingos Sávio, para
apresentar requerimento.
O Deputado
Domingos Sávio - O
requerimento tem o seguinte teor: “Nos termos regimentais solicita à Copasa o
envio a esta Comissão de cópia do relatório conclusivo decorrente dos estudos
de impacto hidrológico-mineral da exploração da Mina Capão Xavier, realizado
pela empresa Frasa Ingenieros Consultores, em 1998, bem como do termo de
compromisso firmado entre aquela companhia e a MBR, com as medidas mitigadoras
e compensatórias aos referidos impactos sobre os mananciais da região”.
O Sr.
Presidente - Em
votação, o requerimento. Os Deputados que o aprovam permaneçam como se
encontram. (- Pausa.) Aprovado.
Com a palavra, o Deputado Fábio Avelar, para
encaminhar requerimento.
O Deputado
Fábio Avelar - Sr.
Presidente, peço a colaboração dos membros desta CPI, porque o requerimento é
interessante, já tendo sido citado várias vezes em nossas audiências. Na última
reunião foi sugerido pelo depoente Frei Gilvander, que o Prefeito Pimentel seja
questionado como autor de improbidade administrativa em relação ao
licenciamento e à atuação da Prefeitura de Belo Horizonte sobre o acesso à BR.
O requerimento que apresento tem os seguintes termos: “O Deputado que este
subscreve requer a V. Exa., nos termos regimentais, que seja convidado a
comparecer, para prestar esclarecimentos a esta CPI, o Prefeito Municipal de
Belo Horizonte, Sr. Fernando Pimentel”.
O Sr.
Presidente - Deputado
Fábio Avelar, acolho o requerimento de V. Exa., mas faço uma ponderação: esta
Casa é política e não podemos, de forma nenhuma, fugir de sua principal
característica. O Exmo. Sr. Prefeito já está respondendo a uma ação movida
pelos Promotores do Meio Ambiente, sobre a improbidade administrativa. Peço a
V. Exa. que votemos esse requerimento em outra ocasião, depois de analisarmos
seu teor e seu efeito para esta CPI, juntamente com o relator.
O Deputado
Fábio Avelar - Não
há nenhum problema, Sr. Presidente, respeito suas considerações. Espero que o
Prefeito seja ouvido antes da conclusão dos nossos trabalhos. No meu
entendimento, várias dúvidas podem ser esclarecidas, pois ele era Prefeito de
Belo Horizonte naquela oportunidade. Acato a recomendação de V. Exa. e deixo o
requerimento devidamente protocolado.
O Sr.
Presidente - Solicito
à nossa assessoria que examine e encaminhe o requerimento ao nosso relator,
para que se posicione.
Com a palavra, o Deputado Irani Barbosa, para
apresentar requerimento.
O Deputado
Irani Barbosa - Sr.
Presidente, o Deputado que este subscreve requer a V. Exa., nos termos
regimentais, seja enviado a esta Comissão, pela APA-Sul e pela Feam, cópia das
atas das audiências públicas realizadas para os empreendimentos de Capão
Xavier, no Conselho do parque do Rola-Moça e audiência pública no Jardim
Canadá.”
O Sr.
Presidente - Votaremos
o requerimento de V. Exa., mas um dos objetivos solicitados já foi objeto de
requerimento.
O Deputado
Irani Barbosa - Mas
temos três.
O Sr.
Presidente - Estou
apenas comunicando a V. Exa., votaremos o requerimento. Já pedimos cópia à
Feam. Não pedimos cópia da ata da audiência da APA-Sul nem da audiência pública
do Rola-Moça. Votaremos o requerimento do Deputado Irani Barbosa. Os Deputados
que o aprovam permaneçam como se encontram. (- Pausa.) Aprovado.
Com a palavra, o Deputado Fábio Avelar, para
fazer questionamento.
O Deputado
Fábio Avelar - Sr.
Presidente, quero fazer uma indagação à Valéria.
O Sr.
Presidente - Deputado
Fábio Avelar, com a saída justificada do Deputado Domingos Sávio, estamos sem
quórum.
