Dossiê

Para Leitura do ministro patrus ananias e de pessoas interessadas em defender os mananciais de Belo horizonte

SOS: Mananciais Ameaçados

A luta histórica pela água em Belo Horizonte está ameaçada de um grande revés. A chamada Parceria Público-Privada acaba de ultrapassar o limite do bom senso. Não há nada que justifique o Público a serviço do interesse privado contra o patrimônio da coletividade. Em nome da arrecadação de impostos e de um desenvolvimento vesgo, o Estado, amparado pelo descaso da Prefeitura de Belo Horizonte e da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), e pela cumplicidade ativa da Prefeitura de Nova Lima, está licenciando o Projeto Capão Xavier, de mineração de ferro, junto a importantes mananciais de abastecimento de água de Belo Horizonte.  

Os mananciais dos ribeirões Mutuca e Fechos que alimentam o Sistema Morro Redondo da Copasa, responsável pelo abastecimento de boa parte da zona Sul de Belo Horizonte, e os mananciais dos ribeirões Catarina e Barreiro, fornecedores de água para a região do Barreiro e condomínios de Brumadinho (ver, abaixo, sistemas Morro Redondo e Catarina) serão fortemente afetados pela Mina de Capão Xavier, caso a mesma venha a ser implementada.  

O licenciamento do projeto Capão Xavier contraria vários dispositivos legais, entre eles:  

·      a Lei Estadual no 10.793/1992, que, dispondo “sobre a proteção de mananciais destinados ao abastecimento público”, veda “a instalação, nas bacias de mananciais”, de “atividade extrativa vegetal ou mineral” e outras consideradas poluentes;  

·      o Decreto Estadual 21.372/81 que “define como de interesse especial, para proteção de mananciais, terrenos situados na bacia hidrográfica do Córrego Mutuca”, ficando “declaradas de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural” ali existentes.  

A instalação do Projeto Capão Xavier - mesmo prevendo rebaixar, em média, 20% do volume das águas captadas em Fechos, Mutuca, Catarina e Barreiro (ver tabela...), e propondo extrair minério em um trecho da APE Mutuca (ver mapa 1) - está sendo licenciada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, de Minas Gerais.  

Para além do rebaixamento previsto, não se deve esquecer da possibilidade de acidentes que venham a comprometer irremediavelmente as condições para o fornecimento destas águas. Casos relacionados a atividades da MBR estão registrados em boletins de ocorrência feitos por órgãos ambientais e do patrimônio cultural, a exemplo do desmoronamento de trecho da Serra do Curral onde se situava o marco no 4, do tombamento federal, soterrado e desaparecido, e o deslizamento da Grota Fria/Mina de Tamanduá, em janeiro/fevereiro de 2000, nas proximidades do Condomínio Morro do Chapéu, com assoreamento dos ribeirões Grota Fria, Marumbé e Macacos, e suspensão provisória da captação do Sistema Rio das Velhas, pela alça esquerda de Bela Fama.  

Como uma autêntica operação de guerra, o Estado e a Prefeitura de Belo Horizonte vêm tomando decisões, com amparo legal duvidoso, que favorecem o interesse da MBR. A Prefeitura, sem a devida autorização da Câmara Municipal (conforme prevê a Lei Orgânica, artigo 83), concedeu a passagem de uma estrada para transporte de minério dentro de área (bem de domínio público)  de propriedade do Município de Belo Horizonte, desapropriada para a devida proteção do manancial do ribeirão da Mutuca. O Governo do Estado concedeu Licença de Instalação (LI) para a referida estrada, sem que a mesma tenha sido debatida pelos órgãos colegiados competentes, incluindo a aprovação pela Câmara Municipal de Belo Horizonte, e concedeu LI da Mina, em descumprindo à Lei 10.793/92 e ao Decreto 21.372/81.  

O Governo do Estado tem se recusado a promover Audiência Pública com os Usuários da Água ameaçada pelo Projeto Capão Xavier - a população de Belo Horizonte, especialmente. Para os burocratas do Poder Executivo, uma Audiência Pública realizada em bairro do Município de Nova Lima, foi suficiente para que os belohorizontinos fossem ouvidos sobre o projeto que põe em risco suas águas. A lei federal 9.433/97, que “institui a política nacional de recursos hídricos”, é, no entanto, bem clara: “a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada” e, além do Poder Público e das comunidades, deve “contar com a participação ... dos usuários”.  

