(Do Jornal HOJE EM DIA, 29/05/2005, Minas, pp. 23 a 25.)
Capão Xavier, mina de controvérsias

Mina de Capão Xavier, da MBR, em Nova Lima, onde a extração de minério de ferro gera polêmica e já gerou uma CPI na Assembléia e três ações do Ministério Público e de uma ONG, o Movimento Capão Xavier Vivo (Foto / Renato Cobucci)

Cláudia Rezende
Repórter

Ouro, minério de ferro, pedras semi-preciosas e preciosas. Minas Gerais, há três séculos, é o principal pólo de extração mineral do país. Desde o início, a atividade provocou atritos no Estado. Antes, pela exploração dos escravos, tributação da Coroa Portuguesa e disputa por jazidas. Hoje, a briga continua, embora com outro perfil e outras motivações. O pomo da discórdia do momento em Minas é a guerra que se travou por causa da Mina de Capão Xavier, em Nova Lima, em operação desde 16 de junho de 2004 na extração do minério de ferro. De um lado, a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), responsável pelo empreendimento. Do outro, cinco promotores do Meio Ambiente, uma CPI na Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e o Movimento Capão Xavier Vivo que apresentaram na Justiça três ações tentando suspender o trabalho da mina.
O questionamento em relação a Capão Xavier tem como principal foco a preocupação mundial da atualidade: a água para abastecimento público. Isso porque o projeto da mina prevê o rebaixamento do lençol freático que abastece os mananciais de Fechos, Catarina, Barreiro e Mutuca, que compõem uma rede de captação responsável por 3,6% da água produzida pela Companhia de Saneamento e Abastecimento de Minas Gerais (Copasa) para a Região Metropolitana de Belo Horizonte e abastece 8% da população da região, ou cerca de 400 mil pessoas, segundo dados da Copasa.
Após a mineração no morro onde se iniciou a ação da mina, será iniciada uma cava para extrair o minério que está abaixo do solo. Em dois anos, a ação deverá atingir o lençol freático, que será rebaixado para que o minério de ferro possa ser retirado. Enquanto a área é minerada, um sistema hidráulico vai fazer o bombeamento da água subterrânea, levando um terço do volume retirado para o Córrego de Fechos. Nesse período, o fluxo que abastece Belo Horizonte e Nova Lima, hoje de cerca de 600 litros por segundo, será aumentado. A cava terá profundidade de 280 metros.
No entanto, depois que a mina for exaurida, a cava formada vai ser preenchida com a água do lençol freático, formando um lago de 70 metros de profundidade. Para isso, o bombeamento não será mais feito para o Córrego de Fechos. Com isso, os estudos hidrogeológicos encomendados pela MBR e Prefeitura de Belo Horizonte e os que foram feitos pelo Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apontam uma redução de 0,3% a 0,6% na vazão do Córrego de Fechos.

Jardim Canadá

Nesse ponto, promotores, deputados estaduais e o movimento questionam a atividade da mina. Para eles, a mudança no fluxo vai provocar desabastecimento, o que pode ser agravado com o crescimento populacional, especialmente do Bairro Jardim Canadá. Segundo a ação civil pública apresentada pelos promotores, no bairro, moravam 3.979 pessoas em 2.000 e, para 2.025 _ quando a mina encerrar as atividades _, a projeção é de 12.900 moradores, três vezes mais.
“Eles ainda não apresentaram um plano de gestão hídrica para dizer de onde vão tirar água quando ela faltar e onde ela vai faltar", afirma o promotor de Meio Ambiente do Ministério Público de Minas Gerais, Fernando Galvão, que é um dos signatários da ação. Para ele, houve vícios no processo de licenciamento ambiental que beneficiaram a MBR.

