O FUTURO DO ENTORNO DE BELO HORIZONTE

Haroldo Vinagre Brasil
Engenheiro e professor

A CIA VALE DO RIO DOCE (CVRD) adquiriu nos últimos anos o controle da MBR, da FERTECO, da SAMITRE e da SAMARCO, transformando-se em uma das maiores mineradora de ferro do mundo.
Como conseqüência a Vale tornou-se proprietária de uma área imensa de jazidas de minério de ferro no entorno da grande BH. Ela contém um ecossistema complexo, que abriga inúmeros mananciais e aqüíferos subterrâneos que abastecem ou vão abastecer a população dessa mega-região, no futuro
Discute-se hoje - e com razão - a conveniência de se implantarem esse ou aquele empreendimento de vulto na área de concessão São casos pontuais cujos reflexos no ecossistema local não são desprezíveis. No entanto, ao por o foco no curto prazo, a sociedade está desatenta à questão do longo prazo.
O que nós devemos discutir a partir de agora, prioritária e em profundidade é quais os planos da VALE nessa área de concessão, que envolve milhares de hectares na Região Metropolitana e adjacências.
Até agora essas empresas, hoje sob o controle da Vale já deixaram um ou dois buracos monumentais, um deles com mais de 200 metros de profundidade, o próximo com mais de 150 metros, rebaixamento do lençol de água e criação de grandes lagoas de acumulação que para o bem ou para o mal, mudaram substancialmente nosso ecossistema.
E no futuro ? Continuaremos a picotar essa populosa região, estudando apenas os reflexos ecológicos e humanos caso a caso, sem levar em conta o efeito sistêmico, que essa minerações em seu conjunto, podem trazer para as próximas gerações ? Sabemos que o todo é muito maior do que a soma de suas partes, quando se trata de agressão ao meio ambiente.
E' hora de dialogarmos no sentido de tornar transparente esses futuros projetos, pondo em volta da mesa a VALE, a Sociedade Civil e o Governo pelos seus órgãos reguladores. Dessa forma será possível também estudar qual o balanço entre criação de empregos e o custo/benefício econômico e social, nos seus aspectos quantitativos e qualitativos que esse empreendimentos podem trazer e quais outras alternativas para substituir alguns deles.
Finalmente, é preciso que, no caso de minerações já aprovadas e/ou em processo de litígio, a Sociedade Civil se organize para acompanhar e cobrar com rigor todos os itens das contrapartidas exigidas nos projetos pelas entidade reguladoras e prefeituras, nos aspectos de proteção dos mananciais, de recomposição ambiental, de poluição do ar, da sobrecarga de tráfego nas estradas adjacentes às minerações e as providências para evitar desastres
ecológicos. Um verdadeiro chcke list com nome e data para cada evento.

Texto publicado no Jornal O CARRILHÃO, ano 4, n. 26, p. 6

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