Jornal Hoje Em Dia - 31/05/2005 - pg-13

PBH acionada por doar terreno à MBR



MINA DE CAPÃO XAVIER, em Nova Lima: doação de terreno de Belo Horizonte à MBR é alvo de questionamento judicial
(Foto de Renato Cobucci)

Cláudia Rezende
Repórter

O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), está respondendo na Justiça pela acusação de ter cometido improbidade administrativa para favorecer a empresa Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) no processo que permitiu o início das atividades da Mina de Capão Xavier, em Nova Lima. O motivo da denúncia é a permissão dada por Pimentel para a MBR usar um terreno do município de Belo Horizonte - mas situado em Nova Lima -, destinado à preservação ambiental, para escoar a produção de minério de ferro da mina. Desde o último domingo, o HOJE EM DIA está publicando reportagens para explicar por que a mina está sendo questionada. Ela é alvo de uma CPI na Assembléia Legislativa e três ações judiciais.
Pimentel concedeu a permissão de uso em março de 2003 e sem cobrar da MBR pagamento pelo uso da área onde foi construída uma estrada para a passagem dos caminhões com minério. Os promotores do Meio Ambiente do Ministério Público alegam que a prefeitura deu uma concessão à MBR sem autorização legislativa, o que é proibido pela Constituição Brasileira por se tratar de um bem público.
“Além disso, uma concessão pública deve ser cobrada, só se os vereadores autorizarem que seja gratuita", afirma o promotor do Meio Ambiente, Fernando Galvão. Ele é um dos signatários da Ação Civil Pública movida por cinco promotores do Meio Ambiente contestando a instalação e operação da Mina de Capão Xavier no local.
Pouco tempo antes de o prefeito dar a permissão para uso do terreno, a MBR fez uma doação de R$ 1,5 milhão à Prefeitura Municipal para ser usado na construção de casas populares para os desabrigados da chuva que caiu na cidade no início de 2003 e provocou a morte de nove crianças da mesma família no Morro das Pedras, região Centro-Sul da cidade.

Riscos

Os riscos da Mina de Capão Xavier, em Nova Lima, são analisados pelo professor de Planejamento Ambiental da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), o geólogo Fernando Verassani. “Em tudo existe risco. Por exemplo, há risco de um caminhão com produto químico sofrer um acidente na BR-040, próximo ao Jardim Canadá e contaminar os lençóis subterrâneos", avalia. Segundo ele, para ter controle dos efeitos da mineração, são necessárias gestão ambiental avançada e fiscalização dos órgãos competentes.
Para o professor, a água subterrânea da região - que hoje é classificada como “especial", ou seja, o tipo mais puro - já deve ter um certo grau de contaminação por causa das fossas que existem no Bairro Jardim Canadá. Com cerca de 6 mil moradores, o bairro ainda não possui rede de esgoto nem de água tratada. “Aquela região é um laboratório para a gestão ambiental porque é o retrato da falta de planejamento", afirma.
Verassani observa a grande vulnerabilidade das águas subterrâneas e dos mananciais do local. Segundo ele, a mesma região contém duas unidades de conservação - Parque do Rola Moça e Estação de Tratamento de Fechos - está próxima a uma rodovia federal (BR-040), duas minas - Capão Xavier e Mutuca -, vários condomínios e um bairro. Diante disso, exige cuidados redobrados.

Contestação é feita por moradores há seis anos

A primeira manifestação contrária à instalação da Mina de Capão Xavier, pertencente à Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), em Nova Lima, partiu de um pequeno grupo de moradores da Região Centro-Sul de Belo Horizonte, há cerca de seis anos. Foi essa ação que deu origem ao Movimento Capão Xavier Vivo, instituído anos depois, em 2003. “Representamos as mais de 400 mil pessoas que bebem água dos quatro mananciais localizados naquela área", define um dos membros do Movimento, o pároco da Igreja Nossa Senhora do Carmo, frei Gilvander Luís Moreira. A preocupação dos militantes é ampla e envolve o medo de faltar água para consumo da população da capital e também a degradação do patrimônio ambiental da região.
“A MBR acabou com a Serra do Curral, modificou o ambiente local", denuncia o frei. Segundo ele, para a criação de Belo Horizonte foi escolhida uma área que tivesse uma grande quantidade de mananciais. “Nós já perdemos três mananciais: Mangabeiras, Pampulha e Várzea das Flores. Não queremos perder mais", afirma. Além disso, Moreira acredita que a ação da mineradora vai provocar prejuízos à fauna e a flora locais.
Em Capão Xavier, foram encontrados dois microcrustáceos _ Branchinecta ferrolimneta e Eulimnadia colombiensis _ de milhares de anos, que, no mundo todo, só existiam naquele local. No entanto, estudos posteriores, encomendados pela MBR, mostraram que eles também foram registrados na Estação de Tratamento de Água de Fechos, fora do limite de Capão Xavier.
Sustentando essas e outras denúncias contra a mineração, o Movimento Capão Xavier Vivo recorreu à Justiça Estadual e Federal, à Assembléia Legislativa de Minas Gerais e até apresentou um dossiê contra a mina à Organização das Nações Unidas (ONU). A ação do grupo também mobilizou moradores do Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima. Um estudo feito pelo mestrando em Engenharia Sanitária Ambiental da UFMG, Hélio Alexandre Lazarim, mostra que, com o rebaixamento das águas subterrâneas em Capão Xavier, o nível das águas ficará mais profundo entre 70 e 100 metros, o que causará a secagem de todas as cisternas da região.

Doação é “política de gentileza"

A MBR afirmou que, em contrapartida à permissão dada pelo prefeito Fernando Pimentel, a mineradora doará à capital uma área de 340 hectares próxima à região dos mananciais. Para o Estado, a empresa vai doar, por meio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), uma área de 680 hectares a ser incorporada ao Parque do Rola Moça.

Meio século

Para o Frei Gilvander Luís Moreira, que é membro do Movimento Capão Xavier Vivo, a ação da Prefeitura de Belo Horizonte “desrespeita meio século de preservação da área". Esse terreno, até 1956, foi da St. John del Rey Mining Co. Ltda, empresa que deu origem à MBR. Naquele ano, foi expropriado pelo Governo do Estado para ser doado à capital mineira porque lá estavam mananciais destinados ao abastecimento público de Belo Horizonte e, desde então, esteve fechado para qualquer atividade.
As controvérsias da mina de Capão Xavier continuam sendo debatidas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembléia Legislativa de Minas.

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