Reposição

A Copasa garante que a diminuição não vai comprometer o abastecimento de Belo Horizonte e Nova Lima. “Se houver impacto, a água será reposta. A Copasa fez estudo de dez anos e tem essa opinião. Quem acha o contrário deve levar o questionamento à Justiça", disse o assessor da Diretoria de Operação Metropolitana da Copasa, Rômulo Tomaz Perili. O gerente ambiental da MBR, Leandro Quadros Amorim, enumera alternativas para evitar a falta de água. “Poderemos usar água do lago, perfurar novos poços artesianos ou usar água da Mina do Tamanduá, que está logo abaixo de Capão Xavier". (A postura da COPASA revela como ela é cúmplice da agressão aos mananciais e revela também que a COPASA não luta firme pela defesa dos mananciais e ignora a Lei 10.793/92).
Na hipótese de haver desabastecimento, a MBR terá que pagar uma multa à Copasa de 100% do valor cobrado pelo metro cúbico da água tratada em Belo Horizonte multiplicado pela quantidade de água perdida em metros cúbicos. Essa penalidade foi estabelecida no Termo de Compromisso firmado entre a mineradora e a Prefeitura. No entanto, os membros da CPI investigam a divergência de valores em relação ao Termo de Compromisso firmado com a Copasa, que estabelece o percentual de 20%. O gerente ambiental da MBR afirmou que a diferença foi corrigida em um termo aditivo posterior, prevalecendo os 100%. (Isso é mentira de Leandro Quadros, gerente ambiental da MBR, pois não houve aditivo nenhum. O Termo de Compromisso entre COPASA e MBR, na cláusula 10 prescreve que a MBR deverá pagar uma multa de apenas 20% do valor da água. No Termo de compromisso entre Prefeitura de BH e MBR é que a multa é estipulada em 100% do valor da água. As 420 mil famílias que bebem água dos 04 mananciais ficarão sem água, a MBR pagará somente 20% (pois entre dois índices a empresa pode optar pelo menor), se pagar, o que é muito pouco provável. A COPASA tratará água suja do Rio das Velhas e cobrará do consumidor 04 vezes mais. É isso! A COPASA fica nua diante desse termo absurdo que coloca a COPASA de joelhos diante da MBR.)

Licenciamento ambiental é questionado

Os cinco promotores do Meio Ambiente do Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) que apresentaram a ação civil pública em maio do ano passado contra a Mina de Capão Xavier questionam, entre outros fatores, a forma como o licenciamento ambiental foi conduzido. “O ponto mais importante nessa questão é que houve vícios no processo", afirma o promotor Fernando Galvão. Segundo ele, a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) recebeu tratamento diferenciado por parte da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). O órgão é que emite os pareceres técnico e jurídico enviados ao Conselho de Política Ambiental (Copam), que, com base nesses documentos, concede ou não o licenciamento.
O promotor afirma que não se conhece quais serão os impactos futuros do empreendimento no fornecimento e na qualidade da água do local. Galvão afirma que o Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima), apresentado pela MBR e feito pela empresa Ecolab, é incerto e preliminar. Um dos motivos da incerteza é o fato de que o Plano de Gestão Hidrológico fornecido ainda não apresentou os projetos de engenharia que garantem o baixo impacto da mina.
“A Constituição Brasileira diz que tem que ser feito um estudo prévio de toda a atividade. Eles fizeram parcialmente e jogaram para frente o mais importante que é o abastecimento público", diz. A licença de operação concedida tem validade de quatro anos e os projetos do Plano têm que ser apresentados antes de se atingir o lençol freático, o que deve acontecer em um prazo de dois anos, conforme a MBR, e somente com a outorga da Feam.
Outro ponto de questionamento dos promotores é que o EIA-Rima da MBR teria desconsiderado a lei estadual 10.793. Essa legislação estabelece medidas de proteção para os mananciais destinados ao abastecimento público da população mineira. O texto veda a instalação de atividades _ entre elas a extração mineral _ que comprometam os padrões mínimos de qualidade da água.
A Feam recebe relatórios trimestrais da MBR sobre a atividade. (Relatórios feitos por funcionários da MBR são para inglês ver. Trimestral é brincadeirinha de mal gosto. É assim que FEAM brinca de fiscalizar. Enquanto continuar assim, raposas estarão tomando conta do galinheiro. O meio ambiente estará sendo estuprado em nome do deus capital.)
Zuleika explica que o licenciamento ambiental não é algo definitivo, mas dinâmico. “O licenciamento é em etapas porque esse é o procedimento legal. Ele evolui com a evolução do empreendimento", diz. Segundo ela, se for detectado algum comprometimento da água, a licença pode ser cancelada. A renovação é feita a cada quatro anos com base no Relatório de Avaliação do Desempenho Ambiental (Rada). A diretora informou ainda que a lei 10.793 não foi citada, mas foi considerada em todo o processo e que a mineração não irá comprometer a qualidade da água.
Além da ação pública dos promotores, a MBR, que pertence à Companhia Vale do Rio Doce, enfrenta uma ação popular apresentada em 2003 pelo Movimento Capão Xavier Vivo na Justiça estadual. A iniciativa provocou uma liminar suspendendo as atividades da mineradora, mas cassada dias depois. Há ainda outra ação popular, de autoria dos deputados estaduais Adalclever Lopes (PMDB) e Antônio Júlio (PMDB) - responsáveis pela criação da CPI da Mina de Capão Xavier na Assembléia.
Essa ação foi impetrada em 2004 na Justiça federal diante do argumento de que a mineração em Capão Xavier coloca em risco o patrimônio de interesse federal, como grutas e espécies animais e vegetais endêmicas (próprias daquela região). Também foi obtida uma liminar, suspensa três meses depois.

