Pronunciamento de Frei Gilvander Moreira na Audiência Pública sobre o Projeto da MBR de instalação de uma Mina de ferro em Capão Xavier.

ESPAÇOEu nasci e cresci em meio à escassez de água. Carreguei centenas de latas d´água no ombro, de uma grota, durante o período das águas. Quando a grota secava tínhamos que buscar água no Rio Claro a uma distância de 1 Km. Logo, conheço muito bem o valor da água. Tenho muita dificuldade de compreender quem desperdiça ou polui as águas. Água é fonte de vida, é mãe, é sagrada. Diante das águas, devemos ouvir o que Deus disse a Moisés: “Esta terra é sagrada. Tire as sandálias para se aproximar”. Quem desrespeita as águas desrespeita Deus.
ESPAÇONo princípio era a água; e a água se fez “carne”: criaturas todas do universo. Não somos apenas filhos e filhas da água. Somos mais. Somos água que sente, que canta, que pensa, que ama, que deseja, que cria ... Deus cria a partir das águas. Por isso, só podemos ser co-criadores a partir das águas. Quem não defende, desrespeita e não tem uma relação de veneração e de encantamento para com as águas não pode ser criatura de Deus. Estará jogando no time dos opressores, dos assassinos da nossa mãe, irmã e nosso próprio ser: a água.
ESPAÇOComo profetizas, as águas consolam os cansados, saciam os sedentos, lavam os suados pelo trabalho, revigoram as forças do desanimado, mas também as águas clamam por respeito e por justiça. Os rios fervem o sangue de indignação contra cidades desgovernadas, empresas e pessoas poluidoras que tratam “o sangue da Terra” como se os rios fossem descargas receptoras de resíduos tóxicos. Ai de quem mata as nascentes, asfixia os mananciais e envenena os rios!
Quero parabenizar todas as pessoas lutadoras que aqui estão firmes na defesa dos mananciais. Enquanto muitos dormem alienados, enquanto outros são cooptados e outras autoridades esquecem de defender o que é de todos, nós lutamos para salvar os mananciais ameaçados pela volúpia capetalista.
ESPAÇODiante das irregularidades questionadas pelo Ministério Público nesse projeto de Capão Xavier, diante da História da MBR, com tantos estragos ambientais causados - o passado da MBR a condena – não podemos ficar sossegados enquanto não tivermos a certeza de que esse projeto insano foi exterminado.
ESPAÇOSe a MBR destruiu parte da Serra do Curral, se secou as nascentes do Clube Campestre, se secou os mananciais que abasteciam parte da população de Itabirito, se está sendo denunciada, autuada, muitas vezes, por diversos danos ambientais, se omite informações aos órgãos ambientais e à população de Belo Horizonte, se apresenta um projeto que é lobo em pele de cordeiro, se absolutiza o lucro a qualquer custo, se Capão Xavier está em áreas de quatro mananciais que abastecem 9% da população de Belo Horizonte e 7% da região metropolitana, se cidadãos idôneos, comprometidos com a construção de um mundo mais justo e solidário entram com uma Ação Popular, bem fundamentada, revelando inequivocamente a ilegalidade do projeto, se um juiz concede medida liminar, respaldada em argumentos contundentes, se a Campanha da Fraternidade 2004 anima-nos a um revisão radical na nossa forma de viver e se relacionar com a água, não podemos vacilar neste momento.
ESPAÇOApós estudar os impactos ambientais previstos no EIA-RIMA, após conversar com muita gente entendida em meio ambiente e mineração, após ouvir duas grandes exposições do projeto pela MBR, tudo com o aparato das novidades tecnológicas, fiquei ainda mais convencido que o projeto de instalação da Mina de Capão Xavier é flagrantemente ilegal e imoral. Ilegal, porque fere acintosamente a Lei Estadual 10.793/92 (Lei que proíbe mineração em áreas de mananciais de abastecimento público que comprometa em níveis mínimos a qualidade da água), desrespeita o artigo 225 da Constituição Federal, atenta contra o Direito do Consumidor e atropela outras leis. O Projeto é imoral, porque comprometerá irreversivelmente quatro mananciais de abastecimento público de BH e região metropolitana. O projeto propõe a exposição do aqüífero, protegido por uma montanha, aos riscos de todas as intempéries, às incertezas das forças da natureza, cada vez mais violentas em vista das alterações climáticas que são conseqüência da agressão ao meio ambiente.
ESPAÇONo início o Espírito pairava sobre as águas. A água é o princípio de toda vida. O Ferro, não. A biodiversidade assegura a resiliência, isto é, a capacidade de se reconstituir. Se Deus e uma evolução de bilhões de anos criaram um belíssimo ecossistema, com uma biodiversidade fantástica, com seres humanos, animal, vegetal e mineral convivendo de forma harmônica em uma grande comunidade de vida, não podemos aceitar a tese segundo a qual arrancar parte do corpo da terra efetuará o milagre da multiplicação das águas. Que a MBR reconheça que não é Deus. Preservemos o ambiente, deixando Deus reinar. Assim as águas se multiplicarão naturalmente sem tecnologias mirabolantes.
ESPAÇOSe a MBR tem tantas concessões de áreas para Mineração, por que minerar justamente em cima de mananciais de abastecimento público? A MBR tem muitas outras opções.
ESPAÇOPor que olhar só a dimensão econômica da mineração? E a vida de 300.000 pessoas, das gerações futuras, da flora e da fauna, presente e futura, não vale nada?
ESPAÇOPreservar os mananciais, sempre! Minerar em áreas de mananciais de abastecimento público, nunca mais! Minerar, se necessário, em outros lugares, longe de mananciais de abastecimento público.
ESPAÇOFelizes os defensores das águas! Malditos os que crucificam mananciais!
ESPAÇOMuito obrigado.

Frei Gilvander Luís Moreira, dia 10/03/2004
Em Audiência Pública na Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais.
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