RELATÓRIO FINAL DA CPI de 1975: a atuação da MBR em Minas Gerais
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
ESPAÇOO
objetivo da Reunião da CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito
- hoje, de acordo com o que consta da Ata, é a apresentação
do relatório do Sr. Deputado José Luiz Bacarini sobre os trabalhos
desta Comissão.
ESPAÇOAntes
de concedermos a palavra a S. Exa., a Presidência comunica aos membros
da Comissão, sendo que disso o Sr. Deputado Luiz Bacarini está
devidamente informado, que, desde a última Reunião até
a presente data, outros documentos além dos constantes da relação
da Ata foram trazidos a esta Comissão, entre eles um que nos foi enviado
pela Federação das Indústrias de Minas Gerais, que é,
exatamente, “Xerox” completo com todas as peças anexas da
denúncia da mineração Boa Esperança, com relação
ao problema do transporte ferroviário no Vale do Paraopeba, denúncia
que é peça essencial da Comissão Parlamentar de Inquérito
que, em Brasília na Câmara Federal, apura problemas relativos à
atuação, no Brasil, das empresas multinacionais.
ESPAÇOEsse
relatório foi entregue ao Sr. Deputado Luiz Bacarini para que pudesse
ser examinado ainda a tempo de, no que fosse necessário, ser incluído
no seu relatório.
ESPAÇOCom
a palavra o Sr. Deputado Luiz Bacarini.
O SR. DEPUTADO LUIZ BACARINI - Ao apresentar o meu relatório,
quero me congratular com os Deputados que compõem esta comissão,
não apenas pela dedicação ao trabalho mas, sobretudo, pelo
zelo que demonstraram durante os depoimentos que aqui tomamos.
ESPAÇOFeito
isto, passo a ler o Relatório e vou me permitir dar uma cópia
a cada membro para que possa acompanhar a leitura.
RELATÓRIO da CPI que investigou irregularidades na MBR
ESPAÇODe
autoria do Deputado Jorge Carone, datado de 13 de março de 1975, o requerimento
que, com o apoio regimental, deu origem a presente Comissão Parlamentar
de Inquérito, para se apurar as possíveis irregularidades praticadas
pelas Minerações Brasileiras Reunidas S/A, na Serra do Curral,
patrimônio Histórico e cultural de Minas Gerais, cartão
postal de Belo Horizonte/MG.
ESPAÇODeferido
o requerimento, na mesma data, de conformidade com o disposto no nº XXVI
do artigo 227 do Regimento Interno, foi, pelo Presidente da Assembléia
Legislativa, nomeada a presente Comissão.
ESPAÇOAssim,
é regular e legítima, face à lei e ao Regimento Interno
da Casa, a constituição e nomeação desta Comissão
Parlamentar de Inquérito.
ESPAÇOEsta
se reuniu em 21 de março de 1975 e elegeu Presidente o ilustre Deputado
Gerardo Renaut, Vice-Presidente o Deputado José Santana, tendo sido eu
indicado Relator.
ESPAÇOEm
2 de abril de 1975, a CPI ouviu o depoimento do Dr. Afonso Araújo Paulino,
Diretor-Presidente do “Jornal de Minas”, órgão desta
Capital que, há mais de um ano, vinha apresentando denúncias contra
as atividades da MBR.
ESPAÇOEm
4 de abril de 1975, foi ouvido perante a CPI, o Dr. Oswaldo Pierucetti, Prefeito
de Belo Horizonte; em 3 de abril do mesmo ano o Sr. Ruben Costa Lima, Prefeito
de Nova Lima, e em 16 do mesmo mês e ano, o Sr. José Azevedo Leite,
Prefeito de Raposos.
ESPAÇOO
Sr. Presidente da MBR, Daniel Sydenstricker foi ouvido no dia 17 de abril, ouvindo-se,
a seguir, o Dr. Mário Viegas, Presidente da Associação
Ornitológica Mineira, em 29 de abril, e o professor Ozório Da
Rocha Diniz em 9 de maio de 1975.