No Jardim Canadá, proprietários vendem suas casas

É difícil encontrar alguém nas ruas quando se chega ao Bairro Jardim Canadá, na porção mais próxima à cerca da Mina de Capão Xavier, em Nova Lima. O cenário que se vê são casas de classe média alta fechadas. O local, visitado pelo HOJE EM DIA, foi deixado por 11 proprietários de imóveis. As residências foram compradas pela MBR serão alugadas por funcionários da mineradora que trabalham na mina. Além disso, mais proprietários ameaçam sair do bairro.
A área seria um condomínio fechado e tinha até vigilância por meio de câmeras nas ruas. O projeto foi abandonado depois do início das atividades de Capão Xavier. “Você veio fazer matéria sobre a 'bomba atômica' que está aqui do nosso lado?", perguntou a professora aposentada Isabel Soares, 54 anos, ao ver a equipe de reportagem no local.
Isabel conta que quando ocorrem explosões na mina para quebrar as rochas que abrigam o minério de ferro, a poeira, o som e a vibração atingem os moradores e as casas com intensidade. “Quando explode, sobe uma nuvem de poeira parecido com um cogumelo de bomba atômica", diz. A professora chegou a receber proposta da MBR para vender a casa onde mora há nove anos, mas se recusou porque, segundo disse, a oferta teria sido “ridícula".
A funcionária pública Maria Aparecida Nascimento, 53 anos, mora a menos de 50 metros da cerca da mineração e, de sua casa, é possível ver a movimentação de tratores e caminhões em atividade. “Atrapalha muito a gente porque é barulho o dia e a noite inteira", reclama. Outra queixa da moradora é a poeira que chega às casas. “Não adianta limpar porque você limpa e um minuto depois já está sujo de novo", afirma.
O marido de Maria Aparecida, o técnico em Engenharia Civil, Eustáquio de Souza Ferreira, 52 anos, expõe outra preocupação. “A gente não vai ter vizinhos aqui porque está todo mundo indo embora. Também estamos pensando em ir", declara Ferreira, que mora no local há dois anos. Ele acredita que, por causa da mina, as casas da área serão desvalorizadas. Ferreira disse que, por causa disso, não vai terminar a construção de seu imóvel, que estava na fase de acabamento.

Poeira

O contador Carlos Martins, 50 anos, mora no local há 15 anos e nega que o empreendimento esteja provocando incômodo aos moradores. “Não tem poeira porque a empresa molha a mina o dia inteiro e as explosões não atrapalham, só assustam porque a gente ainda não está acostumado", diz. Martins denuncia má-fé de alguns moradores que estariam com a intenção de receber dinheiro extra da MBR. Segundo ele, há proprietários reformando suas casas para que fiquem mais valorizadas no mercado. O contador foi contratado pela MBR para mostrar as casas aos funcionários que desejam alugá-las.
O gerente de Meio Ambiente da MBR, Leandro Quadros Amorim, informou que a oferta de compra das casas foi feita a 37 proprietários a preço de mercado. Segundo ele, 23 famílias reclamavam do empreendimento e sempre pediam que a MBR comprasse suas casas, o que foi recusado no primeiro momento e realizado depois. “Quem vendeu suas casas fez um péssimo negócio porque a região já está sendo mais valorizada".