O Deputado
Fábio Avelar - Sendo
assim, falarei sobre a legislação, relativamente a uma afirmação feita pela
Dra. Valéria em seu depoimento sobre a qualidade da água do manancial. É
interessante que isso conste das notas taquigráficas.
Tem sido dito nesta CPI - e é uma questão que
precisa ser bastante aprofundada pelo relator - que o processo de licenciamento
não respeitou a Lei nº 10.793. Isso tem sido dito de uma maneira bastante
contundente. Tenho procurado demonstrar o meu posicionamento contrário a isso,
que não atendeu à legislação.
Quando comentamos alguma coisa, às vezes não
fazemos uma leitura detalhada de toda a legislação. Não abordarei a afirmação
da Dra. Valéria, porque ela foi muito conclusiva ao afirmar que, pelos estudos
apresentados, não existe risco de uma queda na qualidade da água dos
mananciais. Mas, supondo que isso venha a ocorrer, gostaria de me ater
exclusivamente à Lei nº 10.793, citada nesta CPI por diversas vezes.
Em seu art. 4º, a lei estabelece, de maneira
bastante clara, que fica vedada a instalação nas bacias de mananciais dos
projetos ou empreendimentos que comprometam os padrões mínimos de qualidade de
água. O art.6º da mesma lei diz que são atividades permissíveis nas bacias e
mananciais, ressalvada a competência da União. É evidente que o art. 6º nos
remete à Constituição Federal, que estabelece que a atividade de extração de
minerais é da competência da União. Mas, mesmo assim, o legislador estadual foi
muito competente quando estabeleceu, no parágrafo único que, se houver a
possibilidade de contaminação dessas águas, o órgão teria condição de reparar
esse dano. Quero frisar que, segundo informações da Dra. Valéria, não teríamos
esse risco. Quero apenas esclarecer o nosso relator. Tendo em vista que não
posso fazer os questionamentos, agradeço a oportunidade.
O Sr.
Presidente - Concedi
a palavra ao Deputado Fábio Avelar, porque o Deputado Domingos Sávio ainda se
encontrava no recinto. Neste momento, não temos condição legal para continuar a
reunião.
O Deputado
Adalclever Lopes - Sr. Presidente, quero
fazer uma questão de ordem.
Quero esclarecer a fala do Deputado Fábio Avelar,
solicitando que a Dra. Valéria me responda sim ou não.
O Sr.
Presidente -
Não tem validade, Sr. Deputado.
O Deputado
Adalclever Lopes - Não é um questionamento,
mas uma dúvida em relação às palavras ditas pela Dra. Valéria. Pergunto se
garantiu que a água continuará sendo de classe especial.
A Sra.
Valéria Caldas - Referi-me
à qualidade de água do processo de rebaixamento do nível da água. Na atividade
da mina, da forma como será desenvolvida, todos os cuidados devem ser tomados
para que não ocorram carreamentos de sedimentos da lavra. Referi-me à água do
rebaixamento. Se ocorrer algum carreamento de sedimentos da lavra para o
manancial, alterará as características do manancial. Todos os cuidados devem
ser tomados.
O Deputado
Adalclever Lopes - Muito obrigado.
O Sr.
Presidente - Abrirei
uma exceção para que a Deputada Lúcia Pacífico e o Deputado Dinis Pinheiro
façam suas considerações finais, porque nenhum dos dois teve oportunidade de se
manifestar. Com a palavra, a Deputada Lúcia Pacífico.
A Deputada
Lúcia Pacífico - Dra.
Valéria, recentemente tomamos conhecimento de um decreto...
O Sr.
Presidente - Deputada
Lúcia Pacífico, não concedi a palavra para questionamentos, mas apenas para
suas considerações.
A Deputada
Lúcia Pacífico - Não
é questionamento. Tomamos conhecimento de um decreto que consideramos um ganho
para os consumidores. Nas contas de água, o consumidor terá informação sobre a
qualidade da água distribuída pelas empresas, que, no caso de Minas, é feita
pela Copasa. Nós, parlamentares, não temos o conhecimento técnico, não somos
geólogos e estamos aprendendo muito com vocês sobre as atividades de mineração.