Esta Comissão Parlamentar de Inquérito solicitou ainda, as seguintes
diligências:
ESPAÇO1)
Ao Chefe do Departamento de Engenharia Sanitária da Escola de Engenharia
da UFMG, Engº Honório Botelho, em 7 de abril de 1975, informações
e levantamento das alterações climáticas de Belo Horizonte.
Em resposta, informa aquele departamento, em carta de 04/07/1975, que não
dispunha deste levantamento, sendo impossível, assim, fornecer quaisquer
dados.
ESPAÇO2)
Ao diretor da Rede Ferroviária Federal, em 4 de abril de 1975, solicitando
cópia de contrato firmado entre aquela Rede e a MBR, sem, no entanto,
até a presente data, obter qualquer resposta. Consta do processo ofício
da MBR à Rede, no qual esta deixa a cargo daquela, o fornecimento desse
contrato.
-ESPAÇO3)
Ao Diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral, em 4
de abril de 1975, Dr. Acyr Ávila da Luz, solicitando informações
sobre a autorização concedida à MBR para exploração
de jazida na Serra do Curral, sem qualquer resposta.
ESPAÇO4)
Ao Chefe do 5º Distrito da Meteorologia do Ministério da Agricultura,
em 4 de abril de 1975, Dr. Alberto Vilas Bouçada, solicitando levantamento
das alterações climáticas de Belo Horizonte, de 1969 a
1975. Por várias vezes, houve troca de correspondência entre a
CPI e aquele Distrito, sendo, finalmente, em 2 de julho, encaminhado o parecer
sobre o assunto.
ESPAÇO5)
Ao Presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Vereador Paulo Portugal,
em 4 de abril, solicitando cópia da Lei 858, de 20/10/1961, que criou
a Ferrobel. A Lei está anexada ao processo.
ESPAÇO6)
Ao Chefe do 3º Distrito do Serviço de Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional, solicitando informações sobre o tombamento
da Serra do Curral.
ESPAÇO7)
Ao Diretor do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, em 3 de abril,
solicitando informações sobre as medidas fixadas para a proteção
da Mata do Jambreiro.
ESPAÇO8)
Na mesma data, ao Diretor do Instituto Estadual de Florestas, no mesmo sentido.
ESPAÇOEstas,
em resumo, as providências tomadas por esta Comissão.
ESPAÇOCom
os dados de que dispomos, compete-nos, agora, examinar os fatos à luz
do direito e dos elementos colhidos.
ESPAÇOEgrégia
Comissão!
ESPAÇOAntes
de examinar propriamente as atividades da MBR na Serra do Curral, impõe-se
o exame da política de mineração e siderurgia de nossa
Pátria e seus reflexos na economia do Brasil e, em particular, de Minas
Gerais.
ESPAÇODesde
quando, em 1554, o Padre Anchieta anunciara à Coroa a existência
de ferro no Brasil, até nossos dias, muito se fala das enormes riquezas
de que o nosso solo é possuidor.
ESPAÇOE
a luta pela independência econômica quase se processa, no Brasil,
exclusivamente, através da defesa de nossos minérios e da sua
industrialização. “O minério não dá
duas safras”, tratando-se de “ riqueza não renovável”
são os slogans que bem caracterizam a alta determinação
daqueles verdadeiros nacionalistas que desejam ver o Brasil livre de capitais
estrangeiros, que daqui tudo levam, sem qualquer retorno e sem qualquer desenvolvimento.
ESPAÇOMinas,
então, tem sido o celeiro do sacrifício, sugada em sua riqueza
maior e abandonada naquilo que, por justiça e por direito, deveria lhe
ser outorgado.
ESPAÇOMinas
está vendendo o seu futuro!
ESPAÇONo
passado exauriram o nosso ouro. No presente exaurem o nosso minério,
na política voraz de mineração.
ESPAÇOO
Brasil, nos últimos quarenta anos, tem tentado, por todos os meios ao
seu alcance, atingir a meta ideal, através da implantação
da política integrada de mineração e siderurgia.
ESPAÇOVolta
Redonda foi o primeiro passo.
ESPAÇOO
Professor Ozório Diniz, ao prestar seu depoimento perante esta CPI, afirmou
com muita precisão: “Não fizemos voto de pobreza, mas queremos
participar do bolo que está sendo distribuído ao mundo, através
da industrialização”.
