Água, Fonte de Vida 

(Música de fundo Carmina Burana e Voz em off):  

 “A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. ( Gn 1,2)E Deus disse: Que as águas fiquem cheias de seres vivos... Que a terra produza seres vivos...E Deus plantou um jardim no Éden... E aí colocou o ser humano, criado à sua imagem e semelhança, para que cuidasse desse jardim”. 

   (ao final de Carmina Burana)... 

A água, fonte de vida, é uma necessidade de todos os seres vivos e um direito da pessoa. Entretanto, é grande o risco de escassez de água e de agravamento das condições de vida para grande parte da população mundial. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 40% da humanidade terá problemas de água em 2025.

O Brasil se destaca no cenário das águas, com 12% do total das águas doces do Planeta, mas a poluição já comprometeu seriamente quase dois terços dos rios e uma parte significativa da população não tem acesso à água potável.

Aqui em Belo Horizonte, mananciais estão sendo ameaçados pela ação devastadora de mineradoras...

Dom de Deus, a água não é simples mercadoria. Cuidar para que o direito à água com qualidade seja efetivado para as gerações presentes e futuras é o desafio que a Campanha da Fraternidade 2004 propõe aos cristãos e a toda a sociedade. 

(No museu das águas – garrafas de águas de várias tonalidades com etiquetas.

Música do Filme Matrix. Entra o funcionário do Museu (1), que recebe em seguida um grupo estranho de interessados, com roupas de plástico, alguns com ataduras no rosto, sob guarda-chuvas pretos, um com soro (garrafa de coca-cola) ligado à veia). 

1 – Bem vindos ao Museu das Águas. Vocês podem olhar as amostras das águas dos rios, riachos, ribeirões, nascentes, lagos, lagoas, fontes e olhos d’água que existiram no Brasil. 

2 – Massa, cara! Achei que essa coisa de água de rio era só ilusão. 

3 – Aqui tem uma água mais escura, olha, parece coca-cola. Será que naquela época tinha coca-cola? 

1 – Essa água escura é uma amostra do Rio Negro que se juntava ao Rio Solimões para formar o grande Rio Amazonas, que existia no Deserto Amazônico. 

4 – E tinha rio no Deserto Amazônico, hoje considerado a 9ª maravilha do mundo? 

1 – Naquela época o Deserto Amazônico era uma floresta, a Floresta Amazônica. 

2 – Era feio, não? Hoje temos a beleza daquelas dunas de tons escuros. Pena que já com muitos bolsões negros de fendas calcinadas. Imagina aquela imensidão sem areia, com as tais árvores que dizem e com essa água escura, ninguém merece! 

3 – Cara, ninguém merece mesmo. Também a gente só pode ver o fantástico Deserto Amazônico sobrevoando a área. Conheci em excursão pela ALCA-AIR. 

4 – E essa água transparente aqui? Deve ser bem insignificante, não tem nem cor. 

1 – Essa água é da nascente do Rio São Francisco, estão vendo? Claríssima, pura, sem cor... 

4 – E qual seria o perfume e o gosto dessa água pura? 

1 – Água pura não tem cor, cheiro e nem sabor. É água que mata a sede. 

5 – Já ouvi dizer que os dirigentes da ALCABUSH têm água pura de fontes brasileiras. São os estoques secretos. 

6 – Nunca ouvi falar. 

7 – São secretos. 

 2 – Pelo menos a água que nós tomamos é cheirosa, colorida e tem gosto. Eu gosto da URINALCA. 

3 – Sou mais a XIXINOL. 

4 – Ih, cara, ainda não cumpri minha cota obrigatória de consumo. Deviam permitir comprar mais água sintética pra completar a cota mensal. 

5 - É barra ter que comprar no mínimo cem Alcadólares de produtos plásticos todo mês. 

4 - A transportadora ALCATRAZ descarrega produtos plásticos diariamente no Shopping.  

6 – O pior é que a previsão da ALCATÁSTROFE é de que o calor vai aumentar muito. E eles nunca erram. 

7 – É lógico, nem eu. 

8 – Novas fendas de asfalto derretido se abrem e tá perigoso andar por aí.  

9 – E os alcatécnicos vivem participando de congressos pra barrarem os bolsões que alastram, mas só sabem construir essas Bigmarquises. 

2 – Pois é, antigamente havia água pura, lagoas, lagos, riachos, rios, árvores. Aposto que a vida era melhor. 

3 – Será? Eles não conheciam o progresso. Dizem que Belo Horizonte era cercada por montanhas, imagina, montanhas de minério sem utilidade. 

