NOTA DO MOVIMENTO CAPÃO XAVIER VIVO
À Imprensa e à sociedade
--------Belo Horizonte, 07 de março de 2007
--------Agressão aos Mananciais de Capão Xavier
--------O
Movimento Capão Xavier vivo se solidariza com as Mulheres camponesas
da Via Campesina. As atividades da Mineradora MBR – Mineração
Brasileira Reunidas, na Mina Capão Xavier, foram paralizadas toda a manhã,
quarta-feira, dia 07 de março de 2007, na região Metropolitana
de Belo Horizonte, por cerca de 600 mulheres Sem Terra, atingidas por barragens,
quilombolas, geraizeiras, indígenas, camponesas, agentes de pastorais
e estudantes. As mulheres trancaram a estrada de saída e entrada dos
caminhões de minério de ferro, formando imensas filas de caminhões.
As mulheres camponesas estão na luta em da vida, das águas, por
soberania e segurança alimentar, contra o agronegócio que em Minas
é liderado pela mineração.
--------O
Movimento Capão Xavier Vivo denuncia a depredação dos mananciais
de Abastecimento Público de Capão Xavier. Na luta em defesa das
águas informa o que segue:
--------Em
2005, Belo Horizonte começou a viver capítulo angustiante de sua
história. A MBR – Minerações Brasileiras Reunidas
S/A - há dois anos está explorando minério de ferro de
alto teor na Mina Capão Xavier, em Nova Lima, na região de quatro
mananciais de abastecimento público – Fechos, Mutuca, Catarina
e Barreiro. Estes mananciais são responsáveis pelo abastecimento
de 9% da população de Belo Horizonte (7% da região metropolitana
– cerca de 320.000 pessoas). O projeto da Mina Capão Xavier visa
explorar 173 milhões de toneladas de minério de ferro –
6,5 bilhões de reais - , em 22 anos. Só no primeiro ano já
foram explotados cerca de 5 milhões de toneladas.
--------A
atividade da mineração de ferro implica no rebaixamento do lençol
freático, durante o período da lavra. A tendência das nascentes
próximas é perderem muita água e até secarem. O
problema de Capão Xavier é que a jazida acumula as águas
que nascem mais adiante com os nomes de ribeirões Mutuca (em propriedade
do Município de BH), Fechos, Catarina e Barreiro. Fechos e Mutuca são
as principais fontes do Sistema Morro Redondo, que abastece, por gravidade,
a região sul de Belo Horizonte – do Aglomerado da Serra ao Luxemburgo.
O Barreiro é um dos mananciais que, pelo Sistema Ibirité, atende
às regiões norte e oeste de BH e o Catarina abastece os bairros
Jardim Canadá, Retiro das Pedras, parte do Barreiro e a indústria
Vallourec & Mannesmann.
--------No
início, diz a Bíblia, “o Espírito pairava sobre as
águas”. A água é o princípio de toda vida,
pois todas as formas de vida vêm da água e não do ferro.
A biodiversidade assegura a resiliência, isto é, a capacidade de
se reconstituir. Se Deus e a evolução da criação,
em bilhões de anos, geraram um belíssimo ecossistema, em uma biodiversidade
fantástica, com seres humanos, animais, vegetais e minerais convivendo,
de forma harmônica, formando uma grande comunidade de vida, não
seria arrogância imperdoável arrancar parte do corpo da terra de
Capão Xavier para, pretensamente, efetuar um milagre de multiplicação
das águas? A tecnologia, no respeito, pode ajudar a natureza, porém,
no desrespeito, jamais poderá substituí-la.
--------Um
dos piores legados que a mineradora MBR quer nos deixar é um lago, apresentado
como a grande solução ambiental para o futuro. O “estudo
de avaliação ambiental do futuro lago” demonstra os evidentes
riscos ambientais a que estará exposta a população de nossa
cidade. Hoje ali nascem águas de classe especial, naturalmente protegidas
por um ecossistema que abriga espécies vegetais e animais. As águas
do futuro lago são dadas como de classe 2, e não poderia ser diferente
pois elas nem existem. Some-se a previsão do aparecimento de gás
sulfídrico no lago, de odor repugnante. Além do gás sulfídrico,
poderá haver o surgimento de algas azuis, as chamadas cianofíceas,
cujo metabolismo transforma nutrientes em gazes e formações altamente
tóxicas como o próprio cianureto letal.