O ponto de polêmica em relação ao funcionamento da Mina de Capão Xavier, da Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), em Nova lima, não é só a hipótese de falta de água, mas também qual será a qualidade da água após a mineração. O Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) apresentado pela MBR à Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) registra que as águas que formarão o lago após o encerramento da mina em Capão Xavier deverão cumprir no mínimo os requisitos de Classe 2, seguindo a orientação do Conselho de Política Ambiental (Copam) para águas que ainda não existem.
A dúvida em relação à classificação da água, que hoje, segundo a Deliberação Normativa Número 20, de 24/06/1997, enquadram-se na Classe Especial, que é o tipo mais puro, que dispensa qualquer tratamento para ser ingerida. Se realmente, após a formação do lago, prevista para se iniciar daqui cerca de 17 anos, houver essa mudança de classificação, a água terá que passar por tratamento para ser consumida.
'A água vai ficar com pior qualidade. Isso contraria a Lei Estadual 10.793', afirma o promotor do Meio Ambiente, Fernando Galvão. A Lei diz que os padrões mínimos de qualidade têm que ser mantidos. O professor de Planejamento Ambiental da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), o geólogo Fernando Verassani, explica que a água ficará mais vulnerável o que pode provocar mudança nos padrões de qualidade. O lago vai terá uma área de um quilômetro quadrado, 70 metros de profundidade e capacidade para 60 bilhões de litros.
'A exposição é o maior fator de vulnerabilidade porque hoje ela está escondida, mas depois ficará exposta', diz. Mas, segundo ele, todo impacto pode ser amenizado ou evitado conforme a gestão ambiental empregada e, completa, no caso de Capão Xavier, estão sendo utilizados instrumentos com tecnologia de ponta.
A chamada eutrofização - fenômeno que ocorre em locais com água parada devido ao acúmulo de matéria orgânica - é um dos fatores que preocupam as pessoas que se posicionam contrários à mina. O processo provoca degradação da qualidade da água e mau cheiro, a exemplo do que aconteceu na Lagoa da Pampulha.

Esgotamento não tem previsão

A Mina de Capão Xavier, da Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), está localizada no quadrilátero ferrífero, na região Central do Estado. A área é a responsável pela produção de minério de ferro em Minas Gerais. Apesar de ser explorada há muitos anos, não existe hoje uma previsão de quando a jazida será esgotada. “É difícil prever quanto tempo ainda o quadrilátero tem de produção de minério de ferro. Isso depende do avanço tecnológico", explica o orientador da equipe de Desenvolvimento e Arrecadação do 3º Distrito do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Antônio Carlos de Jesus.
Em 2004, a Mina de Capão Xavier produziu 4,5 milhões de toneladas do minério. Isso em seis meses porque a mina, que é alvo de questionamento judicial por causa de seu licenciamento ambiental, iniciou suas atividades em junho do ano passado. O faturamento da empresa em 2004 foi de R$ 661,3 milhões e a receita bruta, de R$ 2,5 milhões. Os deputados membros da CPI da Mina de Capão Xavier, da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, questionam o quanto desse faturamento é destinado para o Estado e para o município onde ocorre a lavra _ Nova Lima.
“Como a maior parte da produção vai para o exterior, Minas Gerais não arrecada quase nada com ICMS porque existe isenção (Lei Kandir) para os produtos de exportação", afirma o deputado estadual Antônio Júlio (PMDB), membro da CPI. Cerca de 80% do minério retirado pela MBR é enviado para outros países. No entanto, a assessoria de imprensa da mineradora informou que o Estado e o município recebem a maior parte da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem) paga pela MBR ao governo federal. A assessoria de imprensa da mineradora informa que foram pagos, em 2004, R$ 300 milhões em impostos federais, estaduais e municipais. (C.R.)

