Marcha mineira pela energia ao alcance do povo

Dom Luciano Mendes de Almeida

----------Do dia 28 de março ao dia 1o de abril realizou-se a marcha popular do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB –, de Ponte Nova/MG a Belo Horizonte, com mais de 450 pessoas. Caminharam com ordem e idealismo. A intenção dos participantes com o lema “Marcha pela água e energia para a soberania do povo brasileiro” foi apresentar reivindicações a respeito do consumo de água e energia. A iniciativa é do Movimento dos Atingidos pelas Barragens, cuja criação data de 14 de março de 1991. Já realizaram quatro congressos nacionais e dois encontros em nível nacional, sendo o último no período de 13 a 17 de março de 2006, em Curitiba. Quais os principais objetivos da Marcha? Integrar o Encontro dos Movimentos Sociais Mineiros, entre os dias 1º e 4 de abril, em Belo Horizonte, para manifestar seu repúdio às políticas neoliberais sustentadas pelas instituições financeiras multilaterais (BID, OMC, FMI, Banco Mundial). A data coincidiu com o encontro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
----------Os movimentos populares insistem na soberania nacional e anseiam por medidas que privilegiem a economia solidária, a segurança alimentar e as condições dignas de vida para os trabalhadores urbanos e rurais. É preciso também rever o pagamento dos altos juros da dívida pública interna e externa.
----------O objetivo imediato da Marcha mineira é reivindicar a redução da tarifa de energia elétrica no Estado de Minas Gerais, como símbolo de maior compromisso com o bem comum. Eis aí uma situação que vem afligindo duramente o nosso povo. A conta de luz em Minas é a que mais custa no Brasil.
----------Percebemos que muitas famílias pobres já não conseguem mais pagar as contas, que subiram mês a mês, de modo inesperado. Não é raro que contas sem pagamento provoquem o corte de luz, obrigando as famílias a utilizarem velas e outros recursos e até reduzir a própria alimentação.
----------A Marcha divulgou indicadores como a diferença de preço do megawatt de energia entre o serviço domiciliar (R$ 600,00) e o fornecido às empresas (R$ 126,00).
Em relação ao uso de energia, as famílias consomem apenas 16,9% de energia vendida pela CEMIG em Minas Gerais, enquanto as empresas absorvem 58,8%, ao passo que o consumo familiar totaliza 36% do total pago, cabendo às empresas, 32,87%. Enquanto o ICMs pago pelas famílias em MG é de 30% (o mais caro do Brasil), o das empresas consumidoras é de 18%. Mais surpreendente é o aumento ocorrido: a inflação, de 1997 a 2005, foi de 82,08%, enquanto a tarifa de energia subiu 246,61% e em 8 de abril teve um novo aumento. O lucro de 2 bilhões da CEMIG em 2005 foi adquirido às custas do sacrifício do povo. Milhares de famílias hoje deixam de comer para pagar conta de luz, com medo de ser cortada.
----------Esta situação motivou os marchantes, pensando no bem do povo, a: 1) reivindicar energia gratuita para as famílias de baixa renda até 100 kW/h, o que já é direito conquistado no estado do Paraná; e 2) conseguir que o pagamento do consumo familiar seja calculado na mesma base do consumo industrial (uma conta de R$ 150,00 passaria a custar R$ 30,00).
----------Neste momento que o Brasil atravessa, torna-se indispensável encontrar caminhos pacíficos que assegurem ao povo, especialmente aos mais necessitados, condições dignas de vida, como é devido a filhos e filhas de Deus.

----------Dom Luciano Mendes de Almeida é arcebispo metropolitano de Mariana e ex-presidente da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
A rtigo publicado no Jornal O TEMPO, coluna de Dom Luciano, 02/04/2006.

 

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