--------Fenômeno
ainda mais grave que ocorrerá de forma natural ao longo do tempo no lago
é a eutrofização - água com super-alimentação
de nutrientes. Será responsável pela formação no
ambiente lacustre de cheiro e odor repugnantes, tornando o lago impróprio
até mesmo para o banho. As águas de ambientes eutrofizados apresentam
graves problemas para o seu tratamento. O fato de não existir, em águas
temperadas, lagos com tal profundidade torna esta proposta uma arriscada aventura.
--------A
mina de Capão Xavier situa-se, parcialmente, dentro da Área de
Proteção Especial – APE - da Mutuca (20% da cava está
dentro do terreno da APE) e da Área de Proteção Ambiental
– APA - da Região Sul de Belo Horizonte. Essas duas áreas
têm como objetivo principal a preservação dos Recursos Hídricos.
--------Não
há um plano de gestão de águas. É tudo uma incógnita,
conforme questiona o Ministério Público em uma Ação
Civil Pública assinada por cinco promotores públicos responsáveis
pelo meio ambiente. O licenciamento ambiental, feito, em um processo viciado
e de forma ardilosa, por Fundação Estadual do Meio Ambiente –
FEAM - e Conselho de Política Ambiental –COPAM - foi dado parcialmente
e ainda não concedeu à mineradora a permissão para fazer
o rebaixamento do lençol freático em Capão Xavier.
--------O
minério de ferro de alto teor será exportado sem deixar impostos
para o estado, pois a Lei Kandir isenta de impostos produtos para exportação.
Deixará também uma enorme cratera. Além de expor ao risco
da escassez de água, ao desabastecimento, milhares de pessoas, ameaça
de destruição a flora e a fauna, do presente e do futuro na região
de Capão Xavier.
--------Segundo
os documentos apresentados à FEAM e ao COPAM, se continuar a mineração
de Capão Xavier, as águas do córrego de Fechos terão
sua vazão natural reduzida substancialmente, em 40%. Também os
córregos de Catarina e Barreiro sofrerão redução
significativa, em torno de 20%, além de impactos irreversíveis
em sua zona de proteção. A lei 10.793/92 proíbe mineração
em bacias de mananciais de abastecimento público que comprometam em padrões
mínimos a qualidade das águas. Assim sendo, o projeto da Mina
de Capão Xavier fere flagrantemente a Lei Estadual n. 10.793/92, pois
coloca em risco a qualidade das águas, não apenas em níveis
mínimos, mas em níveis elevados.
--------O
prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, autorizou a construção
da estrada, tornando possível o escoamento do minério da Mina
de Capão Xavier.
--------Sabemos
que as explorações minerárias da MBR já destruíram
parte do nosso Patrimônio Histórico Natural, que é a Serra
do Curral e o Pico do Itabirito; secaram nascentes do Clube Campestre e em Macacos;
prejudicaram mananciais que abasteciam parte da população de Itabirito.
Deixou uma enorme cratera em Águas Claras sem recuperação;
estragos ambientais em “Tejuco”, no Município de Brumadinho/MG.
A MBR tem sido denunciada e autuada por diversos danos ambientais.
--------Dizem
que o projeto da Mina Capão Xavier iniciou-se em 1992. Por que somente
após uma Ação Popular e a obtenção da primeira
liminar na justiça, em 17 de dezembro de 2003, a população
de Belo Horizonte começou a tomar conhecimento do projeto em Capão
Xavier?
--------Por
todos os motivos, acima apresentados, é que lutamos contra esse projeto
de explotação de minério da MBR, em Capão Xavier.
No nosso entendimento o projeto é ilegal, porque fere as leis ambientais;
é imoral porque rompe com uma história de mais de cem anos de
preservação daqueles mananciais de abastecimento público
e porque desmoraliza as instituições públicas que foram
coniventes ou omissas; é prepotente quando desafia a vontade divina e
se arvora em multiplicador de águas; é irresponsável, quando
submete a população de toda a cidade aos riscos de um holocausto
ambiental. Enfim, desrespeita o direito à vida das próximas gerações
e fere o direito da flora e da fauna ali existentes.
--------Quem
viver verá! A sociedade civil está atenta e continua cobrando
daqueles que se curvam diante do poderio econômico dessa mega-corporação
que somente persegue o lucro.
--------Para mais informações, consulte o sítio na internet www.capaoxaviervivo.org
MOVIMENTO CAPÃO XAVIER VIVO
Contato com Ana Turolla: tel: 031 3282 4321 ou 031 9613 3882
e-mail: anaturolla@yahoo.com.br
Movimento Capão
Xavier VIVO
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