4 – Só com as grandes mineradoras foi possível esgotar toda aquela riqueza perdida. 

5 – E o que adiantou, se hoje estamos sofrendo. Que progresso é esse? 

3 – Ih, cara, se não fosse a exportação do minério, qual seria nossa dívida externa hoje? 

5 – Acho que pior que tá não podia ficar. No mínimo, teríamos água de boa qualidade jorrando a vontade das 1.200 nascentes que foram exterminadas somente em Minas Gerais nos últimos 15 anos. 

6 – Nosso minério foi usado pelos outros e nós ficamos com esses bolsões de líquido quente. Eu queria conhecer uma árvore. 

7 – Eu queria conhecer uma cachoeira. 

8 – Nossos antepassados não pensaram em nós. Destruíram tudo. 

1 – Temos aqui no museu gravações de sons da natureza viva. Ouçam: (som de cachoeira). 

(Sai a turma desajeitada da geração futura e entra a geração de hoje). 

1 – Nós podemos deixar um futuro melhor pros nossos irmãos e irmãs do futuro, não?

2 – Sei lá! Não podemos impedir a destruição de nossas florestas, de nossos mananciais de água potável, de nossas serras ricas em minério. Isso depende é do interesse dos grandes grupos econômicos. Eles é que decidem. 

3 – Vocês sabiam que as estradas do Texas têm asfalto que dura muito mais de trinta anos sem retoque? É que na base do asfalto há uma trança de ferro grosso com cimento de uns 30 centímetros. 

4 – E onde conseguem tanto ferro? 

3 – Vai tudo do Brasil. 

5 – Levam nosso ferro e nós é que ficamos ferrados, né? 

6 – É cara. A MBR que já privou a população de Belo Horizonte de um bom pedaço da Serra do Curral, que já matou as nascentes que alimentavam as cascatas do Clube Campestre, que já matou mananciais que abasteciam parte da população de Itabirito, agora parte pra abrir a Mina de Capão Xavier. 

7 - Você sabia que o Pico do Itabirito era tombado como patrimônio histórico natural e foi destombado pela ditadura militar para que a MBR o deixasse todo arregaçado? 

6 - É! Dói o coração da gente ver o Pico do Itabirito todo estraçalhado pela mineradora MBR. 

7 – No Capão Xavier há quatro mananciais que abastecem 9% da nossa capital, cerca de 320.000 pessoas, sem contar os animais e a flora. 

8 – Mas a MBR não pode parar. Imagina o desemprego que pode gerar e o rombo nas exportações se ela não continuar a extrair o minério. Sem falar no mercado financeiro. 

9 – O lucro é que interessa. O resto é resto. Afinal, serão 173 milhões de toneladas de minério em 22 anos. Vão criar 360 empregos diretos, é mole? 

4 – Mas são três milhões de belorizontinos que dependem da água dos mananciais do Capão Xavier. A água é um direito de todos. E o direito das gerações futuras? E os animais e a flora, não têm direitos a um ecossistema respeitado? 

5 – Exportam nosso ferro, muito lucro, mas no fim nós só levamos é ferro mesmo. 

6 – E podemos ficar sem água potável em Belo Horizonte. Vamos continuar construindo estradas para os Estados Unidos e dirigir aqui em estradas que só têm buracos. 

7 – Tem um buraco no que era uma estrada asfaltada perto de Iguatama que tem até placa: “Perigo – BURACO – Apoio: DOURADÃO”. 

8 – Nada a ver, é só privatizar que melhora. O progresso é necessário. Por causa desses ambientalistas é que não crescemos. Temos mesmo é que exportar minério e tudo o que for possível. Afinal nós dependemos do mercado mundial e do FMI. Temos que cumprir nossas metas, honrar nossos compromissos. 

6 – Nós temos é que impedir isso. O discurso neoliberal é falso. Querem só lucro para os grandes grupos econômicos. Somente em 2003, o governo brasileiro pagou quase 150 bilhões de reais somente de juros da dívida E(x)terna. Basta de pagar o que já pagamos várias vezes. Essa dívida é como rabo de égua: quanto mais corta, mais cresce. 

5 – Pro povão é só ferro. 

Credit Roll

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TEXTO

Antônio Souza de Rezende

 A PARTIR DE ARTIGOS DE

Frei Gilvander Luís Moreira  (crônicas sobre Mineração e nossas Águas) e

Inácio de Loyola Brandão (Não verás País Nenhum)

Texto Base CF 2004 - Paulinas

Para visualizar as outras imagens da peça encenada nos dias 09/04/2004, no Coração Eucarístico, e no dia
30/05/2004 em Santa Izabel,
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