PODER JUDIACIÁRIO NOS BRAÇOS DA MBR?
Mais uma batalha jurídica perdida na luta contra a MBR pela preservação dos mananciais de abastecimento de Capão Xavier, na Região metropolitana de Belo Horizonte/MG
----------O
MOVIMENTO CAPÃO XAVIER VIVO
lamenta a decisão dos Desembargadores que aceitaram o AGRAVO impetrado
pela MBR e pelo Estado de Minas contra a Liminar concedida à Ação
Popular, em 17/12/2003.
----------Dia
14/12/2004, dia São João da Cruz. Este, entre tantos serviços
prestados à humanidade, foi um grande defensor da natureza e das águas.
Ajudou muito na captação e adução de água
e na construção de aquedutos para saciar populações
de muitas pequenas cidades da Espanha.
----------Neste
dia, umas 30 pessoas integrantes do Movimento Capão Xavier Vivo, com
camisetas com a inscrição PRESERVAR MANANCIAIS É
PRESERVAR A VIDA, Movimento Capão Xavier Vivo, segurando uma
faixa com a seguinte inscrição: “320.000 pessoas
bebem água de Capão Xavier! Justiça, pare a Mina de Capão
Xavier antes que seja tarde!” assistiram ao julgamento de um
AGRAVO da MBR – Minerações Brasileiras Reunidas –
contra a Ação Popular impetrada na Justiça de Minas contra
a Mina de Capão Xavier. No dia de São João da Cruz, o
Poder Judiciário, através de três desembargadores do Tribunal
de Justiça de Minas Gerais, decidiu subservientemente aos grandes interesses
econômicos em detrimento dos direitos humanos, particularmente do direito
ambiental.
----------Na
6a câmara cível, o desembargador José Domingues Ferreira
Esteves presidiu a sessão. Um painel bonito na parede mostrava uma
pessoa com a corda no pescoço para ser enforcada. O carrasco esperava
a autorização. Pensamos: Os mananciais de abastecimento público
de Capão Xavier estão sendo condenados à forca. Três
desembargadores podem salvá-los ou condená-los. “O que
acontecerá?” perguntavam nossos corações. “Dá
para acreditar no poder judiciário?, questionava um companheiro já
calejado pela luta por tantos direitos humanos contra a ditadura militar.
Um dos advogados da MBR tentou adiar a votação do agravo, mas
um dos advogados da Ação Popular não concordou com o
adiamento e manteve a inscrição para fazer sustentação
oral para pedir o não provimento ao agravo impetrado pela MBR e pelo
Estado de Minas Gerais.
----------O
desembargador presidente não acatou o pedido de adiamento alegando
que o regimento interno prescrevia que “quando uma das partes pede o
adiamento, e a outra parte não concorda com o adiamento e pede sustentação
oral, esta tem precedência”.
----------Após
vários adiamentos concedidos a muitos outros processos, o AGRAVO foi
julgado. Um dos advogados da MBR iniciou usando a tribuna. Fez demasiados
elogios ao desembargador 1o vogal, dizendo que era aluno dele. Disse que não
há ilegalidade nenhuma no projeto da Mina de Capão Xavier, mina
em funcionamento há 10 meses, onde estão trabalhando, segundo
ele, 400 caminhões por dia. São 90.000 viagens por mês,
3.000 por dia. Disse ainda que “nestes dez meses não faltou água
para ninguém. Logo nunca vai faltar água”.
----------Um
dos advogados dos autores da Ação Popular, grande orador, com
competência, demonstrou a gravidade da questão. Disse, dentre
outras coisas: “Trata-se de um habbeas corpus da vida. Provavelmente
os desembargadores, com uma ou duas décadas de cátedra, não
tenham julgado uma questão tão grave como a da Mina de Capão
Xavier. Recordou a ECO/92 e chamou a atenção para os enormes
estragos ambientais em curso em Minas Gerais, patrocinados pelas mineradoras.
Alertou que é mentira dizer que o licenciamento ambiental aconteceu
com lisura e que todos os órgãos que estudaram o assunto tenham
manifestado acordo. A UFMG, o IGAN, a Botura, a Frasa e MDGEO sustentam que
a Mina de Capão Xavier causará enormes estragos na flora, fauna
e nas nascentes dos quatro mananciais de Capão Xavier.”
----------Ouvimos
com alegria a argumentação de um dos advogados da Ação
Popular. Ele nos fez recordar o filósofo Diógenes. Em meio a
tantas caricaturas de seres humanos, estávamos ali ouvindo um verdadeiro
homem, comprometido com a defesa da vida e do meio ambiente.