Estudo internacional pode não ter validade jurídica

Um dos pontos em que se apóia a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) para garantir que não haverá comprometimento no abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) é o estudo hidrológico feito pela empresa espanhola Frasa Ingenieros Consultores a partir de 1997. O responsável pelo estudo é o geólogo Rafael Fernandez Rúbio, especialista reconhecido internacionalmente. No entanto, o trabalho pode não ter nenhuma validade jurídica.
A resolução 1.007/2003 do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) estabelece que os profissionais de Arquitetura, Engenharia, Agronomia, Geologia, Geografia e Meteorologia só podem exercer suas atividades após registro em um Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) do Brasil. Para os estrangeiros, é obrigatório o registro temporário e a apresentação de contrato com empresa do país. Porém, não existe no Crea-MG registro do professor Rúbio e, mesmo se ele tivesse se inscrito no Conselho de outro Estado, teria que passar pelo Crea-MG para ter autorização para atuar em Minas.
A denúncia foi feita pela assessoria parlamentar do deputado estadual Adalclever Lopes, membro da CPI da Mina de Capão Xavier e confirmada pelo Crea-MG. “Para o Brasil, o trabalho sem registro não é legal e não existe", afirma o gerente de Registros e Acervos do Crea-MG, João César Cardoso do Carmo. Ele explica que, antes de pedir o registro no Conselho, o geólogo espanhol deveria ter feito o reconhecimento de seu diploma em uma universidade brasileira e, assim, no Ministério da Educação.
O estudo de Rúbio foi utilizado como subsídio para elaboração do Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) feito pela empresa brasileira Ecolab a pedido da MBR. Foi nesse documento que a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) se fundamentou para emitir os pareceres técnico e jurídico favoráveis ao empreendimento minerário.
Para o gerente ambiental da MBR, Leandro Quadros Amorim, o professor Rúbio trabalhou como consultor para a mineradora e não foi o responsável técnico pelo licenciamento ambiental, o que ficou a cargo da Ecolab. Por causa disso, o espanhol ficaria dispensado do registro no Crea, segundo Amorim. “Ele continua sendo consultor da MBR e recebe relatórios mensais", declara. A informação, no entanto, não é compatível com a resolução do Confea, que estabelece a norma para qualquer trabalho feito por estrangeiros no Brasil, mesmo que seja uma consultoria.

MINA CAPÃO XAVIER
Briga de argumentos

Contrários

- O licenciamento ambiental para o funcionamento da mina foi feito de forma fracionada
- O EIA-Rima apresentado pela MBR não considerou a Lei 10.793 que estabelece a proteção dos mananciais destinados ao abastecimento público no Estado
- Não se sabe quais serão os impactos futuros sobre o ambiente local e o abastecimento público de água
- A licença dada ao empreendimento não prevê restrições para que a MBR inicie o rebaixamento do nível das águas subterrâneas
- O rebaixamento do lençol freático na região da mina vai reduzir a vazão da água destinada ao abastecimento de Belo Horizonte e Nova Lima
- A atividade mineratória no local pode provocar assoreamento nos mananciais
- A ação da mina vai fazer com que a qualidade da água caia de classe especial para classe 2
- A fauna e a flora locais serão comprometidas
- A operação da mina causa ruídos e vibrações que perturbam a tranqüilidade no Bairro Jardim Canadá

Favoráveis
- O licenciamento ambiental para a Mina de Capão Xavier seguiu os mais rígidos sistemas de controle e monitoramento. (conversa fiada!)
- A lei 10.793 não foi citada no EIA-Rima, mas foi considerada durante o levantamento jurídico e técnico da equipe contratada pela MBR. (Mentira, pois nem FEAM e nem COPAM e nem COPASA explica como a Lei 10.793/93 não está sendo ferida. A Lei 10.793/93 está sendo acintosamente desrespeitada.)
- Para conseguir o licenciamento, a MBR está cumprindo uma série de condicionantes, imposta pelos órgãos ambientais. (São só maquiações.)
- Os impactos da mineração são reversíveis e a empresa tem o compromisso de fazer a recuperação ambiental da área minerada. (Olhe o que a MBR fez com a Serra do Curral, com as Cascatas do Clube Campestre e com o Pico de Itabirito que você verá se no futuro MBR vai se lembrar de algum compromisso.)
- Foram feitos estudos hidrogeológicos aprofundados para reduzir os impactos sobre o sistema de água local. (Os estudos são parciais, apenas.)
- A fauna e a flora foram estudadas e preservadas com o deslocamento de espécimes para habitats em que podem sobreviver. (Mentira. Parte já deve ter sido dizimado.)
- Não existe risco de desabastecimento da população porque a água retirada será bombeada para um dos mananciais de Belo Horizonte e, depois, a Copasa poderá tirar a água do lago que será um grande reservatório. (Durante os 15 anos em que o lago estiver enchendo, vão tirar água de onde para saciar as 420 mil pessoas? Me engana que eu gosto.)
- O lago será monitorado para garantir a qualidade da água. (Monitorado pela própria empresa que pode maquiar os dados?)
- A MBR doará centenas de hectares destinados à preservação para a Prefeitura de Belo Horizonte e para o Parque do Rola Moça - administrado pelo IEF. (Isto significa que após degradar a região, a MBR passará a responsabilidade da manutenção da área para o poder público. Isso é presente de grego.)