ESPAÇOEsta
é a legítima verdade.
ESPAÇONão
somos contra a política de mineração, mas desejamos ver,
pari e passo com ela, a implantação também de siderurgias
em nossa Pátria.
ESPAÇONem
mesmo a alegação de que a exportação produz divisas
serviria como suporte à exportação pura e simples, pois
que, como afirmou o Professor Ozório Diniz, o Brasil consome, na importação
do aço, o dobro de divisas que nos dão as exportações
de minério.
ESPAÇOUrge,
portanto, implantar em nossa Pátria a política integrada de mineração
e siderurgia, sob pena de, assim, não agindo, confirmarmos a triste expressão:
Estaremos vendendo o nosso futuro?
ESPAÇOFoi
assim pensando que o eminente Presidente Castelo Branco, em conversa com o Dr.
Antunes, fez a este um apelo para que procurasse auxiliar o Governo na implantação
desta política integrada, conforme depoimento do Sr. Daniel Seydenstricker,
presidente da MBR. E ela se implantaria em 3 etapas, sendo as duas primeiras
de mineração e pelotização e, posteriormente, a
de siderurgia.
ESPAÇOE
foi assim que surgiu, em Minas Gerais, a MBR. Mas não mais com os propósitos
manifestados anteriormente.
Pela Recomendação Ministerial, aprovada pelo Presidente Costa
e Silva, em 9 de abril de 1968, de nº 50/68, se verifica, através
de seu item 3, que: “… um dos objetivos do programa integrado
de mineração e siderurgia que a Companhia Auxiliar de Empresas
de ESPAÇOMineração
– CAEMI (da qual a MBR. é subsidiária) submeteu à
apreciação do Governo anterior”.
Através desta proposta da CAEMI, e nela confiante, o Governo Federal
autorizou a construção do terminal marítimo para embarque
de minério de ferro na Baía de Sepitiba, dando à MBR o
privilégio para sua exploração e, inclusive, submetendo
os mineradores privados do Vale do Paraopeba, à prévia autorização
dela MBR, para transportar e embarcar minério de sua produção
pelo citado terminal de Sepitiba.
ESPAÇOAprovada
esta Recomendação, a MBR, alegando dificuldades na conclusão
do contrato com a RFF, por motivos do frete, conforme confessa o seu Presidente
em seu depoimento, volta novamente às portas governamentais, e nova Recomendação
é baixada, de nº 74/70, na qual se constata que:
ESPAÇO“O
projeto da MBR, anteriormente denominado “Plano integrado de Mineração
e Siderurgia”, tornou-se menos ambicioso no que concerne às etapas
de industrialização (Siderurgia e pelotização),
passando a ser basicamente um projeto de exportação de minérios.”
ESPAÇOEm
resumo, eis o início das atividades da MBR, em Minas Gerais. Após
a aquisição da Companhia de Mineração Novalimense
e o arrendamento da jazida da Ferrobel, passou aquela empresa à exploração
e exportação de minérios, destruindo a Serra do Curral,
quebrando o panorama paisagístico, desmatando a Mata do Jambreiro, poluindo
água e provocando prejuízos à população de
Nova Lima.
ESPAÇOE
o que restou para o Brasil ou para Minas?
ESPAÇOO
plano integrado de mineração e siderurgia foi totalmente esquecido.
ESPAÇONo
próprio dizer do Presidente da MBR, o Japão é o maior exportador
de aço para o Brasil e é o maior importador de ferro da
MBR. É, na afirmativa do Professor Ozório Diniz, a importação
de aço que consome o dobro de divisas que nos dão a exportação
do minério de ferro.
ESPAÇONão
há como se falar em aumento de divisas.
ESPAÇOAs
nossas reservas vão aos poucos se exaurindo, sem que o Brasil se resguarde.
O Professor Ozório Diniz – a quem rendo de passagem minha homenagem
– em seu depoimento, defende, com entusiasmo e patriotismo, a reserva
de jazidas estratégicas de minério, bem situadas, para garantir
a siderurgia nacional, no futuro. Além disso, trata-se mesmo esta reserva
de medida de segurança nacional, que poderá proporcionar à
nossa pátria ampla tranqüilidade, fácil acesso e exploração
destas jazidas em períodos de convulsões ou conturbações
mundiais.