----------Encheu-nos
de esperança o parecer do desembargador presidente, o relator do AGRAVO,
José Domingues Ferreira Esteves. Com coragem, alertou que diante do
perigo de destruição dos mananciais, por cautela, ele negava
provimento ao agravo da MBR, seguindo parecer do Ministério Público.
Disse, entre outras coisas: “Entre os interesses econômicos de
um grupo privado e o direito à vida da população de Belo
Horizonte, que tem o direito de ter água de boa qualidade para beber,
eu fico com o direito à vida, à água, ao meio ambiente
preservado.”
----------O
desembargador 1o vogal, elogiado anteriormente pelo advogado da MBR, ironizou
sobre a liminar concedida anteriormente, alegando nem saber quem era o juiz
que a deferiu, desqualificou a liminar alegando que não entende nada
de água e nem de mineração. Por isso acatava o agravo
da MBR. Disse: “A liminar concedida tempos atrás é vaga.
Diz que poderá faltar água após vários anos.
Logo não há periculum in mora”. (perigo da demora
no julgamento da Ação Popular)
----------O
desembargador 2o vogal, com a mesma argumentação do 1o vogal,
votou a favor da MBR. Assim perdemos mais uma batalha jurídica na luta
contra MBR. Placar: 2 a 1 para a MBR. Apertou-se mais a corda no pescoço
dos mananciais de Capão Xavier.
----------Se
o agravo não fosse aceito, a MBR teria que paralisar imediatamente
as atividades da Mina. Temos informações de que o minério
de alto teor de Capão Xavier já foi vendido para a China mesmo
antes de ser explotado. Negar provimento nesse agravo seria fundamental para
garantir os Mananciais de Abastecimento Público ameaçados pela
ação depredadora da MBR que já destruiu fauna, flora
e está prestes a comprometer irremediavelmente o lençol freático
de Capão Xavier. Não interessa aos autores populares perdas
e danos e sim a água que nasce naqueles mananciais.
----------Detalhe
importante: Dizem que no Tribunal de MG, normalmente, o 1o e 2o vogais seguem
o parecer o desembargador relator. Este estuda com mais afinco o assunto e
dá um parecer por escrito. Mas no julgamento deste agravo, como outro
há vários meses atrás, os desembargadores vogais votaram
a favor da MBR, contra o parecer do desembargador relator. Ficaram do lado
dos interesses econômicos e contra o interesse público.
----------O
advogado dos autores da Ação Popular, no final do julgamento
pediu ao desembargador presidente e relator: “Eu gostaria de receber,
por escrito, o parecer de todos os três desembargadores, pois teremos
que levar esta luta, se necessário for, até ao Supremo Tribunal
Federal.” O desembargador 1o vogal se sentiu agredido pelo advogado
que reivindicava um justo direito constitucional. Aliás, queremos muito
que o tribunal disponibilize as notas taquigráficas sobre o que foi
dito pelos advogados e pelos desembargadores. Isso precisa ser divulgado para
que fique registrado para as gerações futuras quem são
os responsáveis/parceiros da depredação ambiental e,
especificamente do massacre dos mananciais de Capão Xavier.
----------Os
advogados da Ação Popular estão analisando quais serão
os próximos passos da luta jurídica que visa salvar os Mananciais
de Abastecimento Público de Capão Xavier. Iremos até
ao Supremo Tribunal Federal, se necessário for.
----------O
Movimento Capão Xavier Vivo vai continuar mobilizando forças,
denunciando as irregularidades, chamando à responsabilidade as autoridades
públicas competentes e interpelando a Justiça para que as leis
ambientais sejam respeitadas. O objetivo do Movimento é paralisar a
Mina de Capão Xavier antes que seja tarde demais. A sociedade civil
está atenta e vai cobrar daqueles que se curvarem diante do poderio
econômico da mega-corporação MBR (e Vale do Rio Doce)
que somente prima pelo lucro. São diversas as entidades que apóiam
e integram o Movimento Capão Xavier Vivo como Igrejas, representantes
da Campanha da Fraternidade, CUT, CPT, MST, lideranças estudantis,
defensores do Direito Ambiental, Deputados, Vereadores, voluntários
e um número significativo de cidadãos ciosos de seus direitos
e deveres. A natureza merece nossa entusiasta adesão, o povo ainda
merece nossa solidariedade. Mãos à obra!
----------De
tudo ficaram três certezas: estamos sempre começando, no luto
e na vitória / a luta continua, sem saber até onde chegamos;
podemos ser interrompidos / antes do tempo.
Façamos
das pedras – caminho; das perdas – memória; da dor –
oportunidades; do medo – arado; do sonho – pão e horizonte.
Bem-aventurado quem trata
a água como fonte de vida!
Ai de quem mata as nascentes, asfixia os mananciais e envenena a água
Movimento Capão
Xavier VIVO
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