Pergunto quais são os padrões mínimos de qualidade da água, e se esses padrões
coincidem com a classificação de classe especial I, II, etc., ou se são fixados
pelo Ministério da Saúde ou Conama.
O Sr.
Presidente - Deputada,
V. Exa. está fazendo questionamentos. Solicito a V. Exa. que os faça por
escrito e, depois, a Dra. Valéria os responderá.
A Deputada
Lúcia Pacífico - Sim,
Sr. Presidente.
O Sr.
Presidente - Com
a palavra, o Deputado Dinis Pinheiro para suas considerações finais.
O Deputado
Dinis Pinheiro - Depois
concederei um aparte ao Deputado Fábio Avelar.
Sr. Presidente, lamentavelmente o Deputado Irani
Barbosa já se retirou. O Deputado Irani Barbosa foi muito rude, áspero e
ofensivo em relação à explanação feita pela Dra. Valéria. Sugiro ao Deputado
Irani Barbosa, por quem tenho grande apreço e amizade, que depois me conceda os
dispositivos legais que determinam a necessidade de se promover a tradução, sob
juramento, conforme relatado por ele.
Pelo que pude observar do currículo do Dr.
Rafael Rúbio, trata-se de uma pessoa altamente renomada, de grande
conhecimento, com uma história de vida maravilhosa e que deve ter sido de grande
importância para a ilustração dos fatos.
Por outro lado, a Dra. Valéria demonstrou grande
conhecimento e teve oportunidade de mostrar ao Deputado Irani Barbosa que
consegue traduzir o espanhol de forma serena e tranqüila, recorrendo ao
dicionário somente em alguns momentos.
Depois encaminharei esse currículo ao Deputado
Irani Barbosa, para que heresias como essa não sejam relatadas e externadas por
ele novamente.
Registro a capacidade e a inteligência da Dra.
Valéria. E, ao mesmo tempo, do Dr. Waldir, Prefeito de Itabirito, que, com
muita serenidade, brilhantismo, conhecimento e experiência trouxe luz
esclarecedora para confirmar o que já está sendo formatado na minha
consciência: não existe nenhuma irregularidade, nenhuma dúvida; esse
licenciamento foi amplamente debatido por Minas durante muitos e muitos anos.
Concedo um aparte ao ansioso e nobre amigo,
Deputado Fábio Avelar.
O Sr.
Presidente - Estou
encerrando a reunião.
O Deputado
Fábio Avelar - Imploro
a V. Exa. que me conceda a palavra, porque é importante. Naquela época não
localizei um artigo importantíssimo e farei sua leitura rapidamente.
O parágrafo único do art. 9º, que foi vetado,
diz que, ocorrendo infração ao disposto no art. 4º desta lei, ou seja, se vier
a ocorrer algum problema na qualidade da água, que é citado no art. 4º, a
Fundação Estadual do Meio Ambiente - Feam -, em conjunto com o poder público e
a Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais - Copasa -, proporá
soluções para normalizar ou remover as fontes de poluição ou degradação
ambiental, às quais se sujeitará o infrator.
Fiz essa leitura para esclarecer. Temos de fazer
uma análise completa.
Cumprimento o Prefeito Juninho e a Dra. Valéria,
técnica da Copasa, que demonstrou, apesar de sua inexperiência em participar de
um ambiente como esse, estar bastante segura até mesmo diante de uma postura
agressiva do colega Irani Barbosa.
O Sr.
Presidente - Agradeço
ao Dr. Waldir Salvador de Oliveira e à Dra. Valéria Caldas. Pedimos desculpas
se alguma colocação foi ofensiva. Se necessário, voltaremos a convidá-los para
participar desta reunião.
Cumprida a finalidade da reunião, a Presidência
agradece a participação do Sr. Waldir Oliveira, da Sra. Valéria Caldas, dos
parlamentares, convoca os Deputados para a próxima reunião ordinária, determina
a lavratura da ata e encerra os trabalhos.