A Prefeitura de Nova Lima – rendida aos interesses econômicos e ao assistencialismo da MBR –tem reivindicado a questão Capão Xavier como de interesse exclusivo de seu Município, agindo, portanto, como se a existência de Nova Lima fosse isolada da Região Metropolitana. A postura contradiz com vários benefícios que a proximidade com Belo Horizonte vem propiciando ao município, tais como a valorização de empreendimentos imobiliários, de iniciativas industriais, comerciais e educacionais sustentadas, em grande parte, pelas condições de consumo e de fornecimento de mão-de-obra qualificada provenientes de Belo Horizonte. A capital também oferece grande parte dos empregos dos filhos de Nova Lima. A administração de Nova Lima resiste há anos em fazer valer um Plano Diretor que compatibilize o desenvolvimento territorial e urbano daquela cidade com a realidade e as premissas intermunicipais e regionais imprescindíveis a uma região metropolitana. Sem planejamento e regras objetivas de desenvolvimento, o município de Nova Lima é uma subsidiária dos interesses da MBR e de outras mineradoras, com grande patrimônio imobiliário em sua jurisdição.  

No momento de tripudiar sobre as águas consumidas por centenas de milhares de pessoas e de empresas instaladas em Belo Horizonte, prevalecem os interesses da MBR, os royalties de Nova Lima e do governo Estadual e os interesses políticos dos que se querem provar aptos a governar, empenhando o patrimônio comum do povo, a água, para deleite de aspirações privadas conflitantes com a boa administração dos interesses da coletividade.  

Os precedentes que estão sendo criados, ao se atropelar leis e princípios, como o domínio público das águas, poderá abrir caminho para que a água, bem de uso comum do povo, e o Estado de Direito sejam subordinados a interesses estranhos ou pouco comprometidos com a ordem democrática e o meio ambiente equilibrado, patrimônio coletivo das presentes e futuras gerações.  

O COPAM, Conselho de Política Ambiental do Estado, negligencia na questão, ao delegar à sua Câmara de Atividades Minerarias (CMI), a prerrogativa de deliberar sobre projeto tão arriscado para a preservação dos mananciais de abastecimento público. Na realidade, ao se analisar a composição e coordenação da CMI-COPAM, percebe-se que o lobby minerador, assumiu as rédeas da política ambiental para atividades de mineração em Minas Gerais. A Câmara (ver a composição das câmaras no site www.feam.br) é presidida pelo Secretário de Desenvolvimento Minero-Metalúrgico do Governo de Minas (sub-secretário da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, comandada por, Wilson Brumer, executivo com passagem pela presidência da Cia. Vale do Rio Doce e pela presidência de conselhos de administração como o da Paranapanema).  

Têm também assento, na CMI-COPAM, um representante do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), um representante do Sindicato dos Geólogos e outro, do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) – este último, na qualidade de “representante” da sociedade civil. Além destes, os demais representantes – do Estado, de Municípios (curiosamente “mineradores”) e da “sociedade civil” –, ao que tudo indica, são teleguiados pelos primeiros, e pelos interesses discutíveis do aparato estatal e do governo de Minas.  

O Projeto Capão Xavier prevê a manutenção de 295 empregos pelos próximos 20 anos. Mas o que significa isso, comparado às cerca de 300 mil bocas que diuturnamente matam sua sede e necessidades higiênicas com o patrocínio das águas dos sistemas Morro Redondo, Catarina e Barreiro, a serem impactados pela Mineração em licenciamento? Quantos braços e quanto da economia popular não foi dispendida para construir estes sistemas de abastecimento de água de Belo Horizonte e Região Metropolitana? Quanto do progresso de Belo Horizonte e região, seus empregos e atividades empresariais foram e são possibilitados pelas valiosas águas dos ribeirões Mutuca, Fechos, Catarina e Barreiro, para que se negligencie agora, com a preservação deste patrimônio coletivo? Lembre-se que parcela substantiva da zona industrial do Barreiro foi viabilizada com águas provenientes do Ribeirão Catarina, e que a expansão da Zona Sul de Belo Horizonte – área que concentra dois dos maiores aglomerados populacionais (Serra e Santa Lúcia/Papagaio), porção significativa da classe média e intensas atividades de comércio e serviços – se deveu em grande parte ao abastecimento, desde o final dos anos 40, com águas provenientes dos ribeirões Mutuca e Fechos.

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