ESPAÇOE
o que dizer de Minas Gerais?
ESPAÇOO
nosso Estado sonha com a Açominas. Luta pela implantação
aqui de um pólo siderúrgico, mas assiste, impassível, as
explorações de suas grandes jazidas, confirmando o slogan, tão
somente, que somos o celeiro de exportação de minérios
e de mineiros.
ESPAÇOE
o que recebemos em troca? Exclusivamente a quota parte sobre o imposto único
sobre minério, que em 1974 somou a irrisória quantia de CR$ 113.291.929,42
, inferior à da própria quota parte de imposto único sobre
combustíveis e lubrificantes ………… (CR$137.188.914,91
) e aos próprios dividendos da CEMIG para com o Estado.
ESPAÇOA
Ferrovia BH – Rio e BH – São Paulo aí está
em fase de implantação. Se a Açominas não vier nestes
próximos quatro anos, a luta será inglória, pois corremos
o sério risco de se desviar o pólo siderúrgico para outros
Estados no momento em que o transporte de minério puder ser feito por
ferrovia de alta categoria e de grande velocidade, de 110 Kms horários.
ESPAÇOÉ
de todo aconselhável que faça parte integrante deste relatório
algumas sugestões do Professor Ozório Diniz:
ESPAÇOa)
Acelerar a industrialização de nossa Pátria, exportando
o minério que não nos faça falta, lucrativamente;
ESPAÇOb)
Pressionar a Vale do Rio Doce, a MBR e a SAMITRI a fim de que cooperem ativamente
no plano nacional de aumento da produção brasileira de aço;
ESPAÇOc)
Que se impeça a criação de estradas cativas, como ocorreu
com a MBR, no terminal de Sepitiba;
ESPAÇOd)
Tornar obrigatória a reserva de jazidas estratégicas de minérios
bem situadas, para garantir a siderurgia nacional no futuro;
ESPAÇOe)
Impõe-se, de fato, a criação de uma taxa sobre o minério
de ferro e manganês, sobre a exportação, a exemplo da de
combustíveis e lubrificantes, gravando-a com a finalidade de se assegurar
a sua industrialização e maiores benefícios aos estados
produtores.
ESPAÇOTudo
isto seria o primeiro grande passo para a implantação da tão
almejada política integrada de mineração e de siderurgia.
ESPAÇOIsto
posto, passamos a examinar as atividades da MBR em Minas Gerais e, de
maneira especial, na Serra do Curral.
ESPAÇOO
Dr. Afonso Paulino, em seu depoimento, afirmou que, em suma, a execução
do chamado “Projeto de Águas Claras”, realizado pelo grupo
Hanna, sob o nome de Mineradoras Brasileiras Reunidas”, trouxe as seguintes
conseqüências que denominou de desastrosas:
ESPAÇOa)
Poluição das águas e destruição das nascentes
que abastecem grande parte da população da grande BH e, naturalmente,
as cidades de Nova Lima e Raposos;
ESPAÇOb)
Destruição da Mata do Jambreiro, única reserva natural
num raio de 200 Km em torno de Belo Horizonte.
ESPAÇOc)
Destruição da barreira natural de montanha, que garantia a Belo
Horizonte um excelente clima (seco e frio);
ESPAÇOd)
Extinção do Vera Cruz, para que a RFF pudesse cumprir o contrato
de transporte de minério de ferro celebrado com a MBR;
ESPAÇOe)
O contrato entre a MBR e a Ferrobel, prejudicial aos interesses desta e, em
conseqüência, aos interesses da capital;
ESPAÇOf)
Destruição da fauna na Mata do Jambreiro.
ESPAÇOIsto
sem falar nas constantes explosões de dinamite, provadas e comprovadas
por fotografias por ele anexadas.
ESPAÇOExaminemos
todos estes itens à luz dos documentos anexados e dos depoimentos tomados,
pois que estes, em resumo, seriam os prejuízos, sem se falar no maior
deles, qual seja o de se fazer um projeto basicamente de exportação
de minérios, que as atividades da MBR estariam provocando em Minas Gerais.
Movimento Capão
Xavier VIVO
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