RAIO-X DE CAPÃO XAVIER
Localização: Nova Lima, a 15 Km de Belo Horizonte
Área: hectares (a confirmar)
Investimento: US$ 390 milhões (a confirmar)
Extração: 173 milhões de toneladas de minério de ferro em 17 anos _ de oito a nove milhões por ano
Produção em 2004: 4,5 milhões de toneladas
O que representa: 20% da produção total da MBR
Destino do minério: 80% para exportação e 205 para o mercado interno
Empregos gerados: 600 entre empregados próprios e terceirizados

CRONOLOGIA

25/03/93 - Termo de Compromisso entre Copasa e MBR para a realização de um estudo hidrológico-ambiental, feito pela empresa espanhola Frasa Ingenieros Consultores

22/07/1998 - MBR e Copasa firmam Termo de Compromisso para dar início ao monitoramento dos mananciais da região e estudo sobre o impacto da atividade mineradora no local

27/08/02 - Protocolado o EIA_Rima da MBR na Feam para pedir o licenciamento

20/03/03 - Termo de Compromisso firmado entre Prefeitura de Belo Horizonte e MBR, autorizando o uso de um terreno do município para transporte da produção

28/08/03 - Licença Prévia para a mina

25/03/03 - Audiência pública no bairro Jardim Canadá

17/12/03 - Ação Popular movida por representantes do Movimento Capão Xavier Vivo

18/12/03 - Licença de Instalação da mina

20/03/04 - Deputados apresentam Ação Popular pedindo a suspensão das atividades na mina

25/03/04 - Licença de Operação é concedida à mina

26/03/04 - Juiz dá liminar atendendo à ação dos deputados

28/05/04 - Ação Civil Pública movida por cinco promotores do Meio Ambiente do Ministério Público de Minas Gerais

16/06/04 - Início das atividades na mina

21/10/04 - Aprovação da CPI da Mina Capão Xavier na Assembléia Legislativa

03/03/05 - Instalação da CPI da Mina Capão Xavier


Promotor vê fim da qualidade da água
Cláudia Rezende
Repórter

O ponto de polêmica em relação ao funcionamento da Mina de Capão Xavier, da Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), em Nova Lima, não é só a hipótese de desabastecimento, mas também qual será a qualidade da água após a mineração. “A água vai ficar com pior qualidade. Isso contraria a lei estadual 10.793 que diz que os padrões mínimos têm que ser mantidos", afirma o promotor do Meio Ambiente, Fernando Galvão.
O promotor se baseia em um trecho do Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) apresentado pela MBR à Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). O documento registra que as águas que formarão o lago após o encerramento da mina em Capão Xavier deverão cumprir no mínimo os requisitos de Classe 2, conforme a orientação do Conselho de Política Ambiental (Copam) para as águas que futuramente formarão o lago, e ainda não podem ser monitoradas.
No entanto, as águas que compõem o lençol subterrâneo e irão preencher o lago estão enquadradas na Classe Especial, que é o tipo mais puro, único que dispensa tratamento para ser ingerida. A classificação está expressa na Deliberação Normativa Número 20, de 24/06/1997, que qualifica as águas que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, que é o caso da rede de Capão Xavier. Se houver a mudança, passará de Classe Especial para Classe 2, caindo dois níveis.
O professor de Planejamento Ambiental da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), o geólogo Fernando Verassani, explica que a água ficará mais vulnerável. “A exposição é o maior fator de vulnerabilidade porque hoje ela está escondida, mas depois ficará exposta".
Porém, segundo Verassani, todo impacto pode ser evitado com gestão ambiental adequada e, no caso de Capão Xavier, ele acredita que estão sendo utilizados instrumentos com tecnologia de ponta. O lago terá área de um quilômetro quadrado, 180 metros de profundidade e capacidade para 60 bilhões de litros.
A eutrofização - fenômeno que ocorre em locais com água parada devido ao acúmulo de matéria orgânica - é um dos fatores que preocupam as pessoas que se posicionam contrários à mina. O processo provoca degradação da água e mau cheiro, a exemplo da Lagoa da Pampulha.

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